Onde a Lua Toca o Vazio
Onde a Lua Toca o Vazio
Por: Clara do Rio
Capítulo 1
A lembrança daquela felicidade antiga me deixou um pouco atordoada. Samuel e eu éramos amigos de infância, e começamos a namorar aos dezoito anos.

Depois da faculdade, vivi com ele em um porão apertado, dividimos inúmeras dificuldades enquanto ele expandia sua empresa.

Mais tarde, ele me deu uma casa cara, um carro luxuoso.

Eu gostava de me vestir bem, e as novas coleções das grandes marcas sempre chegavam na minha casa primeiro.

Gostava de viajar, e mesmo ocupado, ele sempre arranjava tempo para me levar.

Ele nunca deixou de preparar alguma surpresa nas datas comemorativas.

Mesmo quando descobriu que eu não podia ter filhos, ele assumiu toda a responsabilidade.

Todos diziam que Samuel me amava loucamente.

Mas foi esse mesmo homem que, no sétimo ano de casamento, construiu outra família com sua secretária. Ele deu uma casa para Cláudia. Criou com ela um ninho de amor.

O homem que antes vinha para casa todas as noites, passou a não voltar mais. Ficava cada vez mais carinhoso com Cláudia, e cada vez mais frio comigo. Parecia que, só de me ver, ele já se irritava.

Eu não queria mais pensar nisso. Respirei fundo e comecei a recolher os cacos no chão do vaso quebrado na nossa última discussão.

Era nosso aniversário de casamento e, eu tinha preparado o jantar e esperado por ele. Ele prometeu voltar cedo mas, só chegou em casa às duas da manhã.

Ele estava ficando com Cláudia novamente.

Nós discutimos feio. E naquele dia, ele disse a frase que me matou por dentro:

— Gabriela, eu preciso de um filho.

Fugi de casa em pânico, sem coragem de ouvir o resto. Ele também não me seguiu. Passei uma semana na minha antiga casa, até sentir dor no estômago e ir ao hospital para fazer um check-up.

Ao ver a poeira no chão da sala, percebi que ele também não voltou nesses dias.

Enquanto me abaixei para limpar, o laudo médico caiu do meu bolso. Olhei para aquele papel e congelei.

Será que deveria contar a ele? Ele se importaria se soubesse que estou morrendo?

Meus olhos se encheram de lágrimas, mas logo em seguida ri do meu próprio pensamento. Ele já não era o mesmo Samuel de antes. O de hoje só diria: "Bem feito, você merece."

Respirei fundo e continuei arrumando.

De repente, a casa escura se iluminou. Alguém acendeu a luz. Olhei para a porta, estreitando os olhos. Samuel estava lá, com uma marca de batom bem evidente no colarinho branco.

— Já terminou o chilique? — Ele me encarou, levantando uma sobrancelha.

Não respondi, e escondi rapidamente o laudo no bolso do casaco.

Não esperava que ele voltasse naquela hora, e, no susto, acabei cortando a mão. Corri para a cozinha e lavei com água fria.

— É um truque novo? Vai começar a se machucar agora? Gabriela, como você é mimada!

Embora eu não esperasse mais nada dele, o meu coração doeu. Afinal, antes ele nunca falaria assim comigo. Ele sabia das minhas inseguranças, e sempre que brigávamos, ele me consolava com paciência. Às vezes eu ameaçava fugir de casa. Ele nunca ficava bravo. Sempre me encontrava.

Quando perguntei por que ele nunca se irritava comigo, ele disse:

— Porque quero te mimar até você nunca mais conseguir viver sem mim.

Por mais de dez anos, ele nunca falhou. Mas tudo mudou depois que Cláudia apareceu.

Fechei a torneira e peguei a caixa de primeiros socorros para fazer o curativo.

— Gabi, para com isso. — Sem ouvir minha resposta, Samuel suavizou a voz. — Ela não passa de uma diversão passageira. Todos os chefes são assim, e não estão sempre bem em casa? Assim que ela engravidar e ter o filho, vou mandá-la para o exterior.

Antes que ele terminasse, o celular dele tocou. Ele olhou para o telefone, atendeu e foi para a sala.

— Samuel, onde você está? Estou com medo de ficar sozinha, volta logo, por favor... — A voz manhosa e delicada era da Cláudia. Ele falava com doçura, como se ela fosse algo precioso.

Eu não disse nada. Terminei o curativo e continuei recolhendo os restos de comida que estavam há dias sobre a mesa.

Samuel desligou e ia saindo, sem nem olhar para trás.

— Samuel. — Chamei.

— O que foi agora? — Respondeu, impaciente. — A Cláudia está com febre. Eu preciso ir. Para de fazer drama.

— Vamos nos divorciar. — Eu disse.

— Gabriela, que loucura é essa?! — Ele franziu a sobrancelha. — Primeiro você se corta, agora vem com essa de divórcio. O que vem depois? Vai querer morrer?

— E se eu realmente estiver morrendo? — Perguntei baixo. Mas ele já havia fechado a porta.

A casa imensa mergulhou novamente no silêncio com o estrondo da porta batendo. Uma dor aguda tomou conta do meu abdômen. Corri para tomar o analgésico. A dor era intensa.

Queria contar a ele que eu realmente ia morrer.

Com as mãos trêmulas, disquei o número dele. Mas só deu sinal de ocupado. Ele me bloqueou.

Soltei um riso abafado, olhando para o calendário na parede.

— Samuel, hoje é o primeiro dia da minha despedida de ti.
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