Capítulo 3: Manoela Ferraz

Sigo o GPS pelo trânsito de Londres com as mãos firmes no volante, tentando não pensar no quão estranho é estar levando um estranho — um homem bonito, no entanto — para casa no meio da madrugada.

Finalmente, o aparelho anuncia: “Você chegou ao seu destino”.

Eu paro o carro em frente a um prédio alto, daqueles que você vê em filmes e acha que só existem em sonhos distantes. Portas de vidro automáticas, fachada de vidro escuro e o nome gravado em letras metálicas: The Meridian.

Ele suspira fundo e me observa pela lateral do olho.

— Você mora aqui? — pergunto, tentando soar casual.

Ele acena, meio sem jeito, como se o peso do mundo ainda estivesse pressionando suas costas.

— Sim. Vou tentar abrir o portão do estacionamento. — Ele tira o celular do bolso e, com esforço visível, digita a senha. A mão treme, mas consegue.

Eu manobro o carro até a vaga reservada, e ele desce com cuidado, apoiando-se em mim por um instante antes de andar em direção à porta do prédio.

Entramos e ele digita a senha no painel do elevador. O som eletrônico é curto, e as portas se fecham devagar, levando-nos até o último andar.

Quando a porta da cobertura duplex se abre, a visão me derruba.

Paredes de vidro do chão ao teto exibem a cidade em toda sua magnitude. A luz dos prédios reflete no piso de madeira escura que se estende em um conceito aberto, onde os móveis em preto, cinza e madeira rústica contrastam com o brilho da lareira crepitante.

O ambiente é amplo, luxuoso, e me faz sentir como se tivesse entrado numa casa de revista.

Ele tosse — uma tosse seca e forte que parece tirar o pouco de ar que resta em seu corpo.

Antes que eu possa perguntar, ele vomita no chão.

Meu coração dispara.

— Quer que eu te ajude até o banheiro? — pergunto, já me abaixando para pegar uma toalha de papel.

Ele indica um corredor escuro e seguimos até a suíte.

Quando entro, quase prendo a respiração.

A cama gigante está em frente às janelas panorâmicas, como se fosse o centro do universo ali dentro.

E o banheiro... o banheiro é um spa particular.

Uma banheira de hidromassagem enorme, revestida em mármore claro, e um chuveiro com portas de vidro que parecem convidar para um banho que cure tudo.

Ele, no entanto, se arrasta para o chuveiro.

Não posso deixar ele sozinho.

Enquanto ele liga a água quente, eu vou até os armários procurar algo — remédio, algum analgésico — qualquer coisa que possa ajudar.

Volto para o banheiro e vejo Ravi apenas com uma toalha enrolada na cintura, o corpo escultural brilhando pelas gotas de água que escorrem lentamente.

Parece... melhor.

Ofereço o remédio, e ele aceita com um aceno de cabeça, a voz ainda fraca:

— Obrigado.

Ele encosta o corpo na parede do banheiro, ainda com a toalha enrolada na cintura, o olhar perdido, mas fixo em mim.

— Fui... — balbucia, a voz rouca e quase um sussurro — Fui até o bar porque só queria esquecer. Esquecer toda a dor que ela... que ela deixou.

Por um instante, fico sem saber o que dizer. A dor nos olhos dele é real, profunda. Eu entendo o que é isso. Só que ele não fala o nome dela, e eu não sei que essa dor é por alguém que ele amava, alguém que ele perdeu para sempre.

— Eu... — começo, tentando encontrar as palavras certas — Também acabei de terminar um relacionamento... Tudo o que eu queria era esquecer.

A tensão entre nós cresce no ar, como uma chama que começa a se alastrar. Ele se aproxima devagar, com um sorriso triste, mas cheio de desejo.

Ravi toca meu queixo com a ponta dos dedos, como se quisesse fixar cada detalhe do meu rosto.

— Você é linda demais para ser esquecida — diz ele, os olhos dourados brilhando à luz do banheiro — Como alguém poderia fazer isso?

Antes que eu possa reagir, ele me pressiona contra a bancada fria, o corpo quente dele fechando o meu.

Sinto o calor intenso do seu corpo contra o meu, seu toque firme nas minhas costas, segurando-me com uma força delicada, quase protetora.

Ele sussurra, quase rouco:

— Queria te beijar desde o momento em que te vi.

— Você está bêbado — respondo, tentando afastar o peso daquela atração que cresce.

Ele sorri, o sorriso que desarma qualquer defesa.

— Estou sóbrio o suficiente para beijar uma garota linda.

E então, seus lábios tocam os meus.

É um choque, uma explosão de sensações que me invade por completo.

A boca dele é macia e quente, com um sabor leve de menta — talvez o sabonete que ele usou — e o toque é firme, mas ao mesmo tempo cuidadoso, como se ele quisesse memorizar cada curva dos meus lábios.

Minhas mãos sobem, sentindo o tamanho e a força dos braços dele, que passam da minha cintura para minhas coxas, me puxando delicadamente.

Antes que eu perceba, ele me coloca sentada na bancada do banheiro, o frio do mármore contrastando com o calor que se espalha pelo meu corpo.

Ele suga minha boca com voracidade, como se quisesse me devorar, como se fosse a única maneira de esquecer a dor que carrega.

Sinto meu coração acelerar, minha respiração falhar, enquanto nossas bocas se encontram e se perdem em um ritmo que me deixa tonta.

É assustador e excitante ao mesmo tempo.

Ele desliza os lábios do meu, descendo pelo meu queixo até o pescoço, onde faz um caminho de beijos suaves que arrepiam minha pele. O calor do seu toque invade meu corpo, uma mistura de desejo e vulnerabilidade que me deixa sem fôlego.

Sussurra perto do meu ouvido, a voz embargada pela dor e pelo desejo:

— Por favor... deixa eu usar você. Só por uma noite. Só para esquecer tudo isso... só uma noite.

Eu sinto a sinceridade crua naquela imploração, a dor que ele carrega, a necessidade desesperada de encontrar um pouco de alívio.

E, de alguma forma, sinto também a minha própria dor buscando consolo, um refúgio para a solidão que me consome.

Respiro fundo, e, sem pensar muito, respondo:

— Está bem... só por uma noite.

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