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Os dias passaram tão rápido... era só trabalho e casa. Me dedicava ao serviço pra tentar esquecer a dor. A família da minha madrinha me acolheu de braços abertos. A irmã dela tinha duas filhas — uma casada, advogada, trabalha na Previdência Social e tem um casal de gêmeos de três anos, uns espoletas adoráveis. A outra é formada em Turismo e mora na Itália. Esse sempre foi o meu sonho. Lembro de dizer pra minha avó: “Vovó, ainda vou morar na Itália. Você vai ter que perder o medo de avião, porque vai junto comigo.” Ela ria e respondia: “Deus me livre, filha! Apesar de ter só você, vou te dar força pra realizar seus sonhos, mas me deixa no meu canto.” Minha avó era o meu bem maior. Jamais teria coragem de deixá-la sozinha em outro país. Agora, preciso manter os pés no chão. Estou bem no emprego, e como sempre dizia a vovó: “Estudar é importante pra ficar bem.” Ela tinha razão. Mas sinto que chegou a hora de ter meu próprio canto, o meu lar. Só falta convencer minha madrinha. Quando cheguei em casa, as duas estavam na cozinha, conversando e preparando o jantar — o mesmo entrosamento que minha avó e minha madrinha sempre tiveram. Mas hoje, a dinda estava diferente, meio misteriosa. Filha, pode tomar seu banho, aqui tá tudo sob controle. Bom pra você relaxar do dia de trabalho.” Fui pro quarto. O dia tinha sido corrido, mas produtivo. Amar o que se faz não quer dizer que não cansa, né? Aproveitei pra hidratar o cabelo — ser cacheada exige cuidado — e cuidar da pele também, mesmo sendo oleosa. Como dizia minha avó: A aparência é importante, minha filha. Quando saí, o cheiro da comida estava divino. Nossa, deu fome... tem alguma comemoração que eu esqueci? Minha madrinha riu e respondeu: Vai depender de você, minha linda. Pronto. Olhar misterioso confirmado. O que a senhora tá aprontando, dinda? Não me diga que arrumou outro rapaz pra eu conhecer... Ah, filha, não precisa me apresentar ninguém. Sei que acha que mulher de 24 anos não deve ficar sozinha, mas a pessoa certa chega na hora certa. Ela apenas sorriu. Não é nada disso, filha. Sabe a Júlia, minha sobrinha que mora na Itália? Dinda, você só tem duas sobrinhas, ri. Sim, e é dela mesmo que tô falando. Ela trabalha pra um empresário do ramo hoteleiro, e ele está precisando de uma secretária executiva. O salário é ótimo, tipo... três vezes o que você ganha. E o que isso tem a ver comigo, dinda? Filha, eu te amo, adoro você aqui conosco, mas sei do seu sonho. Acho que está na hora de ir em busca dele. Pedi pra Júlia te indicar, e ela fez. Eles estão te esperando daqui a trinta dias. Você já tem passaporte, então... Fiquei sem reação. A senhora o quê? Dinda, esqueceu que eu tenho um emprego e que estou indo bem nele? Ela respirou fundo e falou com aquele tom doce que sempre desmontava meu coração: Filha, sei de tudo isso. Você é competente, mas esse é o seu sonho. Eu sou sua família, estarei sempre aqui por você. E, diferente da sua avó, já andei de avião. Posso ir te visitar quando quiser. Então... aproveita a oportunidade, Aninha. A vida tá te dando uma chance. Aceita, vai. — Entre cheiro de tempero e emoção no olhar da minha madrinha, que meu coração começou a bater diferente. Talvez fosse o som da minha nova chance.






