Mundo ficciónIniciar sesiónÉ então que Silvânia começa a mexer com os bandidos do bairro, observando delitos e delatando alguns. Era questão de tempo até isso dar muito errado.
Ela tem prazer em assustar pessoas, comentar intimidades e entregar vizinhos tanto aos cônjuges quanto às autoridades. Sua alegria é ver briga, tiro, bomba — e os outros tristes, de preferência sozinhos.
Até que, certa noite, um ladrão a vê de robe na rua e, confundindo-a com uma mulher promíscua, tenta agarrá-la e forçá-la ao ato sexual. Silvânia grita tão alto que acorda a vizinhança inteira.
— Eu te encontro. Você me paga.
Algum tempo depois, ele descobre quem ela é: justamente a mulher que delatou um irmão seu, morto no presídio.
Assim, de observadora, Silvânia passa a ser observada.
Querido leitor,
Ao escrever este capítulo, precisei respirar fundo. Silvânia, que até então parecia apenas uma intrometida compulsiva, revela aqui uma face mais amarga: a de alguém que, ao se perder de si mesma, acaba provocando forças que não sabe controlar. É um trecho que me fez pensar muito sobre os limites entre curiosidade, obsessão e destruição — tanto a que fazemos aos outros quanto a que fazemos a nós mesmos.
Este capítulo marca a descida de Silvânia a um tipo de escuridão que nasce não do sobrenatural, mas do humano. Ela mexe onde não deve, cutuca perigos que desconhece e se esconde atrás de uma falsa moralidade que só engana a quem nunca olhou de perto. Para mim, foi doloroso, mas necessário mostrar como a maledicência, quando alimentada diariamente, cria raízes que puxam a alma para lugares onde luz nenhuma entra.
Aqui, Silvânia já ultrapassa o limite entre ser apenas uma vizinha inconveniente e se tornar um imã para tragédias. Sua mania de vigiar, julgar e delatar os outros devolve a ela mesma o pior reflexo possível — porque a vida, mais cedo ou mais tarde, cobra de quem vive para destruir.
Se você ficou desconfortável lendo, saiba que eu também fiquei escrevendo. Mas histórias verdadeiras — ainda que fantásticas — não existem apenas para consolar. Às vezes, elas servem para cutucar, desafiar, sacudir. Silvânia é esse tipo de personagem: uma lembrança viva de que a maldade cotidiana, aquela pequena e quase banal, pode se transformar na pior das condenações.
Obrigada por continuar caminhando por este trecho mais sombrio ao meu lado. Nos próximos capítulos, prometo levar você ainda mais fundo — não para assustar, mas para revelar o que cresce na escuridão quando ninguém olha, vai ser legal, aguarde e confie.
Com sinceridade e coragem,
Andreia M. de Murbach







