CamilleO som do carro desacelerando à medida que me aproximava da mansão me deu uma sensação de desconforto. O bairro estava tranquilo, como sempre, mas algo parecia fora de lugar naquele momento. Cada curva da rua, cada rua em que passava, parecia aumentar o peso dentro de mim. Meus pensamentos estavam em uma tormenta constante, e a cada quilômetro percorrido, a culpa aumentava como uma avalanche prestes a me consumir.Sabia que a escolha que fizera não tinha volta. O que fizera para proteger meus filhos, para garantir sua segurança, me deixava com o estômago apertado, uma sensação de angústia que parecia corroer minha alma. Mas, ao mesmo tempo, havia algo em mim que me dizia que eu não tinha alternativa. Eu havia sido pressionada, manipulada, e agora estava pagando o preço por isso.O motorista estacionou o carro na entrada da mansão, e saí rapidamente, sem dizer uma palavra. O som da porta batendo atrás de mim parecia distante, como se o mundo estivesse em um silêncio absoluto, e
JavierEstava andando pelos corredores da mansão, como de costume, sempre com a mente ocupada. As semanas passavam como um borrão, e eu tinha tanto para gerenciar, tantas coisas pendentes, mas nada parecia mais importante do que ela. Camille. A mulher que, ao lado dos meus filhos, se tornou a minha razão de viver. Mesmo que as circunstâncias a rodeassem com tanta dor, eu não podia deixar de sentir um amor imenso por ela, algo que ultrapassava o medo e as complicações.Quando cheguei ao quarto, a cena à minha frente me paralisou. Camille estava no chão, os braços ao redor dos joelhos, os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Ela estava tão absorta em sua dor que nem percebeu minha chegada. O ar estava pesado, e eu sabia que algo não estava certo.Ela, sempre tão forte, sempre tão determinada, agora parecia totalmente quebrada, como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros.Parei na porta, sem saber o que dizer.Por um instante, uma onda de culpa me invadiu, me fazendo quest
JavierO silêncio do meu escritório era apenas aparente. A tensão no ar, quase palpável, parecia sussurrar segredos não ditos. Os papéis espalhados sobre a mesa, junto com os relatórios da segurança, não me davam respostas. Era como se todos os esforços para manter o controle tivessem desmoronado em questão de segundos.Minha mãe estava desaparecida, sequestrada debaixo dos meus olhos. O sentimento de impotência era algo que eu não tolerava, ainda mais agora, quando minha família estava diretamente ameaçada.Minhas mãos estavam cerradas em punhos sobre a mesa. Olhei para o telefone, esperando por qualquer notícia que pudesse me dar uma pista. A cada segundo que passava, o ódio fervilhava dentro de mim. Quem quer que tivesse cometido esse ato sabia exatamente o que estava fazendo.Levaram minha mãe, a mulher que há anos estava presa no limbo entre a vida e a morte, com o único propósito de me atingir. E estavam conseguindo.A porta do escritório se abriu com força, fazendo um estrondo
CamilleEstava no quarto, embalando um dos gêmeos enquanto Carmen mantinha o outro entretido com um brinquedo de pelúcia.O dia tinha sido relativamente calmo, mas eu sabia que a paz era algo fugaz na vida que levávamos. Desde o sequestro da mãe de Javier, a tensão na casa tinha se intensificado, e, mesmo que ele tentasse esconder, eu podia ver a exaustão estampada em seus olhos.Quando ouvi o leve deslizar de um envelope sendo empurrado por baixo da porta, meu coração parou. Coloquei o bebê no berço e, com mãos trêmulas, caminhei até a porta. Peguei o envelope, sentindo o peso da ameaça que ele carregava antes mesmo de abri-lo.O bilhete tinha a mesma letra fria e meticulosa de Juan Carlos. Apenas uma frase, curta e cruel, que me fez sentir como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés:“Descubra o galpão onde Javier guarda a mercadoria ou os seus filhos serão os próximos.”Minhas pernas fraquejaram, e me apoiei na beirada da cama para não cair. O papel tremia nas minhas mãos enqu
Camille A noite estava silenciosa, mas eu não conseguia ouvir nada além do tumulto dentro da minha mente.Desde o bilhete de Juan Carlos, minha cabeça girava em busca de uma solução. Agora, com um plano em mente, sentia o coração bater forte, cada pulsação ecoando nas paredes do quarto escuro.Javier estava em uma reunião com os homens da segurança, ocupado demais para notar meus movimentos. Essa era minha única chance. Se esperasse mais, poderia perder o pouco controle que ainda tinha sobre a situação.Os gêmeos dormiam tranquilamente nos berços, suas respirações suaves contrastando com minha ansiedade crescente. Acariciei o rostinho de cada um, memorizando suas feições inocentes, como se precisasse de forças para o que estava prestes a fazer.— Eu amo vocês — sussurrei, minha voz embargada. — Tudo isso é por vocês.Peguei uma pequena bolsa onde já havia colocado algumas roupas e itens essenciais para os bebês. Carmen estava de folga naquela noite, então não havia ninguém no andar p
CamilleA luz suave do sol da manhã penetrava pelas janelas do carro enquanto eu dirigia pelas ruas tranquilas em direção à escola de Sarah.Meu coração estava acelerado, embora eu tentasse manter a respiração calma e o rosto sereno. A decisão que havia tomado era definitiva: eu não podia mais ficar naquela cidade. Não depois do que havia acontecido comigo. Não com tudo o que sabia agora.Sarah era minha prioridade, minha irmã caçula que vivia em uma escola integral. Eu sabia que Javier era uma força avassaladora, mas não podia permitir que ele controlasse cada aspecto da minha vida. Não quando a segurança de todos que eu amava estava em jogo.Ao chegar à escola, estacionei o carro e esperei por Sarah na entrada. Ela saiu com sua mochila nas costas, um sorriso largo no rosto ao me ver.— Camille! Você veio me buscar! — Ela correu até mim, animada.Ajoelhei-me para ficar na altura dela, segurando suas mãos pequenas.— Sim, minha pequena. Hoje é um dia especial. Vamos dar uma volta junt
JavierA porta da biblioteca estava aberta, mas o ambiente ainda era envolto em uma calma que parecia artificial.Sentado atrás da imensa mesa de madeira escura, girava o anel no dedo enquanto olhava para o copo de uísque à minha frente. As horas anteriores tinham sido um turbilhão de emoções, mas agora havia algo mais intenso me consumindo: uma necessidade de respostas.Quando soube que Camille tentara sair da cidade, uma mistura de descrença e raiva tomou conta de mim. Não apenas por ela ter tentado fugir, mas pelo fato de ela não ter me contado nada e por ter descoberto da pior maneira o que deveria estar acontecendo há meses bem de baixo do meu nariz, permitindo isso por estar cego de amor por ela..— Ela chegou — a voz de Carmen anunciou da porta.Eu ergui o olhar, assentindo brevemente.— Traga-a aqui.Carmen hesitou por um momento, como se quisesse dizer algo, mas pensou melhor e saiu sem uma palavra. Poucos minutos depois, ouvi os passos de Camille ecoando no corredor. Quando
CamilleEu sentia o peso das palavras de Javier como uma lâmina fria cortando minha alma.Ele estava parado à minha frente, seus olhos escuros fixos em mim com uma mistura de raiva e incredulidade, como se eu fosse a última pessoa a quem ele deveria acreditar. Eu queria gritar, queria me explicar, mas as palavras estavam presas na minha garganta, como se uma força invisível me impedisse de falar.— Leve os gêmeos para longe dela, agora! — Javier falou, a voz tão firme, tão cheia de autoridade, que parecia um comando. Não era uma sugestão, nem uma preocupação... era uma ordem. E, naquele momento, as palavras dele pareciam ser mais do que um simples pedido. Pareciam ser a sentença de morte para tudo o que eu havia lutado para construir.Meu coração disparou.Eu olhei para os gêmeos, que estavam brincando no canto da sala, completamente alheios ao que estava acontecendo entre nós. Eles eram a razão pela qual eu respirava, o que me mantinha de pé. Mas agora, tudo parecia prestes a desmoro