Se eu te contasse que todas as histórias de reinos e princesas que você ouviu na infância são verdadeiros, você acreditaria? E pior, se soubesse que uma terrível bruxa que tanto fez mal a uma bondosa donzela se arrependeu de seus erros e tentou se redimir, você ouviria a versão dela? Perséfone cresceu lendo histórias de belas garotas com vestidos longos e coroas, que se casaram com príncipes após muitas provações. Mas apesar de ter passado por vários momentos ruins, ela nunca viu uma abóbora se transformar em carruagem ou algo mágico acontecer consigo. Ao contrário, sua vida sempre fora repleta de infortúnios. Cheia de ideias de vingança, ao lado de sua fiel escudeira, Berth, Perséfone se mete em confusões que a transformam em uma criminosa exilada do reino, e, após dias vagueando por uma floresta assombrada, encontra um refúgio um tanto estranho e caótico: uma sociedade secreta formada pelos vilões dos contos de fadas. Mas será que aquelas pessoas malvadas contavam mesmo a verdade? E se Perséfone estivesse arrependida, ela merecia o perdão?
Ler maisOlá, caro leitor. Antes de começarmos, permita-me que me apresente.
Eu me chamo Berth, e não, eu não sou a protagonista nem a antagonista do livro, só acompanhei uma delas bem de perto.
A história que tenho para contar a você hoje, não é a de uma heroína ou uma princesa; é a de uma vilã, uma bruxa. Mas ela não é uma vilã convencional como você está pensando, porque ela realmente se arrependeu e até tentou consertar seus erros.
Perséfone sempre foi muito complicada, mas se você analisar bem o caminho tortuoso e incerto dela por essas páginas, vai perceber que ela não é de fato uma pessoa ruim. Talvez só tenha, como todos nós, tomado decisões erradas em situações mais erradas ainda. E acredite, ela não é a única vilã que passou por isso. Conhecemos outras com o mesmo problema.
Acho que o que diferencia Perséfone dos outros vilões é que ela é mais parecida comigo. O que isso tem a ver? Bom, eu sou a narradora. Sou a personagem secundária e por muitas vezes não tenho importância nenhuma nessa história. E ela era assim.
No nosso reino, Perséfone era a garota que não ia aos bailes porque ficava em casa estudando ou trabalhando na farmácia do pai, que é boticário. Ela não tinha uma presença forte nos lugares que ia, seu círculo social era muito pequeno e não possuía aptidão para coisas elegantes como dança, canto e pintura. Perséfone não tinha consigo as características de uma mocinha dos contos de fadas.
Ela não era órfã.
Não sabia cantar, os animais a odiavam.
Não era espetacularmente bonita para chamar a atenção de um príncipe.
Era antissocial, passava seus dias com a cara enfiada em livros, devorando cópias e mais cópias de qualquer romance barato que o senhor Blunt colocasse em liquidação, mas mesmo assim nunca se envolvia em nenhum relacionamento. E ela tinha muito, muito asco de gatos.
Mas não se engane, ela também não possuía muitas características para ser a vilã, ao meu ver.
Não odiava ninguém em especial, sua raiva era distribuída igualmente entre todas as pessoas.
Não queria se vingar de ninguém. (Inicialmente)
Apesar de sofrer com um certo complexo de inferioridade, não descontava suas próprias frustrações nas pessoas.
Ela era Perséfone, a filha do boticário. Não era ninguém.
Até hoje não consigo entender como chegamos a esse ponto. Mas assim como Dom Quixote sempre tivera seu fiel escudeiro Sancho Pança o acompanhando em suas aventuras, Perséfone teve a mim. E como sua fiel escudeira fico feliz em falar sobre o que ela viveu para que talvez você entenda e a desculpe.
Bem, finalizando, espero que aprecie a história de Perséfone; que compreenda os motivos dela e não a julgue. Lembre-se, o mundo não é dividido entre pessoas boas e más, apenas entre pessoas com problemas e que passaram por muita coisa.
E não se incomode se eu aparecer algumas vezes, ou todas as vezes. Não é a minha história, mas eu estava lá. E no final, fui a única pessoa que apoiou Perséfone até o fim.
Sua fiel escudeira, Berth.
Bom, já que Berth começou essa história falando sobre mim, nada mais justo do que eu terminá-la falando sobre ela.Hoje é o dia da coroação de Berth, princesa de Artémise. E nesse ponto você já deve ter entendido que a mocinha da história nunca foi Amália nem Justin, sempre foi ela.Não chamaria isto de conto de fadas oficial, pois os papéis se inverteram. A heroína, a personagem secundária e a princesa eram Berth, a melhor amiga da vilãDepois do pedido de Annethy, Berth chorou por quase trinta minutos, falou coisas desconexas e incoerentes com a realidade e cantou uma música sobre sonhos e superação. Ela disse que se
— Lembra quando nos conhecemos? Procuramos por um velho lá na feira para devolver a carteira, e Aristóteles invadiu minha mente. Foi horrível.— Lembro, eu odiava você.— A mulher disse que eu poderia fazer uma pergunta ao Aristóteles, e eu perguntei qual era o segredo da vida.— Que idiota! Eu teria simplesmente perguntado como ficar rica.— Ele me torturou, me chamou de feia, e disse que a dor que eu sentia, de quebrar os ossos, era o peso da resposta.— E então, qual era o segredo da vida, segundo Aristóteles?— O segredo é que
Yuna providenciou um local reservado para Perséfone e o senhor Ernie ficarem a sós e esclarecem tudo que aconteceu. Contei a ela sobre a facilidade da missão, e fiquei satisfeita por ganhar elogios e um certo reconhecimento.— Aposto que a rainha Evelyne já conta com a morte de Perséfone, por isso não se preocupou tanto com a segurança! — comentei.— Você teve sorte por ter encontrado o senhor Ernie em casa e a partícula de sol, mas não pense que acabou.Os boatos sobre nossa façanha já corriam soltos, espalhando-se como um incêndio descontrolado entre os vilões. Drizella abafava as fofocas com ameaças e gritos pelos corredores.
Ernie deu alguns passos pela escada, não tive incertezas quanto a seus sentimentos e o abracei com força. Nós dois começamos a chorar, e quase desmaiei de tanta emoção. Para Perséfone seria mil vezes mais intenso.Ele estava vivo, era o que importava. O plano funcionou.— Está com a minha filha, não é? — A esperança e o desespero em sua voz me encheram de alegria, ele não a odiava.— Estou sim, senhor. Ela me mandou.— Eu sofri tanto, Berth! — Passou as mãos sobre o rosto, e juntos descemos o último lance de escadas. — Pensei que a essa altura minha menina tivesse morrido na floresta maldita. Diga, onde
Uma bela manhã, após muitas especulações e planejamentos, decidimos falar com Yuna. A ajuda dela era imprescindível. Mesmo que a partícula de sol estivesse perdida eternamente, levada de volta ao castelo, Perséfone ainda queria reencontrar o pai. Não viveria sem seu perdão.Fomos à sala dela em um momento de menor movimentação, para não correr o risco de esbarrar com Drizella ou explicar uma desculpa esfarrapada para qualquer um.Para nossa sorte, estava exatamente lá, sorrindo com Aristóteles ronronando em seu colo. Perséfone até fez menção de sair ao deparar-se com a figura do gato, mas a incentivei a ficar. Já havíamos adiado muito mais que o necessário.
— O mais ridículo dessa história maldita é que supostamente minha motivação para destruir tudo foi a inveja por causa de um homem e aparência física.Conforme o esperado, também fui excluída da versão dos bonzinhos. O mais revoltante era a narrativa falha e completamente mentirosa envolvendo Justin. Ele nem mesmo estava presente quando os cavaleiros encurralaram Perséfone, muito menos brandindo uma espada. Aliás, eu sozinha roubei a espada dele. Se existia uma heroína na vida de Amália, essa pessoa sou eu, caso contrário ela teria morrido envenenada pela torta de cereja.Mas claro, ninguém sabia da torta de cereja ou da Berth. Me tornei irrelevante para todos, desinteressante até para fazer parte da cantiga popular
Último capítulo