O Dia Seguinte

O sol já estava alto quando ele acordou. A luz suave da manhã entrava pelas janelas do quarto do hotel, mas o conforto parecia distante. Sua mente ainda estava ocupada com a noite anterior. O olhar dela, a calmaria, a simplicidade com que lidou com tudo… aquilo continuava rondando seus pensamentos.

Levantou-se, tomou um banho rápido e se vestiu. Ainda assim, algo o incomodava. A cena no jardim de inverno, o sorriso dela — tudo permanecia vívido em sua memória. Algo dentro dele havia mudado. Aquela mulher, tão tranquila e distante da agitação de sua vida de celebridade, carregava algo que ele não conseguia explicar. E, o mais curioso: sentia uma vontade inexplicável de entender melhor esse "algo".

Sem saber exatamente por onde começar, desceu até a recepção. Michael, seu agente, havia deixado uma mensagem pedindo que confirmasse a agenda do dia, mas ele a ignorou. O gerente do hotel, como sempre, estava por ali, tentando manter a compostura diante do vai-e-vem dos hóspedes. Ao vê-lo, sorriu cordialmente, mas sua expressão logo se tornou mais cautelosa ao notar o olhar intenso e pensativo do hóspede.

— Bom dia, senhor — cumprimentou, com um tom formal, mas curioso. — Como posso ajudá-lo?

Ele respirou fundo e, com a mesma sinceridade que guiava seus pensamentos, perguntou:

— Queria saber mais sobre o refúgio para animais que fica perto daqui... Onde é? É aberto para visitas? Como posso ir até lá?

O gerente o olhou com surpresa, mas antes que pudesse responder, ele continuou:

— Eu gostaria de conhecer. Preciso saber mais sobre o trabalho deles.

O homem sorriu, surpreso, mas solícito:

— Ah, o refúgio! Fica a uns vinte minutos daqui. Eles recebem visitantes, sim, e aceitam agendamentos. Vou te passar as informações.

Ele assentiu, sentindo-se estranhamente aliviado. Recebeu o folheto com o endereço e os dados de contato.

— Obrigado. Eu... realmente preciso ver isso.

No instante em que estava prestes a sair, o celular vibrou. Era Michael.

— Senhor, tem um ensaio de fotos agendado para hoje. Posso confirmar os detalhes e te mando a agenda...

Ele olhou pela janela. Por um instante, apenas o silêncio respondeu. Então, com a voz firme:

— Cancele o ensaio. Quero dar uma volta. Nada de compromissos hoje.

Uma pausa do outro lado.

— Tudo bem, senhor. Reorganizo sua agenda. Nos falamos mais tarde.

Desligou o telefone e o guardou no bolso. A decisão estava tomada. O peso da rotina intensa, dos compromissos, da constante pressão… começava a se dissolver. Algo dentro dele pedia por simplicidade. E ele sentia que isso estava no refúgio.

Pegou o carro e dirigiu por estradas cada vez mais silenciosas. Quando chegou, o cenário era outro mundo. Nada de câmeras, nem flashes — apenas o som dos pássaros e o vento entre as árvores.

Permaneceu alguns minutos dentro do carro, observando. O refúgio era amplo, com trilhas e áreas abertas. Havia risos ao longe, mas tudo parecia leve, natural. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu paz.

Ao caminhar até a entrada, foi logo reconhecido.

— É ele? — sussurrou uma adolescente, puxando a amiga pelo braço.

— Eu acho que é sim...! Meu Deus, é o Luke Bennett!

Com um sorriso educado, apenas acenou. Estava acostumado com o burburinho. Uma guia se aproximou, um pouco nervosa, mas profissional.

— Sr. Bennett, seja muito bem-vindo. Podemos oferecer uma visita personalizada, se quiser mais privacidade.

— Seria ótimo, obrigado. Só quero relaxar um pouco, dar uma volta.

Ela o acompanhou até o prédio principal, explicando o funcionamento das visitas.

— Espere só um momento, vou chamar alguém para acompanhá-lo. Pode sentar ali ou, se quiser explorar por conta própria...

— Acho que vou dar uma volta — respondeu, colocando os óculos escuros com um leve sorriso.

Guiado pela curiosidade, afastou-se discretamente do prédio principal, seguindo o som de vozes. Aproximou-se da área dos mamíferos e encontrou um pequeno grupo reunido em frente a um cercado. Crianças encantadas, celulares erguidos, sorrisos.

No centro de tudo, uma pequena onça-pintada de pelagem dourada e pintas bem marcadas corria brincando com um pano. Jovem, mas de porte impressionante, observava tudo com olhos vivos e atentos.

Então, ele a viu.

Ela estava ajoelhada no chão, interagindo com o filhote. O cabelo preso de forma despretensiosa, as mãos sujas de terra, mas o olhar... o olhar tinha uma serenidade luminosa. Ela acariciava o pescoço da onça com delicadeza enquanto explicava aos visitantes:

— Esse é o Juruá. Ele foi resgatado depois que a mãe foi encontrada ferida em uma fazenda. Por sorte, conseguimos trazê-lo a tempo. Agora está crescendo forte e saudável aqui com a gente.

O filhote subiu com as patas no colo dela, ronronando. Ela riu, acariciando a cabeça do animal, alheia ao fato de que estava sendo observada.

Mas ele não conseguia desviar o olhar.

Não era o animal que o prendia — era ela. Era a forma como ela cuidava, como se doasse algo de si sem esperar nada em troca. Havia uma força calma ali, um amor silencioso e presente.

Os olhos de ambos se cruzaram. Ela sorriu, educada, sem reconhecê-lo. E isso o surpreendeu ainda mais.

Pouco depois, um dos guias se aproximou dela. Trocaram algumas palavras; ele gesticulava em direção ao prédio principal. Ela assentiu, se levantou e limpou as mãos na calça do uniforme antes de dar um último carinho no filhote.

O mesmo guia se dirigiu a ele.

— Senhor, se puder me acompanhar... A vice-presidência já está ciente da sua presença. Podemos ir até o escritório, onde poderá agendar sua visita.

Ele lançou um último olhar ao cercado, onde o filhote agora se deitava, e seguiu em silêncio.

No escritório, esperou em uma sala ampla, decorada com fotos de animais resgatados. As vozes no corredor, abafadas pela porta entreaberta, interromperam o silêncio.

— Nós não somos babás de celebridades. Se ele queria um tour, deveria ter agendado como qualquer outra pessoa — disse uma voz feminina, firme.

— Mas senhora, ele já está aqui... e está promovendo o novo filme. Imagine a visibilidade que isso traria ao refúgio — respondeu o guia, em tom mais contido.

Houve um suspiro impaciente e o som de uma porta se abrindo. Poucos segundos depois, o guia entrou na sala.

— Desculpe a demora, senhor. Por aqui, por favor.

Ele se levantou, acompanhando-o até uma nova sala. Quando entrou, viu-a de costas, ajeitando o boné sobre os cabelos. O jaleco ainda carregava marcas de terra, e o ambiente tinha aquele cheiro misto de mato e produtos de limpeza.

Ela se virou devagar.

Jade Deschamps.

Presidente do refúgio. Firme, apaixonada, teimosa. Os olhos dela o reconheceram, mas a expressão permaneceu profissional.

— Então... o senhor gostaria de agendar uma visita? — disse com a voz neutra.

Ele sorriu de canto, os olhos fixos nela com um brilho divertido.

— Na verdade... eu gostaria de uma babá de celebridade.

Ela fechou os olhos por um segundo, sentindo o rosto esquentar. Depois, soltou um riso breve, sem jeito.

— Não era pra você ter escutado isso...

— Mas escutei — ele respondeu, ainda sorrindo.

Ela respirou fundo, tentando se recompor, mas o sorriso insistia nos lábios.

— O refúgio está um pouco cheio hoje. Se quiser esperar até o fim do dia... o pôr do sol por aqui é bonito. E também tem menos gente.

— Me parece uma excelente sugestão — disse, mantendo o ar brincalhão. — Desde que minha babá esteja por perto.

Ela cruzou os braços, o encarando com um sorriso controlado.

— Posso considerar isso. Mas só se você prometer não assustar os filhotes.

— Prometo me comportar. — Ele fez um gesto teatral, a mão no peito, como quem faz um juramento.

Mais tarde, ela descia as escadas devagar, o coração acelerado por uma mistura estranha de nervosismo e expectativa. O refúgio estava movimentado, os sons da natureza se misturando às vozes dos visitantes.

Ao vê-lo, sentiu-se surpresa. Ele estava ali, famoso, mas tão distante da imagem dos filmes. Havia algo real nele. Algo que a desarmava.

Ela balançou a cabeça, rendida a um sorriso verdadeiro dessa vez.

Ele caminhava devagar pela área aberta do refúgio, aguardando pela visita prometida. O sol da tarde atravessava as copas das árvores, espalhando sombras suaves pelo caminho. Crianças corriam, rindo alto, apontando para as araras coloridas nos galhos.

— Olha, mãe! É o moço do filme dos dinossauros! — gritou uma criança, empolgada.

Ele sorriu, se agachou para tirar uma foto com o grupo, e uma menininha de trancinhas coloridas estende um desenho que ela mesma havia feito.

É você! — ela diz, apontando para o papel. — E tem uma onça do seu lado. Eu fiz porque você tá no filme, mas agora você tá aqui de verdade.

Ele segura o desenho com cuidado, como se fosse um presente raro. Sorri com sinceridade.

É o melhor retrato que já recebi.

A garotinha ri, tímida, e corre de volta para a mãe. Ele guarda o desenho no bolso da jaqueta, ainda surpreso com a pureza daquele gesto.

Alguns metros adiante, Jade o observa de longe. Do outro lado, em uma sacada lateral que dá vista para aquela parte do refúgio, encostada na grade de ferro. Uma brisa leve balança os fios loiros que escaparam do boné, e seus olhos seguem os passos do ator, mais com curiosidade analítica do que encantamento.

“O que um astro da magnitude dele estaria fazendo aqui? Sozinho... e tão interessado.” — pensa, franzindo levemente a testa.

Um colega passa apressado por perto, e ela se afasta da grade. Ainda assim, lança uma última olhada antes de entrar no prédio principal.

Enquanto isso, ele se aproxima de um cercado onde um tamanduá-bandeira caminha tranquilamente. Um voluntário explica algo para os visitantes, e ele escuta com atenção, de braços cruzados, como se quisesse absorver cada detalhe.

Seu celular vibra. Uma ligação do agente. Ele atende sem desviar os olhos do animal.

— “Você sumiu, cara! Os paparazzi já descobriram onde você está. Quer mesmo que eu diga que você está... num santuário de animais?”

— “Diz que é um retiro espiritual. Vai parecer mais glamouroso.” — ele responde, rindo.

— “Você tá brincando?”

— “Talvez um pouco.”

Ele desliga. Olha ao redor mais uma vez.

“É... talvez eu esteja exatamente onde devia estar hoje.”

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