Flávia
Depois que Ricardo contou que havia dado carona para a nova assistente, eu fiquei chateada.
Bem chateada, na verdade.
Mas, pensando bem, acho que o incômodo não era exatamente pela carona em si.
Era pelo fato de eles já estarem trabalhando juntos há algum tempo e eu não saber.
Era por ela ser bonita — bonita do tipo que sempre fez parte do passado dele.
Era por ele estar chegando tarde quase todos os dias.
Por um conjunto de pequenas coisas que, somadas, começaram a me apertar o peito.
Analisei o rosto dele, o tom da voz, tentei até sentir algum cheiro diferente em suas roupas, mas nada.
Nada que indicasse algo errado.
Então, tentei me convencer de que era só paranoia.
Era isso que eu repetia mentalmente: você está pensando demais, Flávia.
O final de semana foi arrastado, cinza como o céu lá fora.
Fizemos o possível para manter as aparências diante de Caio — brincamos, assistimos filmes, cozinhamos juntos —, mas quando estávamos a sós, o clima mudava.
O silêncio entre nós era p