O inferno não recebe visitantes; ele os reclama.
Por isso, quando o lobisomem atravessa novamente seus portões de fogo — ou o que os humanos chamariam de portões, embora ali nada tenha forma estável — a chegada não é silenciosa. As chamas se curvam, os ventos ululam, e as sombras, como velhos servos famintos, se enroscam em suas pernas bestiais.
Mas o lobisomem não volta sozinho.
À sua volta, a carne se desdobra, os ossos se multiplicam, as peles se rasgam para revelar outras peles. Ele se divide, não como um ser que se multiplica, mas como uma maldição que se espalha. De um único monstro, surgem vários — irmãos de podridão, membros de uma mesma linhagem condenada, todos eles moldados da mesma noite eterna.
Assim que recuperam suas formas infernais, rompem em risos — mas risos secos, dilacerados, que ecoam como unhas arranhando dezenas de portas trancadas. Eles gargalham da dor que causaram, das vísceras espalhadas, do sangue que ainda escorre de suas presas afiadas.
— Eu avisei, — d