Mundo ficciónIniciar sesiónOs dias se seguem, e as noites também. Silvânia continua se metendo na vida de todo mundo.
Mesmo estando acordada e circulando pela casa, indo de janela em janela para vigiar os vizinhos, ela nem percebeu que o próprio marido precisava de ajuda.
A vida dela sempre foi fofocar; agora, viúva, será só isso mesmo.
Com a viuvez, Silvânia se torna ainda mais invasiva. Como agora tem o dia e a noite só para si — e vive confortavelmente com a pensão por morte — não precisa trabalhar e se entrega completamente ao hábito de vigiar a vida alheia.
Morando em um sobrado com uma grande janela voltada para a rua e uma sacada espaçosa, ela transforma esses espaços em pontos de observação.
Às segundas-feiras, quando há pouco movimento, os jovens costumam parar em frente aos prédios para namorar. Beijos aqui, abraços ali… e Silvânia assiste tudo de camarote.
Já é duas da manhã quando um casal para em frente ao prédio diante de seu sobrado. Ela observa cada gesto e, quando percebe que os dois estão “quentes”, desce rapidamente, b**e a porta com força — assustando-os — e aparece com um copo d’água. J**a a água no rosto da moça e manda apagar o fogo, dizendo que está sendo observada pelos vizinhos.
Dias depois, outro casal decide namorar ali, desta vez sob a janela de seu quarto. Ela pega um balde no tanque, enche de água e j**a nos dois.
O tempo passa, e apenas atrapalhar casais na calçada deixa de ser suficiente. Ela começa a bater nos vidros dos carros onde há gente namorando, só para incomodar.
Além de vigia noturna, torna-se “estraga-prazer” profissional.
Os vizinhos passam a desconfiar de onde vêm os sons, paus e pedras, e alguns já não dão mais atenção. Para provocar, ela liga para as casas em pleno ato íntimo e manda o casal fazer silêncio, dizendo que está ouvindo tudo.
O ódio contra ela cresce. Silvânia se mete em tudo.
Os anos passam. Vizinhos vão e vêm, mas ela sempre encontra um jeito de estragar a alegria alheia.
Há uma família na esquina que ela adora perturbar. O rapaz, Pedro, é peralta, alegre e sonhador.
Pedro é uma boa pessoa, mas não se deixa manipular. Ele corta as tentativas dela, afastando sua mãe e seus familiares da influência nociva da vizinha. Para ele, quem fiscaliza tanto a vida alheia certamente tem algo errado consigo.
A família acha exagero romper com Silvânia, mas, pouco depois, percebe que tudo melhora.
Silvânia passa a odiar Pedro, e ele ri da expressão de desaprovação que ela faz ao vê-lo.







