Capítulo 177 O Veneno da Memória

Ele…

O caminho até minha casa nunca pareceu tão longo.

A cidade ainda pulsava sua rotina alheia, os faróis passavam como vultos no vidro, e eu não conseguia pensar em mais nada além da mulher encostada no meu carro naquela noite — o reflexo fantasmagórico de um passado que eu enterraria mil vezes se pudesse.

Tânia.

Eu ainda me pego chamando-a como chamava antes de descobrir do que ela era capaz.

Antes de ver o que se escondia atrás daquela boca que sorria com a mesma curva da irmã, mas cuspia veneno por trás dos dentes.

A imagem dela diante de mim, viva, provocativa, debochada — me fazia querer arrancar a pele e começar de novo.

Soltei um suspiro pesado e afrouxei a gravata, ainda no trânsito lento da cidade.

O problema dos fantasmas é que eles nunca voltam como sombras suaves.

Eles voltam com perfume conhecido, com a mesma voz que já nos abraçou um dia… e com o gosto podre daquilo que a gente nunca quis engolir.

Tânia era o pior
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