Camille Dubois
Arrumei o cabelo pela terceira vez naquela tarde. Cada fio no lugar. O batom bordô, recém-aplicado, ainda marcava a taça de vinho que eu segurava com firmeza — mas que aparentava leveza. A trilha instrumental tocava baixo, como um sussurro no fundo da minha cabeça. Chopim. Sempre funcionava com ele. Sofisticado. Melancólico.A luz estava perfeita — nem muito quente, nem muito fria. O abajur lançado contra as cortinas brancas dava ao apartamento aquele ar de casa que Lorenzo insistia em querer, mesmo nunca sabendo o que isso significava. Eu sabia. Sempre soube.Passei o dedo ao redor da borda da taça, enquanto olhava o relógio.Qualquer minuto agora.Ele viria. Não por mim — ainda não. Mas pelas roupas, pelos livros, pelo orgulho amassado numa mala. Eu sabia que ele voltaria, e mesmo que fosse para p