Mundo de ficçãoIniciar sessão— Eu te vendi. — Ele deu de ombros, com aquele mesmo sorriso cínico que ela sempre odiara. — Virgens como você valem ouro. E o seu corpo lindo vai me render um bom negócio hoje.
Ela tentou se levantar, mas o corpo não respondeu. Cada músculo parecia morto. As lágrimas começaram a cair sozinhas, queimando-lhe a pele.
— Mathias… por quê…? — A voz saiu falha, trêmula de pânico.
Ele se inclinou, aproximando o rosto do ouvido dela, o hálito quente e agora repulsivo a fazendo estremecer.
— Porque o amor não paga dívidas. Até nunca mais, meu bem. — A voz dele foi a última coisa que ela ouviu antes que a porta se fechasse.
O som seco da madeira ecoou dentro dela como uma sentença.
Ainda lembrava do instante em que seus olhos pesavam, mas sua mente gritava para não dormir. As luzes se dissolviam, borradas, e o ar parecia grosso demais para respirar.
Ouviu vozes. Homens. Risos baixos. Do lado de fora, e alguns ruídos estranhos — como se coisas estivessem caindo. Ela não sabia o que acontecia lá fora; sua cabeça era uma confusão, tentando suportar o efeito da droga que ele lhe dera.
O corpo não obedecia, mas o pânico estava inteiro, pulsando, desesperado para arrancá-la dali.
— É esse o quarto? — perguntou uma voz masculina, fria.
— Sim. — A resposta veio curta.Então a primeira voz soou novamente, baixa, grave, arrastada — e atravessou a pele dela como farpas.
— Linda... foi mesmo um bom negócio.
Sentiu passos se aproximando. O colchão afundou sob um peso. O coração dela batia fora de compasso. Queria gritar, mas só o silêncio escapava da garganta. Os olhos estavam pesados demais, e ainda assim ela lutava para ver quem era — mas tudo era um borrão quando o rosto dele se inclinou na direção do seu.
Tudo o que restava era a consciência — essa maldita consciência — sentindo o ar quente roçar-lhe a pele, a respiração dele descendo do rosto até entre os seios. Achou sentir os lábios dele tocarem ali, e o medo se tornou algo vivo, sufocante.
Aquilo ia mesmo acontecer? Seria abusada e nem sequer lembraria ou saberia por quem?Uma lágrima solitária escorreu antes que a escuridão a devorasse de vez.
Quando voltou a si, a cabeça latejava. A luz fraca do quarto era um corte branco atravessando suas têmporas. Ainda estava no mesmo lugar.
Seu corpo inteiro tremia.
Instintivamente, agarrou a barra curta do vestido, puxando-o para baixo, tentando esconder o que ele insistia em mostrar. O tecido ainda estava inteiro. Nenhum rasgo. Nenhum sinal. Nenhuma marca. As peças, o sapato… tudo no lugar. Parecia que não havia sido tocada, mas, a cada análise que fazia de si mesma, o pavor não diminuía.
Sentou-se devagar. Foi então que o viu — ainda tonta, com a cabeça girando. Um homem.
Estava sentado em uma poltrona, os braços fortes cruzados, os músculos tensos sob o tecido da camisa de mangas dobradas. Aquela imagem a fez arregalar os olhos. Pulou para trás, o coração disparado.
A pistola repousava em sua mão como uma extensão natural do corpo. Ele não parecia relaxado — parecia à espreita, como um predador pronto para matar o primeiro que se movesse.Os olhos dele encontraram os dela. Eram duros, sem humor, e uma sobrancelha arqueada lhe dava um ar de julgamento… ou de sentença.
Ela analisou a expressão dele por um momento, sem conseguir formar palavras. Havia manchas de sangue na camisa, o que só intensificava o sinal de perigo que sua mente gritava. Mesmo assim, ele era absurdamente bonito… e familiar. Mas ela nunca o vira antes.
— Ora essa... ela já acordou... — A voz arrastada soou carregada de tédio, enquanto ele balançava a arma como se quisesse intimidá-la. O timbre, porém, a fez congelar.
Aquela voz. A mesma que dissera que ela fora um bom negócio. A mesma respiração quente que sentira sobre a pele. Um arrepio percorreu-lhe a espinha.A barba sombreava-lhe o rosto, o maxilar firme parecia esculpido em raiva, e havia um cansaço sombrio em seu olhar. Mesmo exausto, ele emanava uma força que a fez estremecer. Era óbvio que não era alguém com quem devesse discutir. Mas o que poderia fazer agora?
Engoliu em seco, tentando se recompor. Cruzou os braços sobre o peito, tentando esconder o decote indecente do vestido ridículo.
Não havia lençóis. Não havia coberta. Só ela — desprotegida — e ele, imóvel, como uma fera observando a presa.— V-você... fez alguma coisa comigo? — A voz dela falhou miseravelmente.
Ele soltou um som breve, quase um riso abafado, e bufou, como se a pergunta fosse uma piada patética.
Sem responder, descruzou os braços com lentidão, ergueu o queixo e lançou-lhe um sorriso torto, carregado de deboche.O coração dela martelava alto, preenchendo o silêncio.
A garganta ardia, mas, mesmo assim, ela se arriscou a falar de novo:— Foi... foi a você que venderam a minha virgindade? — a voz saiu trêmula, quebrada. — Já que parece que não fez nada... então eu não sei...
O sorriso dele se alargou, preguiçoso, quase perverso.
— E se foi?
— Mas... você não fez nada, certo? — ela insistiu, agarrando-se a um fiapo de esperança.
— Que graça teria te pegar enquanto está dormindo? — respondeu ele, movendo-se devagar, ajeitando o corpo na poltrona. — Mas agora que está acordada... o que acha? Acha mesmo que vai escapar?
O chão pareceu sumir sob os pés dela.
Um vazio gelado tomou conta de seu corpo.Tentou descer da cama, mas tropeçou nos próprios joelhos e caiu. O som do impacto ecoou alto demais, como se tivesse despencado de uma altura. Sentiu-se patética. Por que suas pernas estavam dormentes? Na verdade, até os braços e as mãos. Tinha certeza de que era o efeito da droga que aquele desgraçado lhe dera.
Ergueu o rosto, encarando-o por trás da cama, mostrando apenas a cabeça — uma imagem ridícula e humilhante. Ele não se moveu, nem mesmo um músculo, como se soubesse que ela não poderia fugir.
— Por que está tentando fugir? — a voz dele soou fria, carregada de ameaça. — É melhor voltar e se deitar exatamente onde estava. Quero fazer valer o preço que paguei.
— P-por favor... — ela engasgou em meio a soluços. — Eu... eu faço qualquer coisa. Um favor, um pedido, um acordo com você. Qualquer coisa. Mas não me toca, isso não...
Ele se recostou, saboreando o desespero dela. A pistola girou lentamente entre seus dedos.
— Um acordo? — murmurou, divertido. — Eu estava justamente esperando você acordar pra brincar de todas as formas. Não sei se existe acordo melhor que esse. Seu corpo já é o acordo. Por isso, não vou negociar nada com uma pobre coitada.
Ela abaixou a cabeça, as mãos apoiadas sobre o carpete, os olhos fechados com força.
As lágrimas caíam em cascata, encharcando-lhe as mãos. O medo tinha gosto metálico em sua boca — até que, de repente, ergueu o rosto com uma ideia desesperada brilhando nos olhos.— Eu pago! Pago o que te cobraram por mim. Pago tudo. Mas, por favor... só me dá uma chance...
Um brilho zombeteiro cruzou o olhar dele.
— Você está me propondo um acordo de rescisão, é isso? — a voz grave arrastava cada sílaba, como se a testasse.
— Sim! — ela gritou, desesperada. — Pago o valor. O que te cobraram, eu devolvo. Quanto foi?
Ele inclinou-se para frente, o olhar frio e cortante. Sem humor, respondeu:
— Duzentos.
Um fio de esperança a atravessou. Sorriu trêmula, as mãos suadas. Sabia que não valia tanto assim... e, ainda assim, sentiu-se ofendida.
— Duzentos dólares... eu consigo.
Ele fez um som impaciente, clicando a língua.
— Tsk. Você é mesmo patética. Acha que uma virgindade se compra em promoção de feira? — O olhar dele a despia de qualquer dignidade, cheio de desprezo. — Você não faz ideia de onde está enfiada, não é?
O estômago dela revirou.
Ele se recostou novamente, o sorriso voltando — cruel, preguiçoso.
— Foram duzentos mil. — disse, num tom tão calmo que doeu mais do que qualquer grito. — Sua pureza valeu isso. E sinceramente, esse valor ainda é preço de banana. Afinal... seu namorado deve te odiar muito pra te vender por uma mixaria.
O ar saiu de seus pulmões de uma vez.
O sorriso morreu em seu rosto. Tudo dentro dela se apagou.— Então? — ele perguntou, com a voz baixa e intimidadora. — Vai pagar esse valor?







