Capitulo 2

Capítulo 2

Aurora Sinclair

O vento frio da noite cortava minha pele enquanto eu caminhava pelas ruas desconhecidas daquela cidade. O pequeno mundo dentro do orfanato tinha ficado para trás, e agora, diante de mim, se estendia o desconhecido. Eu precisava construir uma nova realidade a partir do nada. Trazia comigo apenas uma sacola com roupas surradas e o envelope amassado que Dona Teresa me dera. Meu coração estava apertado, mas a necessidade de seguir em frente falava mais alto.

Meu primeiro desafio foi encontrar um lugar onde pudesse dormir. Eu sabia que o pouco dinheiro que tinha não duraria muito, então precisava ser cuidadosa. Andei por horas, observando as fachadas malcuidadas de bairros simples até encontrar uma kitnet minúscula. As paredes estavam descascadas, o chão rangia a cada passo, e o cheiro de mofo impregnava o ar, mas era um teto — e era só isso que eu precisava naquele momento.

O senhorio, um homem de meia-idade com olhar cansado e semblante impaciente, mal levantou os olhos quando bati à sua porta. Entreguei parte do dinheiro que Dona Teresa havia me dado, e ele simplesmente jogou as chaves na minha direção, sem dizer uma palavra.

Lá dentro, não havia móveis. Apenas um colchão fino encostado em um canto e uma pia antiga na parede oposta. Me sentei no chão, abracei os joelhos e tentei silenciar o medo que se agitava dentro de mim. Pela primeira vez na vida, eu estava realmente sozinha. Sem ninguém para acudir. Sem ninguém para me chamar pelo nome.

Na manhã seguinte, comecei a procurar trabalho. Não tinha experiência, muito menos estudo formal. Andei por bares, lanchonetes, cafés... Pedia qualquer coisa, qualquer oportunidade. A maioria das pessoas sequer me dava atenção. Algumas negavam com um olhar indiferente. Outras, mais frias, nem se davam o trabalho de responder. O estômago doía, e a fome voltava a ser uma velha conhecida.

Após vários dias de recusas, consegui uma vaga como atendente em uma lanchonete pequena e simples. O dono, um homem chamado Marco, parecia hesitar quando me viu, mas aceitou me dar uma chance. O salário era pouco e as horas, longas e cansativas. Mas era o que eu tinha. E, naquele momento, já era muito.

Passei a trabalhar em dois turnos. Durante o dia, ficava na lanchonete, limpando mesas, levando pedidos, lidando com clientes impacientes e muitas vezes grosseiros. Quando a noite chegava, eu seguia para meu segundo emprego: faxineira em um prédio comercial.

Carregava uma vassoura e um balde, limpando escritórios vazios e banheiros frios. Meus pés doíam, as mãos rachavam com os produtos de limpeza, e meus olhos ardiam de sono. Mas nunca cogitei desistir. A vida nunca me deu outra opção. Eu precisava continuar. Precisava sobreviver.

As dificuldades eram muitas. Voltei para casa diversas vezes sem ter o que comer. O dinheiro mal dava para pagar o aluguel e uma refeição simples por dia. Às vezes, Marco me oferecia um pedaço de pão no fim do expediente. Outras vezes, eu simplesmente deitava com o estômago vazio, tentando ignorar a dor.

A solidão era uma companheira silenciosa, mas constante. Eu não tinha amigos, não tinha com quem conversar. As noites eram as mais difíceis — quando o mundo se calava e só restavam meus pensamentos. Às vezes, me perguntava se um dia tudo aquilo mudaria. Se eu conseguiria, de alguma forma, sair daquela condição.

Mas continuei. Porque era isso que eu fazia desde sempre. Continuar.

Com o tempo, a minha perseverança começou a trazer pequenas vitórias. Consegui um emprego melhor como recepcionista em um hotel modesto. O salário era um pouco melhor e, aos poucos, fui aprendendo a lidar com diferentes tipos de pessoas. Paralelamente, consegui também um trabalho como assistente em uma biblioteca local. Era exaustivo conciliar os dois empregos, mas cada centavo economizado representava um passo adiante.

Foi aí que nasceu dentro de mim uma ideia: eu precisava sair de Siena. A cidade era pequena, cheia de memórias dolorosas e poucas oportunidades. Se eu quisesse transformar minha vida, precisava começar de novo, em outro lugar. E foi assim que tomei a decisão de juntar dinheiro para ir embora. Escolhi Palermo. Uma cidade maior, com mais empregos, mais chances, mais esperança. Talvez lá eu conseguisse uma vaga em um curso técnico, talvez algo ainda melhor.

Não seria fácil, claro. Mas depois de tudo o que já enfrentei, eu sabia — podia suportar mais. E se houvesse uma chance, por menor que fosse, eu correria atrás dela.

Porque pela primeira vez na vida, eu não queria apenas sobreviver.

Eu queria viver.

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