Me olho no espelho.
— Nossa… tô bonita mesmo. — sorri sozinha.
Acho que preciso viver mais. Nunca me permiti certas coisas. Sempre me dediquei aos estudos, à minha avó, ao trabalho… mas em mim? Em mim mesma, nunca tive um olhar de cuidado real. Só o básico.
Cuidava do cabelo porque era necessário — cacheado tem vida própria. A pele, sempre oleosa, eu só limpava. Raramente passava um batom ou rímel. Nem na minha formatura me maquiei como hoje.
Mas esse vestido… deixou meu corpo lindo.
O Gil quis me convencer a usar um mais curto — não deu.
Esse aqui vai próximo ao joelho, tem um decote bonito e é preto. Parece que deixou minha pele ainda mais bronzeada.
Hoje vou ser só uma mulher de 24 anos vivendo.
Vou me divertir.
E… por que não? Se aparecer alguém, eu vou me permitir beijar muito. — ri sozinha. — Nossa, nem parece eu falando isso!
— Anaaa! — ouvi os dois gritando da sala.
Esses dois, meu Deus… preciso me acostumar.
Passei mais um pouco de perfume — vaidade que eu adoro. Estar cheirosa é quase uma armadura.
Quando cheguei na sala, os dois já me esperavam.
— Uau… de novo — disse o Gil, arregalando os olhos. — Você está maravilhosa!
— Olha que estou ao lado dessa morena de olhos verdes aqui, hein! — brincou, apontando pra Júlia.
Ela riu, deu um beijo no ombro e nele, respondeu:
— Se eu gostasse de mulher, te pegava hoje, viu?
— Vamos, gente, antes que eu desista. Vocês estão exagerando. Estou bonita, só isso. — falei, rindo.
No carro, um homem lindo, com traços asiáticos e um sorriso de derreter, nos esperava.
— Ana, esse é meu gato, Carlos, meu ninja — disse o Gil, todo derretido, abraçando o pescoço dele.
— Prazer, Ana. Bem-vinda — respondeu Carlos, simpático.
— Não fica triste, Ana Mara — brincou o Gil. — “Mara” de maravilhosa, tá? Só pra não repetir “Ana” o tempo todo. O Carlos não tem meu bom gosto pra escolher mulheres, o bom gosto dele é pra design de interiores. Ninguém é perfeito, né meu bem? — completou, dando um beijo rápido no namorado.
O Carlos só riu. Dá pra ver que o Gil é o falante dos dois. Ele ia de uma história pra outra com uma leveza que fazia a gente rir o tempo todo.
Chegamos a uma boate… e que lugar chique!
Assim que entramos, o Carlos já ajeitou pra irmos pra uma área VIP.
O lugar era incrível, até o teto era lindo.
A Júlia sussurrou no meu ouvido:
— Finge naturalidade e relaxa.
O Gil pediu uns drinks. O meu era docinho, até gostei.
— Cuidado com esses, são os piores — avisou a Júlia, rindo.
— Júlia, sei que pediu pra não falar de trabalho até segunda, mas… como é o patrão?
— Ana, numa empresa grande como a nossa, tudo é resolvido no RH. Quase ninguém tem contato direto com ele.
— O Gil conhece, né?
— Sim, mas ele vive viajando. Eu só vi uma vez, há muito tempo. Se cruzar com ele, nem vou lembrar o rosto.
— Então vamos mudar de assunto! — ela disse, puxando minha mão. — Vem dançar! E nem vem com essa de que não sabe, porque eu sei que fazia dança na escola!
Ela me arrastou pra pista. Comecei tímida, mas depois… nem sei se foi o efeito da bebida, da música, ou da liberdade. Só sei que dancei. Me soltei.
Por um tempo, esqueci de tudo.
Quando voltamos pra mesa…
— Ué, onde eles foram? — perguntei.
— Relaxa, esses dois são assim mesmo. Vai se acostumando. — disse Júlia, pedindo outro drink.
Rimos ,ela paquera com um rapaz bonito do outro lado da pista.
Em certo momento, senti vontade de ir ao banheiro.
— Vou ali, já volto. — disse, levantando.
Ela só apontou a direção com um sorriso travesso.