Angel
O elevador até o 27º andar parecia desafiar todas as leis da física, como se o próprio prédio conspirasse para me dar tempo de recuar. Mas não recuei. Observei meu reflexo nas portas metálicas, ajustando o blazer azul com as mãos firmes, embora os dedos dissessem o contrário.
O "ding" soou suave, mas meus ombros enrijeceram como se tivesse sido um alarme. O corredor estava vazio, silencioso como o interior de uma igreja prestes a sediar um funeral. O piso de mármore refletia minhas pernas como em um espelho embaçado, tornando tudo mais dramático.
Encostada à parede, à esquerda da porta de acesso ao escritório de Iolanda, estava ela: Carolina. Impecável como sempre, maquiagem precisa, blazer bege claro, postura de quem nasceu para julgar. Os braços cruzados sobre o corpo magro e os olhos claros analisando cada centímetro meu, como uma avaliação fria de estoque.
— Demorou — disse ela, afastando-se da parede com a leveza ensaiada de quem vive para aquele tipo de cena.
— Tinha trab