Quando a festa começou, percebi o quanto Vincent estava atencioso com Isabella.
Ele puxou a cadeira para ela, trouxe bebidas e até ajustou a alça do vestido dela quando ela escorregou, sua mão tocando o ombro dela com uma facilidade que parecia familiar.
Eu nunca recebi nada disso.
Nos dois anos em que estive com Vincent, ele nunca fez essas coisas por mim. Eu achava que era só o jeito dele frio e reservado, acima de gestos triviais de afeto.
Eu estava errada.
Ele simplesmente não estava disposto a fazer isso por mim.
Eu saboreava meu champanhe, ouvindo Isabella rir e conversar com outros convidados. Ela falava sobre sua recuperação na Europa, sobre quanto sentia falta de Nova York. Cada palavra era graciosa e correta.
— Isabella é uma garota adorável. — Sussurrou uma mulher ao meu lado para a amiga. — O jeito que Vincent cuida dela, tenho certeza de que eles vão acabar juntos.
Minha mão se apertou em torno do talo da taça.
— Certo, pessoal, vamos jogar um jogo! — Anunciou o anfitrião, animando a sala. — Verdade ou Escolha!
A tela grande se iluminou enquanto o anfitrião explicava as regras.
— Aparecerão duas fotos na tela. Todos votarão na sua favorita, mas Vincent, como nosso convidado de honra, fará a escolha final para todos!
A primeira rodada mostrava duas garrafas de vinho tinto diferentes. Vincent escolheu a da esquerda sem hesitar.
— Porque Isabella é sensível a algo muito forte. — Explicou ele.
A sala se encheu de risadas e brincadeiras.
A segunda rodada trouxe dois buquês: rosas vermelhas e lírios brancos. Vincent escolheu os lírios.
— Isabella prefere uma fragrância mais sutil.
A terceira rodada mostrava dois destinos de férias: as Maldivas e a Suíça.
— Suíça. Isabella precisa de ar fresco para sua recuperação.
Cada escolha de Vincent era pensada em Isabella.
Eu o observava no palco e pensava sobre os nossos dois anos juntos. Ele nunca perguntou o que eu gostava, nunca lembrou da minha comida favorita ou dos lugares que eu sonhava em conhecer.
— Última rodada! — Disse o anfitrião, empolgado. — Esta é um pouco especial. São fotos de duas mulheres bonitas!
Duas imagens apareceram na tela.
À esquerda estava Isabella. Ela usava um vestido branco, sorrindo suavemente em um jardim, parecendo pura como um anjo.
À direita, estava eu. Usava um vestido de noite vermelho de alguma festa esquecida, com um olhar ardente e desafiador.
A sala ficou em silêncio.
Todos os olhos estavam em Vincent.
Ele ficou no palco, encarando a tela, e por alguns segundos, ele não disse nada.
Aqueles poucos segundos se estenderam como uma eternidade.
Eu sabia que ele escolheria Isabella, mas ainda assim, eu me agarrei a uma última e desesperada esperança de que ele me escolheria.
Mesmo que fosse apenas para mostrar algo. Mesmo que fosse por pena.
— Eu escolho... — A voz de Vincent ecoou pelo microfone. — Isabella.
A multidão explodiu em aplausos e gritos.
Deixei o copo de champanhe na mesa, me virei e saí correndo da sala.
No banheiro, encarei meu reflexo no espelho, respirando fundo, tentando acalmar a tempestade dentro de mim.
Eu não deveria ter esperado nada. Nem mesmo desde o começo.
Me recompus e saí, pronta para voltar à festa.
O corredor estava mal iluminado. Quando virei a esquina, alguns homens bêbados bloquearam meu caminho.
— Ei, linda. Sozinha? — Disse um deles, tropeçando enquanto se aproximava. — Vamos beber algo com a gente.
— Sai da minha frente. — Respondi, minha voz perigosa e baixa.
— Não seja tão fria. — Zombou outro, estendendo a mão para me alcançar. — A gente só quer te conhecer...
Me afastei e vi Vincent parado na porta do nosso quarto privativo.
Ele estava conversando com um convidado. Lancei-lhe um olhar desesperado e suplicante.
Vincent me viu. Seu rosto escureceu, e ele começou a caminhar em minha direção.
Mas, naquele momento, um grito de dor veio de dentro da sala.
— Ai! Meu pé...
Vincent imediatamente virou-se. Viu Isabella segurando uma cadeira, o rosto pálido.
— O que aconteceu? — Ele perguntou, correndo até ela.
— Acho que torci o tornozelo... — Isabella disse, com os olhos se enchendo de lágrimas.
Vincent imediatamente se agachou para examinar o tornozelo dela, completamente se esquecendo de mim no corredor.
Isabella sussurrou algo para ele. Sem sequer olhar na minha direção, Vincent respondeu:
— Não se preocupe com isso. Ela pode se virar sozinha.
Naquele momento, meu coração não apenas se partiu, ele se despedaçou.
Peguei uma garrafa de vinho de uma mesa de serviço próxima e a quebrei contra a parede.
Pedaços de vidro voaram por toda parte. O som assustou os homens bêbados.
Levantei a garrafa quebrada, com o vidro afiado apontado para eles.
— Sumam daqui! — Gritei.
Ao ver a fúria selvagem nos meus olhos, eles rapidamente se afastaram.
O vidro cortou minha palma. O sangue escorreu no chão.
Olhei para o ferimento, sentindo a dor. O que seria essa pequena dor comparada à agonia na minha alma?
Após a festa, fiquei sozinha do lado de fora do clube, esperando por um carro.
Isabella saiu, com Vincent a ajudando a caminhar cuidadosamente.
— Sophia. — Disse Isabella, mancando até mim. — Sinto muito pelo que aconteceu mais cedo. Torci meu tornozelo tão de repente que Vincent não conseguiu chegar até você a tempo. Mas parece que você se virou bem.
Ela olhou para minha mão machucada, um flash de triunfo nos olhos.
— Eu vi. — Disse com um sorriso frio. — Sempre fui boa em lidar com meus próprios problemas.
— Que bom. — Isabella sorriu docemente. — Pra ser honesta, fiquei um pouco preocupada quando Vincent te trouxe aqui hoje. Afinal, vocês dois costumavam...
— Costumavam o quê?
— Você realmente acha que o Vincent tem sentimentos especiais por você? — Isabella se inclinou para frente, sua voz um sussurro baixo e venenoso. — Sophia, querida, o Vincent só tem pena de você. Agora que você está sem teto, ele te acolheu por caridade. Só isso.
— É mesmo?
— Claro. — Os olhos de Isabella estavam afiados e malignos. — Você viu o jogo hoje. O Vincent só tem espaço no coração dele para mim. Sempre foi assim, desde o ensino médio. Isso nunca vai mudar.
Foi então que um sedan preto perdeu o controle e se disparou em nossa direção.
Em um piscar de olhos, Vincent se atirou à frente e envolveu Isabella com os braços, protegendo-a com seu corpo.
E eu? Fui atingida com força pelo carro desgovernado e lançada violentamente ao chão.