Dante
Eu estava sentado na beira da cama do hotel, encarando a parede bege barata. O quarto tinha cheiro de produto de limpeza e solidão recém-arrumada. O relógio já marcava o fim da manhá, mas dentro de mim já era muito tarde, como se tivessem passados horas e horas.
Levantei e caminhei de um lado para o outro. Eu podia ir embora. Podia fazer o que faço há anos quando tudo explode: sumir por alguns dias, fingir que o mundo para sem mim, até a poeira baixar. Mas ela não era poeira. Ela era terremoto.
Peguei o celular e disquei o número de Evelyn.
Chamou.
Chamou.
Chamou.
Nenhuma resposta.
Tentei de novo. Nada. Só o silêncio completamente vazio como eco.
Soltei o ar devagar, sentindo o peso se acomodar nos ombros. Ela precisava de tempo. E eu… precisava aceitar isso.
Desci, fechei a conta no balcão com uma educação mecânica, e saí para a frente do hotel com a sensação de que estava fazendo a coisa errada — como quase tudo o que eu fazia quando se tratava dela.
O