Lorenzo Bianchi
No dia seguinte, acordei com a luz entrando pela janela, cortando o quarto em faixas douradas. Era como se o sol me chamasse de volta à realidade, mas minha cabeça ainda estava lá — na noite anterior, na voz da Aurora, no céu cor de vinho. Me espreguicei devagar, como quem tenta prolongar o tempo entre o sonho e o mundo.
Desci para a cozinha, onde meu avô já estava sentado, mexendo devagar o café com uma colher de metal que parecia ter mais anos que eu.
— Dormiu bem, Lorenzo? — ele perguntou sem olhar, os olhos fixos na xícara.
— Dormi, sim, nonno. Sonhei com casa.
Ele me lançou um daqueles olhares que furam a pele, como se soubesse exatamente o que eu queria dizer mesmo sem eu explicar.
— Às vezes, a gente só entende onde é a nossa casa depois que vai embora dela — disse, antes de levar o café à boca. — E às vezes, a gente descobre que casa pode ser uma pessoa também.
Fiquei quieto. Ele sempre foi assim, direto, certeiro, como se conversasse com o coração da gente sem