De olho no relógio, Alyssa aguardava a chegada do seu novo assistente, que naquele momento estava no RH e em alguns minutos se apresentaria em seu gabinete como seu novo assistente.
Ela se sentia uma adolescente ansiosa pelo primeiro encontro, olhando-se no espelho, avaliando a maquiagem, alisando com a mão o cabelo. Sabia que diferente do diálogo espontâneo do outro dia no elevador, dessa vez, deveria manter a compostura profissional. Além disso era importante não esquecer de dois detalhes: era proibido romance entre funcionários e de que estava noiva. Não conteve o suspiro exasperado. " Maldita hora em que fui concordar com aquele contrato de casamento idiota com o Phil! Estou me sentindo uma prisioneira, sem chance de ser feliz e justo agora que pintou na área esse deus grego!" Enquanto o seu pensamento conspirava para direções proibidas, o telefone sobre sua mesa, tocou. Deu um pulo de susto, quase caindo da cadeira. Certeza que ele estava a poucos metros de sua sala! Com o coração batendo mais rápido, pegou o telefone. — Sim? — O senhor Klaus Ferranti, o seu assistente chegou — ao ouvir a fala da secretária Mirtes, vibrou intimamente— Posso mandá-lo entrar? A pergunta simples, direta, atravessou-a feito flecha. Estar frente a frente com aquele homem de 1,90m, elegante e mega lindo, era de perder o fôlego. " Calma, Alyssa, respira fundo!" — Sim, ele pode entrar. Ela ia iniciar um sucessivo exercício de respiração para aliviar a tensão, quando Klaus apareceu. " Theé mou!"* Alyssa prendeu a respiração tomada por um impacto desconhecido por todo o seu corpo. Algo que nunca sentiu por seu noivo ou qualquer outro homem escorregava feito azeite pelo seu corpo. Disfarçando, cumprimentou-o e fez sinal para que ele se sentasse e por mais que tentasse ser mais sutil, não conseguia tirar os olhos dele. " Nem pense em flertar com o assistente!" Ela advertiu a si mesma. Só não esperava um detalhezinho que fazia toda a diferença. A surpresa de Klaus foi a reação que ela não esperava. O semblante dele estava se fechado como um tempo chuvoso. Ele se sentou devagar, muito sério. — Você é Alyssa ... Petrakis? Novo impacto. Sinceramente, não foi assim que ela havia imaginado o novo encontro. Forçou um sorriso amistoso, com o intuito de esconder sua decepção. — Sim. Seja bem-vindo! — Obrigado. Ele continhava tenso. " Que diabos estava acontecendo? Onde estava aquele cara descontraído que encontrou no elevador outro dia?" — Uau! Parece que está vendo um fantasma! — comentou, ácida. — Sou de carne e osso, tá? Ele comprimiu os lábios e constrangido tentou reverter a situação. — Desculpe, senhorita Petrakis. É que no dia no elevador não pensei que estivesse falando precisamente com a filha do todo poderoso Heitor Petrakis. O tom da voz pareceu-lhe estranho. Era impressão sua ou havia uma ironia no final daquela fala? Ficou curiosa, mas achou melhor não esticar a conversa. Havia muito a fazer, mas antes... — Só Alyssa. Se vamos trabalhar juntos não quero me sentir num pedestral e você num degrau abaixo, quase inalcansável. " Droga! Que discurso idiota era esse? " Perguntou-se, assustada com seus próprios pensamentos. — Tudo bem, Alyssa! Reteve de novo a respiração. " Como ele era capaz de falar o seu nome daquele jeito envolvente?" Os olhos se prenderam um no outro, enlaçando-os de uma forma vibrante, sem que percebessem as consequências daquele instante fugaz. Ouvir o seu nome pronunciado milhares de vezes nunca lhe deu um efeito tão grande quanto a sensação maravilhosa que despertou seus sentidos. Parecia uma deliciosa carícia. Uma batida na porta, interrompeu o clima. Desapontada, Alyssa mudou o foco para a secretária, que chegava com um buquê de flores vermelhas. — Senhorita Alyssa, acabou de chegar! São tão lindas!— A empolgação de Mirtes contrastava com o sorriso amarelo que se desenhou em seus lábios. Não precisava nem arriscar o palpite. O noivo, que droga! — Estou prestes a dar uma bronca em Phil! Todo dia é isso agora? A secretária estreitou o olhar, censurando-a, enquanto inalava o perfume das flores como se as tivessem recebido. — Ah, não devia reclamar assim. Homem romântico é raridade hoje em dia e ele é o seu noivo. Tão gentil! " Obrigada, Mirtes, acabou de entregar meu status pessoal ao assistente gato! Agora mesmo que não tenho chance. " Não teve nem coragem de olhar para Klaus. — Ele deveria mandar para o meu endereço... — E aí as flores muchariam. Você passa o dia todo aqui. — o olhar sonhador da senhora era inquietante — Vou pegar um vaso com água...E não esqueça de agradecer. Ela saiu. Klaus estava desconfortável ainda, coçando o queixo. — Desculpe, Klaus. Fique à vontade, por favor! — Ora, não se preocupe comigo. Preciso saber o que preciso fazer para auxiliar no trabalho. O clima continuava tenso. — Claro! Vamos ao que interessa. — Respondeu a ele com o desejo íntimo de saber se ele era romântico. — Hora de trabalhar. ******** Os dias foram se passando. Entre eles, como devia ser, havia espaço apenas para as atividades profissionais. Klaus se mostrava um dedicado assistente, ágil nas suas ações, e notável para a otimização da agenda na área de marketing. O que precisava. Ele conquistava a sua confiança e por mais que fosse proibido... O seu coração. Em certas ocasiões, os toque sutis preenchiam o ar de tensão entre eles, tornando perceptível uma pitada de " alguma coisa no ar". Ela sonhava com o dia em que quebrariam as barreiras e fariam tudo o que tivessem direito. No pensamento dela, já eram amantes inconsequentes. Mas a realidade era diferente. Diria que Klaus era o tipo difícil e a evitava de todas as formas. Errado ele não estava, mas isso fazia aumentar o seu interesse. Mas a dúvida pairava a seu respeito: por que ele, por breves segundos, demonstrava olhares furtivos, repleto de desejo? A posição hierárquica de patroa x empregado era o empecilho? O noivado? Ou havia algo mais obscuro? Disposta a saber mais sobre ele decidiu levá-lo para além do ambiente de trabalho e decifrar aquele enigma. * Theé mou! (Θεέ μου!) significa meu deus e é frequentemente usada como uma exclamação de surpresa, admiração ou espanto, e não necessariamente implica uma conotação religiosa.