Vittorio Bianchi A Heloísa volta a dormir e a enfermeira fala que é por conta dos medicamentos, saio um pouco para tomar um ar. Quando passo pela porta avisto Hugo e Ava ao longe quando me vê Ava se aproxima. — Como ela está? — Voltou a dormir, a enfermeira informou que ela está sobre efeito da medicação, mas amanhã ela já vai poder ir para casa. Ava, me faz o favor de arrumar as coisas dela, vou mandar alguém passar lá para deixar em meu apartamento. Falo, tentando resolver tudo de uma vez. — Vittorio, não seja irracional, ela vai precisar de cuidados e em casa podemos ajudar. — Não Ava, ele não me quer lá, e não ficarei longe da minha mulher, nem do meu filho. — Vocês estão de cabeça quente. De tempo ao tempo que vocês vão se resolver. Ava solta um suspiro pesado e cruza os braços, me olhando como se eu fosse uma criança teimosa. Mas eu não sou. E não vou ceder. — Vittorio, pelo menos pensa no que é melhor para a Heloísa — ela insiste. — Eu estou pensando. E o
Heloisa Moura Acordo com o som de vozes alteradas do lado de fora do quarto. Meu coração dispara, e um aperto na garganta me impede de respirar direito. Ainda estou fraca, mas forço meu corpo a se erguer na cama, ignorando a dor que percorre minhas costas. O dia já amanheceu. A luz do sol atravessa a janela do hospital, e o cheiro forte de remédios me lembra que ainda estou ali. Antes que eu possa me situar, a porta se abre com força, e meu pai entra no quarto, os olhos furiosos. — Você não vai a lugar nenhum, Heloísa! Vittorio está ao lado da cama, de braços cruzados, a expressão fria e tensa. Sei que ele está se segurando. Seu maxilar travado me diz que a paciência dele está no limite. — Pai… — Minha voz sai fraca, mas ele me interrompe. — Não, Heloísa! Você está frágil, vulnerável, e esse homem está se aproveitando disso! Sinto um frio na barriga. Minha cabeça ainda pesa por conta dos remédios, mas a indignação começa a crescer dentro de mim. — Não é verdade! — Não é? —
Vittorio Bianchi O silêncio é quebrado apenas pelo som da sua respiração tranquila. Ela dorme de lado, os cabelos espalhados pelo travesseiro, a mão repousando sobre o ventre. Meu filho está ali. Minha família está ali. E hoje eu vou levá-los para casa. Aproximo-me devagar, sentando ao seu lado na cama. Com um carinho que eu nunca imaginei ser capaz de ter, deslizo os dedos por seu rosto, afastando uma mecha de cabelo. — Amore mio… — murmuro, minha voz baixa. Seus olhos se abrem devagar, piscando algumas vezes antes de focar em mim. Um sorriso pequeno se forma em seus lábios. — oi…. Meu peito se aquece. Deus, como eu amo essa mulher. — Oi, meu amor. Como está se sentindo? Ela se espreguiça levemente, suspirando. — Melhor. Mas cansada. Apoio minha mão sobre a dela, sentindo o calor da sua pele. — Isso é normal. Você passou por muito. Mas a partir de agora, você vai descansar de verdade. Ela arqueia uma sobrancelha, desconfiada. — Vittorio… o que você está aprontando? Sol
Heloísa Moura Os dias têm sido confusos. Às vezes, eu acordo no meio da noite, sem saber por que estou tão tensa, mas ao olhar para o lado, vejo Vittorio ao meu lado e tudo parece um pouco mais claro. Ele está ali, presente, e de certa forma, isso me dá segurança. Mas também sinto o peso das minhas escolhas, o medo do que o futuro nos reserva. Eu sempre fui alguém que procurou estabilidade, mas, agora, tudo parece incerto, até mesmo a minha relação com ele. Morar com Vittorio tem sido uma experiência em constante aprendizado. Ele tem sido atencioso, mas também muito intenso. Às vezes, sinto que ele não percebe que eu estou tentando me reconstruir aos poucos, depois de tudo o que aconteceu. Não é fácil passar por tudo o que passei e, de repente, me ver inserida em um novo cenário, em uma nova rotina que não envolve mais meu pai, minha casa, minha vida antes disso tudo. É difícil não pensar em meu pai. Ele foi o primeiro a me proteger, o primeiro a me cuidar de todas as formas. M
Vittorio Bianchi Sei que a Heloísa está sofrendo, quero que ela seja feliz, e por ela tomei uma decisão, talvez seja a última coisa que tente fazer, mas por ela vale a pena. Vou para a cozinha e encontro a Marta, ela foi minha governanta enquanto morei aqui e quando fui para Itália, a deixei responsável pelo apartamento. — Olá menino, quando vou poder ver sua esposa?— sorrio, ao escutar a Marta falar assim “sua esposa” — Logo, Martinha, só que você já a conhece muito bem. Ela precisa de repouso, pois nossa prioridade é nosso filho, vou resolver um problema e logo estarei em casa, mas caso a Heloísa acorde, prepare algo para ela. — Meu Deus menino, a menina Helô não dá descanso né? Mal soube que o senhor voltou já está fugindo para cá. — fala em tom de brincadeira. — Martinha, a Helô, não vai mais embora. Dessa vez ela veio para ficar, pois é ela a minha mulher, a mãe do meu filho. — Menino, seu Hugo deve ter infartado com essa situação. — Marta, ele não enfartou, mas
Heloísa Moura Faz um mês que estou morando com o Vittorio, para tudo ficar perfeito só falta meu pai aceitar e voltar a conversar comigo e com o Vittorio, minha mãe sempre me liga, mesmo que nunca tenha vindo até aqui me visitar ela tem seu jeito de me manter por perto. A Marta tem me ajudado bastante, e não me deixa sair da cama, sei que foram ordens médicas, mas já estou entediada sem fazer nada. O Vittorio está ocupado por conta do Passione, o espumante é um sucesso e está sendo premiado em vários lugares depois de muita insistência minha ele aceitou ajuda do Augustus, que tomou a frente e está viajando pelo mundo divulgando o espumante enquanto o Vittorio tem uma família para cuidar. Hoje na consulta, meu bebê resolveu mostrar o sexo, estou bem animada o Vittorio não sabe ainda pois estava no escritório quando a médica veio me vê. Com ajuda da Marta, montei uma linda surpresa para o Vittorio. — Oi, meu amor, como está? — ele pergunta assim que entra em nosso quarto.
Ava Moura Eu ainda estava processando a notícia maravilhosa que Heloísa e Vittorio me deram ontem. Meu coração transbordava de alegria: eu seria avó de um menino! Um menino! Um neto para mim, para nós. Passei a manhã toda imaginando como seria segurá-lo nos braços pela primeira vez, vê-lo crescer, aprender a falar, a andar… Ele seria tão amado. Mas, apesar da felicidade, um peso ainda pressionava meu peito. Hugo. Ele continuava irredutível, recusando-se a sequer mencionar o nome de Heloísa ou de Vittorio sem que a raiva tomasse conta dele. E isso estava me matando. Quando ele chegou para o café da manhã, sentei-me à mesa e decidi que precisava tentar de novo. — Você dormiu bem? — perguntei, tentando começar a conversa de forma leve. — O suficiente. — Ele respondeu sem me encarar, folheando o jornal como se aquilo fosse mais importante do que sua própria filha. Suspirei, sentindo a paciência se esgotar. — Hugo, por quanto tempo mais você vai continuar agindo assim? Ele não re
Vittorio Bianchi Continuo processando tudo. Um menino. Meu filho. Cada vez que repito isso na minha mente, sinto meu peito se encher de um orgulho que nunca experimentei antes. Desde que Heloísa me contou, tudo parece mais real. Não é mais só uma ideia ou um sonho distante. Ele está ali, crescendo dentro dela, e eu mal posso esperar para segurá-lo em meus braços. Enquanto terminamos o jantar, Heloísa segura minha mão e me encara com aquele olhar carinhoso que só ela tem. — Acho que a gente devia contar para minha mãe — ela sugere. Assinto imediatamente. Ava pode não ter demonstrado apoio total, mas pelo menos não virou as costas para a filha como Hugo fez. — Claro, amor. Liga para ela. Heloísa pega o celular e, depois de alguns toques, Ava atende. Pelo tom da voz dela, parece surpresa por estar recebendo uma ligação a essa hora. — Filha, está tudo bem? — a preocupação em sua voz é instantânea. — Está, mãe, está tudo ótimo. Eu só queria te contar uma coisa muito especial… — Hel