Evelyn
Segurei o diário com as duas mãos por um tempo antes de conseguir abri-lo de novo. As páginas tinham cheiro de papel antigo misturado com algo que eu não sabia como descrever, talvez memória. Dante permaneceu por perto, sentado na poltrona, silencioso e atento. Eu sentia o olhar dele mesmo quando não levantava o rosto.
Li. Li tudo. Os pensamentos da minha mãe não eram suaves. Eram crus, feridos, às vezes até amargos. Ela não escrevia para ser compreendida, escrevia para sobreviver. Descobri uma mulher que eu não conhecia por completo. Uma Eloise que amava, mas que também sangrava. Que confiou e foi traída. Pelo marido. Pela própria irmã.
Minha garganta apertou quando percebi que eu nunca tinha sabido de nada daquilo. Nem do passado dela. Nem da história da tia Betty. Nem da dor que justificava tanto silêncio, tanto afastamento. Pela primeira vez, a revolta da minha mãe deixou de parecer exagero. Ela fazia sentido. Tudo fazia.
Fechei o diário com cuidado, como se pudes