Kaito soltou a cabeça de Leon, sua respiração falhou por um instante e ele se desequilibrou, mas se estabilizou segurando-se na mesa. As respostas que eles precisavam estavam na mente dele, mas agora vinha a parte mais difícil: ele teria que reproduzi-las a todos. Ele parou por um instante, fechando os olhos como se montasse um quebra-cabeça antes de desmontá-lo outra vez. — Dispersão. Sua voz grossa quebrou o silêncio de outrora. Todos estavam estáticos, parados como se tivessem sido eletrocutados. — Não... não... não pode ser — Ágata se equilibrava, segurando-se nas coisas ao redor, quando Kaito a segurou. Um porto seguro no meio daquele oceano agitado. — É ela, Kaito! É a Rarim, é a minha irmã. Mesmo estando tão crescida... eu sei que é ela! — Ágata chorava como se um membro estivesse sendo arrancado dela. — Já temos as respostas. E uma próxima missão — Kael falou, pegando a caneca sobre a mesa. — Antes de matar o rei dos demônios, vamos trazer Rarim para casa. Kael
— Por favor, Kaito, traga ela de volta, como fez comigo! Por favor! — Ágata gritava, os joelhos cravados no chão, as mãos tremendo enquanto seguravam a bainha da roupa de Kaito.Ele se ajoelhou diante dela, os olhos sombrios refletindo a dor que compartilhavam.— Agui, não funciona assim. A Rarim... ela não está ferida da mesma forma. A dor dela é diferente. Eu daria minha vida para trazê-la de volta, mas agora, ela tem que querer voltar. Algo prendia você aqui, você queria se curar... Mas ela desistiu.Ágata balbuciou palavras ininteligíveis entre soluços.— Não... não... Rarim, eu voltei! Rarim, acorda, por favor!Uma voz inesperada interrompeu seu desespero.— Eu posso ajudar. — Andrômeda surgiu, caminhando com dificuldade, apoiada em Kael. Seu rosto estava pálido, e o corte profundo em sua barriga mal havia parado de sangrar.Ágata levantou a cabeça, a esperança tingindo seus olhos molhados.— Você pode trazê-la de volta?Andrômeda apoiou-se mais firmemente em Kael e sorr
Assim que seus pés tocaram o chão, Andrômeda sentiu o peso do próprio corpo e vacilou. Rarim estendeu a mão para ajudá-la a se erguer.Kael, por outro lado, não teve tanta sorte. Yoran o carregou até a cama, onde ele se contorcia em agonia. O suor escorria por sua pele, seu corpo tremia, e a dor parecia devorá-lo pouco a pouco.— Ninguém toca nele. — A voz de Ágata cortou o silêncio, firme e decidida.Os outros hesitaram, observando Kael sofrer.— Ele precisa sentir isso. — explicou Ágata. — Há anos, tomei metade da alma dele... depois que ele perdeu alguém muito importante.O silêncio pesou no ambiente. Rarim desviou o olhar para Andrômeda e, num gesto discreto, apontou para a porta, sugerindo que era hora de sair dali. Mas, antes que pudesse tocá-la, sentiu uma mão segurando a sua.— Como alguém tão calma se tornou tão imprudente? — Leon murmurou.Rarim soltou a mão dele e o encarou.— Se quer continuar sendo prisioneiro, fique. Eu vou morrer tentando ser livre.Leon suspir
A noite caiu. Andrômeda se moveu furtivamente pelo corredor, seus passos leves como o vento.Kael estava deitado, suando frio, o corpo tremendo. Andrômeda se aproximou e segurou sua mão.— Saray disse que eu devia confiar em você. Disse que cuidaria de mim.Ela fez uma pausa, seus olhos observando o rosto vulnerável de Kael.— Eu não preciso que faça isso. Mas... gostaria muito de me sentir segura em algum lugar. Então, se puder se esforçar para voltar... eu ficaria muito grata.Sem perceber, adormeceu ao lado dele.Kael abriu os olhos e a encontrou ali, serena. Por um momento, não se moveu. Era a visão mais linda do mundo.Lembrou-se da primeira vez que a viu... O vento bagunçando seus cabelos, sua risada tornando qualquer melodia sem graça. Nunca vira nada brilhar mais do que os olhos dela. Qualquer estrela sentiria inveja daquele brilho.Ela era a mulher mais linda do mundo.E ele rejeitaria tudo — o trono do inferno, todo o poder que carregava — só para tê-la outra vez nos braços.
Ágata caminhava de loja em loja, um sorriso travesso nos lábios, arrastando Andrômeda e Rarim como duas bonecas de pano para experimentar roupas.— Não precisa ser necessariamente um vestido, não é, capitão? — Kael perguntou, olhando para Andrômeda com um brilho nos olhos.— Não, algo confortável já serve. Olha esse tecido, bem macio — respondeu, deslizando a mão sobre a roupa de Andrômeda... e seus seios.Antes que pudesse se dar conta, um espartilho atingiu seu rosto com força.— TIRA A MÃO, SEU SAFADO! — Rarim e Ágata gritaram juntas.Kael apenas riu, enquanto Andrômeda ajeitava a roupa, o rosto ruborizado.— Kaito, gostou desse? — Ágata perguntou, girando diante do espelho.Ele nem levantou os olhos do livro que lia com fervor, um presente de Yoran: "A Arte de Atrair Mulheres".— Difícil dizer, Ágata... Você ficaria linda até sem nada. Mas devo admitir que esse vestido exalta sua beleza de uma forma quase indecente. Até um cego veria o quanto você é deslumbrante — disse, f
Na manhã seguinte, os ânimos não estavam dos melhores. Alinna, Ágata, Rarim e Andrômeda se arrastaram até a cozinha, despertadas pelo tilintar de pratos e copos. Todos os quartos tinham isolamento acústico — um capricho de Ágata — então, provavelmente, os rapazes deixaram as portas abertas. O caos reinava na cozinha. Boldar estava encostado em Yoran, ambos rindo da cena que se desenrolava diante deles. Kael, Leon e Kaito lutavam para preparar o café da manhã. Kaito e Leon até tinham alguma habilidade na cozinha, mas Kael... era um desastre completo. — Acho que sua amiga deveria contratar uma cozinheira, capitão. Se o senhor continuar se aventurando na cozinha, é capaz de criar um monstro de gororoba. — Yoran gargalhava, enterrando o rosto no ombro de Boldar. — Fique à vontade para ajudar. — Kael respondeu distraído, no exato momento em que queimou a mão. O grito de dor arrancou mais uma gargalhada de Yoran. Ordam entrou calmamente, mas, ao ver a bagunça, paralisou, boqui
O lago refletia a luz pálida da lua, as águas agitadas pelos resquícios da fúria de Kael. Seu peito subia e descia de forma descompassada, os punhos cerrados, as chamas ao seu redor se dissipando aos poucos.— Eu vou quebrar essa maldição! — sua voz rasgou o silêncio da noite, ecoando entre as árvores.Um movimento sutil atraiu sua atenção. Passos leves sobre a terra úmida. Ágata emergiu das sombras, os olhos baixos, segurando Rarim pelo pulso. A jovem estava tonta, os lábios pálidos, mas ainda assim, consciente.— Ágata? — Kael franziu a testa, seus instintos em alerta.Ela ergueu o rosto, os olhos agora âmbar brilhando sob a luz fraca. Mas não havia arrogância, nem sorriso cruel. Havia apenas uma calma perturbadora.— Me desculpe, Kael. — Sua voz era suave, mas carregada de uma decisão irrevogável. — Mas eu não posso ficar.A inquietação cresceu dentro dele. Algo estava errado.— O que você está dizendo? — Ele deu um passo à frente, mas parou quando sentiu outra presença.Di
Depois de algumas horas e lágrimas, Kael voltou seu olhar para algo que não fosse o ciúme ou o medo cego de perder Andrômeda outra vez. Talvez o livro de Casmor tivesse alguma nota ou inscrição sobre toda aquela merda. — Kael — Marcel chamou, segurando a maçaneta da porta. — Vim me despedir, vou voltar ao reino das fadas — ele disse, sério. — Por que veio se despedir? Não somos amigos — Kael respondeu, com os olhos fixos no livro à frente. — Não vim me despedir de um amigo, vim me despedir do líder dos sete pecados capitais. Obrigado pela recepção e por salvar minha vida, talvez eu possa te agradecer no futuro — Marcel respondeu, se endireitando na porta. Kael sorriu sem humor. — Ficar longe da And seria uma ótima forma de agradecer. Marcel bufou. — A And é minha amiga e... — Não. — respondeu Kael, se levantando. — Ela é minha mulher, não é sua amiga, sua protegida, sua aluna, ela não é nada disso. — Tudo bem, entendi. Não precisa fazer xixi nela pra marcar território