Lorenzo Bianchi
Saí do apartamento dela com o gosto amargo da despedida grudado na boca. Não era um adeus, não exatamente. Mas também não era um até logo. Era aquela terra de ninguém onde a esperança e a dor se encaram de longe, esperando pra ver quem cai primeiro.
Desci os degraus do prédio como quem volta de uma guerra. Um soldado sem glória, sem medalha, apenas com as mãos vazias e o peito em ruínas. O ar de Veneza estava úmido, como sempre, mas naquela manhã parecia mais denso. Como se o mundo soubesse que algo tinha quebrado em silêncio dentro de mim.
Não esperei o vaporetto. Caminhei até a estação como se o chão pudesse me guiar sozinho. Peguei o trem para a Toscana sem pensar muito. Precisei sair dali. Ir pra algum lugar que ainda fizesse sentido. Que me lembrasse de quem eu era antes de estragar tudo.
Durante as duas horas de viagem, tentei me preparar. Mentalmente. Emocionalmente. O problema é que não existe manual pra isso. Nenhuma respiração profunda cura o arrependimento.