O primeiro urro ecoou tão perto que Scarlet sentiu o calor do bafo na nuca. Correr era inútil humanos não fugiam de lobisomens. Quando caiu de joelhos, viu apenas olhos dourados e dentes afiados... até que ele surgiu das sombras.
Não se mova. Kieran ordenou, puxando-a contra seu corpo. Eles adoram quando você treme. Scarlet não entendia por que aquele lobo a protegia... ...nem que seu sangue já havia condenado os dois." "Quando Kieran a levou para a caverna, Scarlet viu a cicatriz no peito dele idêntica à da mãe que ela enterrara anos atrás. Antes que pudesse perguntar, um novo urro rasgou a noite. Dessa vez, vinha acompanhado de uma voz humana. Scarlet... chamou Rafael, surgindo entre as árvores. — Você realmente acredita que ele te quer por amor? A floresta cheirava a terra molhada e pinho, um aroma que normalmente acalmava Scarlet. Mas naquela noite, o ar estava pesado, carregado de algo que fazia os pelos de seus braços se arrepiarem. A lua, quase cheia, derramava sua luz prateada entre as árvores, criando sombras que se contorciam como criaturas vivas. Ela não deveria estar ali. O aviso de sua avó ecoou em sua mente: Não ande sozinha na floresta quando a lua estiver gorda, menina. É quando eles caçam. Scarlet apertou o casaco de lã contra o corpo, tentando ignorar o frio que lhe percorria a espinha. Estava atrasada — o trabalho na fazenda a prendera até tarde — e agora cada passo seu parecido ecoar como um trovão na quietude noturna. Foi então que ouviu. Um som baixo, quase imperceptível. O farfalhar de folhas sob algo grande. Seu coração disparou. Quem está aí? Sua voz saiu trêmula, mais alta do que pretendia. Silêncio. Depois... um rosnado. Não era um cão. Era mais profundo, mais selvagem Scarlet girou nos calcanhares, pronta para correr, quando seus olhos encontraram os dele. Dois pontos dourados brilhando na escuridão. Não corra. A voz era áspera, um comando que parecia vibrar em seus ossos. Scarlet congelou, a respiração presa na garganta. A figura que emergiu da escuridão era alta muito alta com ombros largos que bloqueavam a luz da lua. Eles gostam do cheiro do medo ele disse, aproximando-se. Quando entrou num raio de luz, Scarlet viu o rosto do homem — não, não era um homem. Suas pupilas eram verticais como as de um felino, os dentes muito afiados quando falou. Você... você é um... Kieran ele cortou seu pensamento, o nome saindo como um rosnado. E você, humana, está a uns bons minutos de se tornar jantar. Scarlet engoliu seco. Ele estava a menos de um metro agora, e ela podia sentir o calor emanando de seu corpo, misturado com o cheiro de floresta e algo mais... metálico. Sangue? Eu só quero ir para casa ela sussurrou. Os olhos dourados estreitaram. Sua casa foi invadida há meia hora Kieran inclinou a cabeça, como se escutasse algo distante. Sua família já se foi. O mundo girou. Isso é mentira! Scarlet avançou, os punhos cerrados, mas Kieran a agarrou pelo braço antes que pudesse acertá-lo. O toque queimou. Literalmente. Agh! Ela tentou puxar o braço, mas sua pele onde ele a tocava agora fumegava levemente, marcada com um padrão estranho, como letras antigas. Kieran soltou-a como se tivesse sido ele o queimado, seus olhos arregalados. Isso é impossível... ele murmurou, olhando para suas próprias mãos, depois para Scarlet. Você é a Ligação. Antes que ela pudesse perguntar o que diabos aquilo significava, um novo som rasgou a noite um uivo longo, agonizante, seguido por risadas. Humanas. Kieran empurrou Scarlet para trás de uma árvore grande, seu corpo encobrindo o dela. Fique quieta ele ordenou, os músculos tensos. Mas era tarde demais. Bem, bem, o que temos aqui? Uma nova voz flutuou no ar, doce como mel e tão falsa quanto. Scarlet espiou por cima do ombro de Kieran e viu ele. Mais alto que Kieran, com cabelos tão escuros que pareciam absorver a luz, e olhos... Deus, seus olhos. Azuis como o céu antes da tempestade, e tão frios quanto. Rafael, Kieran rosnou o nome como uma maldição. O recém-chegado sorriu, mostrando caninos que pareciam ainda mais afiados que os de Kieran. Irmãozinho, escondendo petiscos de mim outra vez? Rafael deu um passo à frente, e Scarlet jurou que o ar em volta dele tremia, como asfalto no calor. Kieran soltou um rosnado que fez o chão tremer. Ela não é comida! Não?! Rafael inclinou a cabeça, estudando Scarlet com uma intensidade que a fez querer se esconder. Então por que você parece pronto a devorá-la? Scarlet sentiu o rosto esquentar, mas antes que pudesse responder, Rafael estalou os dedos. Ah, espere... seus olhos azuis brilharam com reconhecimento. Ela é a Ligação. Kieran avançou, mas Rafael foi mais rápido. Em um movimento borrado, ele estava a centímetros de Scarlet, sua mão fria envolvendo seu pescoço. Que sorte a minha ele sussurrou, seu hálito gelado contra sua orelha. Eu sempre quis ter uma humana de estimação. Scarlet tentou puxar seu pescoço para trás, mas Rafael apertou levemente, não o suficiente para machucar, mas para lembrá-la: Eu posso! Solte-a Kieran estava se transformando, seu corpo contorcido, ossos quebrando e se reformando. Rafael riu. Tarde demais, irmão. A alcateia já sabe. E Valquíria está muito interessada na nossa pequena... ele cutucou a marca na pele de Scarlet, fazendo-a gritar de dor. Ligação. O último coisa que Scarlet viu antes de o mundo escurecer foi Kieran saltando em sua direção, suas garras brilhando sob a lua... e os olhos de Rafael ardendo como fogo azul.