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Primeiro Amor, Segunda Chance
Primeiro Amor, Segunda Chance
Por: Lana Cato
Prólogo – Como me perdi de mim

Ive Bianchi

Eu sempre ouvi da minha mãe que o meu primeiro sorriso, ainda no berço, foi pra ele, Lucca Foster.

Nós não somos pessoas normais, nunca fomos. Nascemos num mundo onde dor e guerra são tão comuns quanto o pão nosso de cada dia. Nascemos na máfia.

Mas existe uma beleza estranha nisso, em viver separado do mundo. Crescemos num universo onde só nós existíamos, onde era possível ser feliz, amar sem culpa, sem preocupações comuns, sem boletos, sem máscaras, sem empregos, sem gentilezas falsas. Nossos problemas eram outros. Eram maiores. Eram mortais. Mas, ainda assim, eram nossos, e gostávamos disso.

Por um tempo, Lucca e eu pudemos existir nesse pedaço de mundo, um universo só nosso, mesmo com a sombra das nossas vidas espreitando na floresta ao redor. Nosso refúgio também era prisão, também era algoz. Porque, apesar do meu primeiro sorriso ter sido pra ele, o destino decidiu que a nossa história seria escrita em sangue, perda e silêncio.

Eu ainda lembro. Tínhamos doze anos, crianças com responsabilidades que muita gente jamais carregará. Vivíamos numa fazenda isolada, um pedaço de terra que fingia ser lar, dividido por famílias que compartilhavam esconderijos, fugas, noites em claro. Crescemos juntos.

Naquele dia, comemorávamos um casamento, uma festa bonita, simples e tímida, daquelas que deveriam marcar o começo de uma história melhor. Era a festa de um dos nossos, e Lucca e eu éramos parte de algo maior. Mas, na máfia, ninguém é criança de verdade.

Eu estava de mãos dadas com ele e me sentia protegida. Com doze anos ele já era enorme, com músculos que pareciam impossíveis até para um adulto. Lucca era capaz de matar homens treinados usando apenas as mãos, mas não sabia amarrar direito o cadarço da bota nem resolver uma conta de divisão. Ele era meigo e bruto na mesma proporção, meio menino, meio herói. Eu… não.

Eu sou filha de Sara Bianchi, sou a adorável herdeira do clã, a princesinha, a menina que caminhava por todos os lugares distribuindo sorrisos e achando armas e bonecas tão singelas quanto flores que nascem sem serem semeadas.

Meu pai me chama de Maçãzinha, a fruta proibida, e sempre dizia que quando eu nasci, pequena, magrinha, sem cabelo, com olhos azuis grandes demais para o meu rosto, a luz entrou na vida dele.

Mas essa história não é sobre o meu pai, nem sobre mim, muito menos sobre os meus cachos loiros que Lucca gostava de enrolar no dedo quando estávamos juntos. Essa é a história de um amor que o destino arrancou pela raiz.

Muita gente diz que gostaria de ter conhecido a felicidade antes; a mãe do Lucca fala isso sobre o marido. Eu não acho. As coisas acontecem quando têm que acontecer. É fato. Eu conheci a minha felicidade no berço, mas o destino não quis que ficássemos juntos.

Estávamos numa procissão, um lugar onde ninguém imagina ver criminosos, mas a noiva daquele dia tinha fé inabalável de que nossos destinos eram desenhados por algo maior, e lá estávamos nós. À frente, a imagem de Nossa Senhora; atrás, nossos pais conversando, rezando, rindo; todos ali por fé, amor ou tradição. E, no meio deles, inimigos. Gente que não estava lá pra rezar. Queriam apagar sorrisos, dizimar sonhos, destroçar almas e vingar algo que até hoje eu não sei.

Eu lembro do momento exato. Lucca apertou minha mão e abaixou um pouco, como sempre fazia, já que precisava se inclinar pra ficar na minha altura, e nunca reclamava. A voz dele saiu protetora e preocupada: Ive, fica perto de mim. Eu ri e respondi que já estava ao lado dele e que ele precisava parar de ser estranho.

Ele levou minha mão à boca e beijou meus dedos, rápido, quase tímido. Minha pele arrepiou. Eu ainda não entendia o que aquilo significava, só tinha no peito a certeza absoluta de que a gente não podia se separar. Eu o amava; quis dizer… mas então a primeira bomba explodiu.

O chão tremeu. Os gritos se espalharam. O pó subiu. O mundo ficou branco. Depois vermelho. Depois nada.

Fui jogada no chão e Lucca ficou por cima de mim. E, pela primeira vez na vida, ele não lutou, não atacou, não correu, não carregou ninguém. Ele apenas me cobriu e usou o próprio corpo como escudo, a vida como promessa. A maior declaração de amor que alguém pode receber me foi dada naquele dia, e ele nem precisou usar a voz. Depois disso, só restou ouvir ele dizendo: não precisa ter medo, Ive.

Acordei num hospital que eu não conhecia, cercada por gente estranha. E o Lucca? O Lucca tinha sido levado. Pela morte. Ou por alguém. Na época, ninguém sabia.

Foi por isso que resolvi cursar Medicina. Era a profissão da Lara, mãe dele e minha madrinha, a mulher mais forte que eu conheci. Mesmo sem saber onde o filho estava, ela salvou dezenas de vidas naquele dia. Eu quero ser como ela. E, no fundo, meu maior sonho é que alguém tenha conseguido salvar o Lucca. Tinha que ter alguém lá. E se ninguém conseguiu por ele, talvez eu consiga por alguém.

Tenho 17 anos e hoje faz cinco anos que perdi meu melhor amigo, o motivo do meu sorriso, a única pessoa que me entendia só com um olhar. Eu continuei, porque a vida continua. Daqui a três meses presto vestibular pra Universidade Federal de Medicina, e eu vou entrar. Por mim. Pela Lara. Pela máfia. Mas principalmente por ele.

Talvez por isso o dia pareça mais pesado. O sol surgiu mais alto, queimando tudo. Olho no espelho e digo pra mim mesma que é só mais um dia qualquer.

Mas não foi.

Tudo mudou. Eu deixei de ser a menina que chora todas as noites beijando um anel de plástico que Lucca encontrou dentro de um ovo de chocolate. O destino resolveu desfazer suas próprias tramas e me apresentar uma segunda chance de ser feliz.

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