Mundo de ficçãoIniciar sessãoDifícil acreditar que estou fazendo essa loucura.
A despedida no aeroporto foi um misto de medo, tristeza e felicidade. Agora estou quase na Itália. A maioria dorme na viagem, mas eu estou ansiosa. Quase não cochilei. Sempre foi um sonho, e no fundo eu nem acreditava que um dia se realizaria. E aqui estou eu, indo de encontro a esse sonho. Sento ao lado de um casal simpático de idosos, que assim como eu, está realizando um sonho. Eles estão indo comemorar quarenta anos de casados. Conversamos bastante, até que eles adormeceram, e fiquei ali, olhando pela janela, pensando no que me espera. Será que estou fazendo a coisa certa? “Coragem, Ana”, pensei. “Até emprego você já tem. Nada de insegurança.” Cochilei um pouco e acordei com o anúncio de que o avião estava prestes a pousar. Meu coração disparou. Tá acontecendo... agora é real. Assim que desci e fui pra área de desembarque, vi a Júlia com um cartaz. Ri sozinha e fui até ela. — Sua louca! Eu te conheço, esse cartaz é pra quem nunca se viu! — falei, abraçando-a. — Me deixa, Ana! Sempre quis fazer isso, vi nos filmes e achei o máximo! — riu ela, me apertando ainda mais. — Que bom que vou ter você morando comigo — disse animada. — Nem pense em ficar sozinha. A tia disse que você pensou nisso, mas comigo é sem chance! — Júlia, sempre morei com minha avó e com a dinda, nem sei como é diferente disso. — Pois vai descobrir! — respondeu. — As velhas maravilhosas cozinham bem, eu sei, mas viver com gente jovem é outra história. Ao sair do aeroporto e ver Florença, meu coração quase não aguentou. Tudo me encantava — o ar, as cores, o som das ruas. — Eu fiquei igualzinha a você quando cheguei — disse Júlia rindo. — Até hoje fico encantada. — Até o ar aqui é diferente… não sei explicar — falei, distraída. — Ana? — ela chamou. — Desculpa, Júlia… o que você falou? — Disse que você vai adorar o Gilberto. Pode chamar de Gil, ele odeia que usem o nome inteiro. Acho que tá até mais ansioso que eu pela sua chegada! — Júlia, eu não vou atrapalhar mesmo, ficando com vocês? — Claro que não! A gente quer sua companhia. Falei tanto de você que ele já te adora. — Vocês trabalham juntos também? — Sim e não. Ele é chefe do marketing, e eu fico na parte de divulgação, em outro andar. Mas você vai pro setor dos chefões! Fomos conversando até chegar. — Achei que você morava em apartamento. — Praticamente! É um sobrado, mas reformamos tudo. O namorado do Gil é designer de interiores, arrasou nas mudanças. Quando entrei, fiquei encantada. Por fora, parecia simples. Por dentro, moderno e aconchegante. Fui tirada dos meus pensamentos por um grito: — Até que enfim, Ana! Menina, você é um arraso! Como as agências não te acharam antes? Que corpo! Júlia é linda, mas você... é um espetáculo! — Obrigada… exagero, né, Gil? — Exagero nada! — ele respondeu, rindo. — Já vai relaxando no seu novo lar. Amanhã a gente sai pra dançar. — Gente, eu não tô acostumada com balada. — Pois vai se acostumar! — disse Júlia. — Você tem que viver como uma mulher de 24 anos! — Falou igual a Dinda agora — brinquei. — Ela deve ser sábia, tenho certeza — respondeu Gil, sorrindo. — É sim — falei, já com saudade. — É sim, mas vida que segue, Ana — completou Júlia. — Agora vamos levar suas coisas pro quarto. Se quiser tomar banho e descansar, fica à vontade. — Ah, deixa pra descansar mais tarde. Vou tomar banho e já ajudo vocês a guardar as coisas, assim a gente conversa mais. — Ué, o Carlos não vem hoje? — perguntei. — Nem você vai? — Não. Pedi vale-night hoje. Quero ficar à vontade com vocês e conhecer melhor a Ana. Já fiquei muito com aquele grudinho — disse Gil, fazendo careta. — Ana, você tinha namorado no Brasil? — Não, na verdade, namorei duas vezes só, e foi rápido. Depois me dediquei aos estudos e à minha avó. Quando ela se foi, não tive cabeça pra mais nada… logo comecei a trabalhar. — Nossa! Sua vida precisa urgente mudar, menina. Você não vive, você vegeta! — disse Gil, caindo na gargalhada. — Não é bem assim… — falei, rindo também. — Era sim, lindona! Mas não vai ser mais. Amanhã vai colocar essa beleza pra jogo e viver como uma mulher da sua idade! — Você precisa ser mais leve, viver o momento. Ser feliz é uma escolha — completou Júlia. A conversa foi até altas horas. Guardamos as coisas, lanchamos e acabamos dormindo todos no quarto do Gil, rindo e falando sem parar. Na manhã seguinte, acordamos quase na hora do almoço. Tomamos café, e o Gil me levou pro shopping pra escolher o look da noite. Almoçamos por lá, passeamos um pouco e, com muita insistência deles, fomos ao salão.






