Alonzo
Fazia dias que o silêncio de Antonella me perseguia. No café da manhã, ela passava por mim sem sequer me olhar. Na empresa, falava apenas o necessário, e sempre com a postura de uma executiva que aprendeu a se proteger.
Eu sabia que era culpa minha. E quanto mais ela se afastava, mais o meu autocontrole se desmanchava.
O relógio marcava nove e meia quando Letícia apareceu na minha sala. Vestida de menos para o horário, salto alto e perfume forte.
— O relatório da filial de Montreal, senhor Karvell — disse, colocando os papéis sobre a mesa.
Assenti, sem levantar o olhar.
— Pode deixar aí.
Mas ela não saiu.
— Eu sei que você pensa nela — disse, cruzando os braços. — Mas ela não te quer, Alonzo.
Levantei os olhos devagar.
— Não começa, Letícia.
— Estou sendo realista. — Deu um passo à frente. — Enquanto você se destrói, ela vive como se não tivesse marido.
A raiva me subiu pelo corpo, quente.
— Chega.
— Por quê? — ela provocou. — É tão difícil admitir que perdeu e que tem outra es