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CAPÍTULO 8 : Yoran, o Pecado da Ganância

Dois dias se passaram e eles avistaram Bazzard, uma cidade de pedra e ferro, com ruas fervilhantes de mercadores, guardas e viajantes. Kael e Ágata passaram pelos portões e sentiram o cheiro de carne assada e especiarias que rodeava a cidade. A fome falava alto, estava quase na hora do jantar, e a boca de Ágata encheu d’água, mas eles tinham trabalho a fazer, então ela focou nisso.

— Vamos direto à prisão — disse Ágata.

Eles entraram sem dificuldade, exibindo o selo do rei. O prédio era sombrio e úmido, impregnado pelo cheiro metálico de ferrugem e algo mais… algo que Kael reconheceu no instante em que cruzou a entrada.

Ódio.

Quando a cela de Yoran foi aberta, a reação dele foi imediata. Um soco certeiro atingiu Kael no queixo, jogando-o para trás.

— Acha que eu sou idiota?! — rosnou Yoran. — Acha que eu não ia sentir esse cheiro podre em você?!

Kael se ergueu, limpando o canto da boca, o olhar endurecido.

— Diga ao seu pai...

Antes que terminasse, Kael revidou o golpe, arremessando Yoran contra a parede.

Ágata segurou seu braço antes que ele avançasse de novo.

— Chega.

Yoran cuspiu no chão e estreitou os olhos para ela.

— O que vocês querem?

— Falar com você — respondeu Ágata, soltando Kael. — Mas, se preferir continuar bancando o idiota, podemos deixá-lo aqui.

Yoran bufou.

— Eu não me importo de estar aqui, eu est—

— Aqui por vontade própria, blá-blá-blá… — Ágata revirou os olhos. — Podemos acabar com isso antes do jantar?

Yoran ficou em silêncio.

Kael saiu da sala a pedido de Ágata, encostando-se à parede do lado de fora.

— Isso vai demorar… — ele pensou, fechando os olhos.

Mas, para sua surpresa, minutos depois, Ágata surgiu com um pequeno sorriso.

— E aí, Aghi? Ele vem com a gente?

Ela balançou a cabeça.

— Sim, vai e ago...

Kael fechou a mão. Sem aviso, girou o corpo e socou Yoran no rosto, antes de Ágata terminar de falar.

O impacto o jogou para trás, caindo pesadamente no chão de pedra.

— Se quiser dizer algo ao meu pai, diga direto pra ele. Eu não sou um garoto de recados — rosnou Kael.

Yoran se ergueu devagar, limpou o sangue do lábio e… sorriu.

— Então esse é o nosso capitão?

Kael bufou.

Ágata massageou as têmporas, exausta.

— Já começaram com isso… Não esqueçam, meninos, meu jantar.

A volta para casa foi silenciosa. Nem mesmo o vento soprava. De vez em quando, Kael olhava para Ágata, que não parava de encarar a lua como se houvesse uma tempestade dentro dela.

— Tudo bem, Aghi?

— Sim… Só odeio ficar com fome. Fico irritada e pouco tolerante.

Yoran riu, mas não comentou nada.

Assim que chegaram em casa, Ágata foi para a cozinha. Mexia na panela com concentração, os movimentos leves como os de uma maga treinada. Mas havia algo estranho. O cheiro não era exatamente apetitoso.

Kael, observando atentamente, percebeu o problema.

Ágata não sabia cozinhar.

Yoran, deitado numa cadeira próxima, sorria divertido.

— Então essa é sua ideia de refeição? — ele provocou, com humor evidente na voz. — Não tem nada mais… comestível?

Ágata o encarou e riu, nervosa.

— Não sou uma chef, Yoran. — Mexeu a colher na panela, frustrada. — Talvez eu devesse deixar a culinária para depois.

Ele cruzou os braços, ainda sorrindo.

— Olha, não sou exigente… — fez uma pausa, analisando o conteúdo da panela. — Mas isso aqui… nem meu estômago aceita.

Ágata revirou os olhos, mas, para sua própria surpresa, riu junto com ele.

— Certo, você venceu. — Ela ergueu as mãos em rendição. — Cozinha não é o meu forte.

Kael se divertiu com a cena, mas logo voltou sua atenção para algo mais importante.

— Yoran… — ele começou, casualmente. — Aquele artefato místico que você encontrou… o que exatamente é?

O sorriso de Yoran desapareceu por um instante. Ele lançou um último olhar para Ágata, que já tinha aceitado a crítica culinária, e se recostou na cadeira.

— Ah, o artefato… — Yoran murmurou, com um brilho nostálgico e preocupado nos olhos. — Bom, não foi exatamente “encontrado” de forma limpa.

Kael manteve o olhar atento.

— Na verdade, foi meio… desastroso — continuou Yoran, a voz mais baixa. — Eu tinha acabado de perder um amigo. O único que eu tinha. Fiquei desnorteado. Passei dias vagando sem rumo e, sem perceber, entrei no Reino das Fadas.

Ele fez uma pausa, mordendo o lábio.

— As fadas… não são fãs de humanos. Me cercaram antes que eu percebesse. E pediram que eu gentilmente me retirasse. Dei meia-volta e entrei no reino D’Vriz, um reino antigo e esquecido. Alguns aldeões que moravam perto da fronteira me disseram que ele foi destruído por magia negra há muito tempo. Não dei importância. Estava com sede e com fome demais pra prestar atenção numa lenda mal feita, então fui até um rio beber água. Depois de andar tanto e não ter tomado banho, meu estado era deplorável. Quando entrei no rio, um brilho na nascente me chamou a atenção.

O silêncio pesou na sala.

— Tentei me aproximar, mas o chão cedeu e eu caí. Pensei que encontraria mais água ou talvez ouro, mas encontrei uma caverna. O estranho era que, apesar do som da cachoeira, o lugar era quente… seco.

Kael não piscava, absorvendo cada palavra.

— Tentei voltar, mas não achei a saída. Então percebi… que não havia saída. Comecei a andar e a cogitar que talvez eu morreria ali.

A respiração de Ágata ficou mais pesada.

— Foi quando vi uma chama fraca, como uma vela solitária. Como não havia mais nada a fazer, me aproximei da vela, mas...

Ele hesitou, os olhos escurecendo.

— Ela me rejeitava. Eu não conseguia tocar nela, mesmo que tentasse.

Kael sentiu um arrepio subir pela espinha.

— E então — Yoran sussurrou — uma voz quebrou o silêncio.

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