Havia um quadro na parede de uns dos cômodos, um retrato do meu pai e da minha mãe em seu casamento, anos atrás e aqui em Noronha.
Eu não sabia muito sobre minha mãe, sabia que meus pais se conheceram em um dos verões que Jorge passou na propriedade em Noronha, sabia que — segundo ele — foi amor a primeira vista e também sabia que minha mãe foi embora dias após meu nascimento. Meu pai dizia que foi minha mãe quem escolheu meu nome e sempre foi evidente a decepção e tristeza que ele sentia pela partida da esposa sem sequer dizer adeus, ele nem mesmo sabia os motivos de sua partida, para ele, Angeline era feliz. Angeline, sempre achei esse nome tão bonito e pelo retrato percebi que não era apenas o nome, meu pai sempre dizia que puxei a beleza da minha mãe, mas olhando para o retrato, eu sabia que ela era mais bela. Meu pai não estava passando bem e por isso não desceu para o café da manhã. Fiz companhia para ele durante toda a manhã, contando sobre a faculdade e a vida em Roma. Percebi que ele estava... Diferente. Muito mais atencioso e presente. Algo que para mim não era comum, Jorge Pellegrini é dono de uma minedora que atua em vários estados brasileiros, então, ele é um homem importante, com contatos dentro e fora da política e no exterior, o tipo de homem que você não gostaria de se meter. Com tantas responsabilidades, a família nunca foi prioridade e por isso ele nunca se casou novamente, mas teve inúmeras namoradas, que estavam ali apenas pelo dinheiro. Pela ausência de pais e por todas as coisas que envolviam o nome da família, acabei me envolvendo com as pessoas erradas, que me apresentaram algumas drogas, elas me ajudavam a fugir da realidade, da vida que eu odiava, mas a verdade é que só me afundei mais. Depois de um ano de luta, consegui me livrar dos vícios, me afastei dessas "amizades" e decidi me mudar para a Itália e estudar, era melhor ficar longe de toda essa bagunça e jogo sujo, mas eu sabia que uma hora eu teria que voltar e dessa vez eu não era mais uma adolescente fraca e estava pronta para o que viesse, até mesmo um casamento arranjado. Talvez esse fosse o motivo do casamento. Ele não confiava em mim. — Sabe o que te espera não é? — perguntou meu pai, adivinhando o que eu estava pensando. Ele era bom em ler as pessoas e tinha experiência em detectar mentiras. Apenas balancei a cabeça concordando e abaixei o olhar para minhas mãos, onde na mão direita, o anel de diamante rosa que ganhei dele ao completar 15 anos, descansava, esperando ser substituído pelo anel de noivado. — Sei que vai dar conta. Você se tornou uma mulher, além disso, terá seu marido ao seu lado. — Acho que ele é minha maior preocupação. — falei olhando em seus olhos. — Essa noite você verá que não tem com o que se preocupar. Ettore e a família dele virá jantar conosco, para oficializar a união de vocês. Essas palavras mais pareciam facas atravessando meu coração. Senti vontade de chorar, mas não faria isso, não na frente dele. Segurei sua mão e depositei um beijo em sua bochecha. — Vou almoçar na vila hoje, preciso espairecer. — ele concordou e saí de seu quarto. Vesti um shorts curto e uma camiseta soltinha, coloquei uma Havaianas branca e desci a pé para a vila. Não é comum andar de carro por aqui, geralmente os turistas alugam buggys para se locomover, mas eu não estava com pressa.