Escrever esta parte da história foi como caminhar por um corredor onde a luz e a sombra disputam cada centímetro de chão.
O mito do lobisomem sempre nos fascinou, mas aqui ele não veste apenas pele e garras — ele carrega culpas ancestrais, karmas esquecidos, ecos de vidas passadas, e a eterna pergunta que tentamos evitar:
o que fazemos com o mal que herdamos e o mal que produzimos?Este capítulo fala de algo que muitos preferem não olhar: a sombra humana.
Aquela que não nasce do sobrenatural, mas das escolhas diárias, dos ódios antigos, dos abusos repetidos, da violência que se multiplica como praga.
A criatura que aqui aparece não é apenas um monstro — é uma consequência.
É o reflexo do que insistimos em não aprender.
Enquanto escrevia, percebi que o lobisomem desta história não veio para assustar inocentes; ele veio para colocar diante de alguns a própria escuridão que eles espalharam pelo mundo.
E, ao mesmo tempo, ele expõe outra verdade:
ninguém permanece estagnado para sempre.
Nem na luz.
Nem na sombra.
A mediunidade presente na trama é uma ponte, não uma resposta.
Ela questiona.
Ela revela aos sensíveis o que muitos preferem negar: que o invisível tem suas regras, e que não se brinca com aquilo que não se entende.
Os médiuns da história enxergam o que os outros não veem — não por serem privilegiados, mas por carregarem a responsabilidade de compreender onde termina o medo e onde começa a missão.
Aqui, Silvânia e sua família se encontram aprisionados num ciclo espiritual que ultrapassa o corpo e o tempo.
A punição não é apenas deles — é daqueles que os fizeram chegar até ali.
E cada ataque, cada transformação, cada rosto que a criatura assume, é um convite, às vezes brutal, para que alguém finalmente desperte.
Se esta parte da história te causou incômodo, inquietação, curiosidade ou estranhamento, então ela cumpriu sua função.
Nem todo capítulo nasce para confortar.
Alguns nascem para cutucar o que dorme dentro de nós.
Obrigada por caminhar comigo até aqui.
Ainda há muito a ser revelado — e algumas verdades só podem ser contadas à luz da próxima lua cheia.
— Andreia M. de Mello Murbach