22. ROMPENDO AS BARREIRAS
A manhã nasceu envolta em um silêncio quase sagrado, quebrado apenas pelo canto distante dos pássaros. A luz do sol filtrava-se pelas frestas da janela, projetando traços dourados no quarto. Isabela despertou devagar, os olhos ainda pesados, como se a própria noite tivesse deixado sobre ela um véu espesso de lembranças e sensações que se recusavam a partir.
O coração, inquieto, batia acelerado quando recordava — mesmo sem querer — os fragmentos da noite anterior. O corpo ainda guardava vestígios sutis, um arrepio que insistia em se prolongar na pele, como se cada toque tivesse marcado território. Sua mente, porém, teimava em repetir como um mantra: “Nada aconteceu. Preciso acreditar que nada aconteceu.”
Levantou-se devagar, com a estranha sensação de estar sendo observada por olhos invisíveis, e arrumou-se em silêncio. Quando saiu do quarto, a casa parecia comum, tranquila, quase enganadora. Mas ao adentrar a sala, lá estava Leonardo. Sentado à mesa, traje impecável, um jornal em mãos