Meses depois…
Trancada dentro de um quarto isolado de tudo e todos o tempo parece passar devagar, como se cada dia arrastasse consigo uma eternidade. Nos primeiros meses, tudo era medo e silêncio. E eu me perguntava se conseguiria suportar. Se teria forças para manter a esperança viva dentro de mim. Mas a minha barriga começou a crescer e a cada curva nova, o meu corpo me dizia que eu não estava mais sozinha.
— Sua refeição, Senhora. — Ava avisa assim que passa pela porta, fechando-a com chave imediatamente. Afasto-me da janela. Seus olhos vão imediatamente para a minha barriga protuberante de quase oito meses. — Como está se sentindo? — Ela pergunta como se existisse uma resposta diferente dessa vez.
Mas a resposta é sempre a mesma: estou com medo de perder o meu filho.
— Quando o Vittorio voltará de viagem? — inquiro, ignorado o seu questionamento.
— Em quinze dias, Senhora.
Sento-me em uma cadeira próxima de uma pequena mesa redonda com um tampo de vidro de começo a comer. Ava me lança um olhar de pesar.
— Sinto muito por tudo isso, Senhora!
Sentir não me ajuda muito. Penso contrariada. Contudo, tento mais uma vez dissuadi-la.
— Ava, você precisa me ajudar a sair daqui. Por favor! — imploro, olhando dentro dos seus olhos.
— Senhora… eu não posso…
— Será que não ver? Esse tirano vai tirar o meu filho de mim! — Meus olhos se enchem de lágrimas. — Logo que o meu bebê nascer, ele será arrancado dos meus braços sem qualquer piedade.
Ava engole com dificuldade.
— Eu temo que o Senhor Vittorio mate a mim e a minha família por isso, senhora — sibila fraco.
— Me ajude a sair daqui e venha comigo! Vamos fugir juntas desse lugar.
— Por Deus, e ir para onde, senhora? — Ela resfolega em agonia. — Olhe para mim. Sou uma empregada burra que mal sabe ler e você… é uma grávida prestes a dar luz ao seu filho. O Senhor Vittorio nos encontraria em um piscar de olhos. E a maldade desse homem não tem limites, Senhora Leone. Ele seria capaz de arrancar o seu filho direto do seu ventre antes mesmo de degolar a minha cabeça.
A desesperança faz um calafrio percorrer todo o meu corpo. Ava não está errada. Não temos para onde ir. Nem onde nos esconder em uma cidade dominada pela crueldade de um mafioso implacável. Pensar nisso me j**a no fundo do posso. É o fim para mim.
— Você está certa — sibilo baixo demais. Com dor. A amargura subindo a minha bílis como a ânsia de vômito e perco a fome.
— Eu preciso voltar para a cozinha agora, Senhora. — Ava avisa, lançando-me um olhar triste. Meneio a cabeça em concordância.
— Claro — falo quase sem forças e volto para o meu lugar perto de uma janela.
Quinze dias. Em quinze dias a minha vida se tornará um inferno em dor e eu não posso fazer nada a respeito disso. Levo uma mão para o meu ventre outra vez e um chute do meu bebê me faz sorri em meio as trevas que me rodeiam.
— A mamãe está aqui, filho — digo com um tom suave. — E eu lutarei por você até o último instante da minha vida — prometo com um sussurro, acariciando a minha barriga à medida que o meu bebê se mexe avidamente.
Puxo uma respiração profunda e fecho os meus olhos para apreciar os raios de sol que aquece os meus ossos frios. Entretanto, dia após dia a angústia está me absorvendo. E diferente dos meses que se arrastaram, quinze dias passaram correndo. As lágrimas foram inevitáveis. A insônia dominava as minhas noites. Entretanto, o medo percorreu as minhas veias ao vir o carro negro passar pelos portões da mansão. Vittorio saiu imponente de dentro dele, recebendo os abraços felizes dos seus filhos e esposas.
Um nó sufocou a minha garganta e como se entendesse tudo, o meu ventre se agitou.
— Sua refeição, Senhora. — Ava anuncia como sempre. Contudo, dirijo os meus olhos molhados para ela. Suas retinas piedosas se comovem. Ela empurra o carrinho prateado para dentro do quarto e fecha a porta com chave, encarando-me em seguida. — Preciso que se alimente bem hoje. E que descanse bastante também.
Confusa, uno as sobrancelhas para o seu pedido inesperado.
— Virei até aqui na calada na noite. — Ela diz e o meu coração dispara violentamente. — A Senhora terá que seguir pelos fundos do casarão, assim não será vista por ninguém.
— O que você está me dizendo? — pergunto esperançosa.
— Deverá seguir pela ribanceira.
— Oh meu Deus! — resfolego de ansiedade, levando as minhas mãos para o meu rosto. E dessa vez derramo lágrimas de esperança. — Vá direto para a estreita estrada de barro, um amigo meu a aguardará com uma caminhonete cheia de verduras. Ele a levará para uma cidade vizinha.
— Obrigada, Ava! Obrigada! — A abraço sem demora.
— Escute, Senhora, assim que chegar à cidade dê um jeito de pegar um ônibus e vá para bem longe daqui. — Ava me faz afastar e olha dentro dos meus olhos. Ela mexe no bolso da sua calça jeans e me estende um rolo de notas presas com um elástico. — Essas são as minhas economias. Deverá ajudá-la a se manter por algum tempo.
Lágrimas de emoção molham o meu rosto.
— Eu nunca saberei como agradecê-la por isso, Ava.
— Me agradeça mantendo-se segura e salve a vida do seu bebê. — Apenas meneio a cabeça. — Eu preciso ir agora, Senhora.
— Ava? — A chamo quando ela alcança a porta. — Muito obrigada! — repito e antes de passar pela porta, ela volta e me abraça demoradamente.
— Até a noite, Senhora!
Ao fechar a porta, percebo a minha prisão ficar diferente. A luz do sol parece mais vívida agora. E a esperança faz o meu coração se acelerar dentro do meu peito. Na sequência, sinto o meu bebê se mexer e imediatamente deslizo a palma da minha mão pela minha barriga.