NA RODA DO ESPANTO
Aria
O auditório improvisado do Centro de Acolhimento tem cheiro de café requentado e incenso de lavanda. A combinação não faz sentido, mas de algum modo lembra minha própria confusão: memórias amargas mescladas a tentativas de paz. Sento-me em uma das cadeiras de plástico dispostas em círculo. As pernas bambas denunciam um nervosismo que eu não sentia desde o dia em que entrei sozinha na maternidade, quatro anos atrás, com contrações irregulares e ninguém — absolutamente ninguém — para apertar minha mão.
A psicóloga de nome suave, Andreia, fecha a porta. O clique ressoa como um pequeno aviso: não há fuga fácil. Ela sorri, ajeita o lenço azul no pescoço e se apresenta aos recém-chegados, depois volta o olhar para mim:
— Aria, seria confortável se você se apresentasse? Apenas o que estiver pronta para dividir.
As treze pessoas no círculo aguardam. O ruído do ar-condicionado parece mais alto que meus batimentos. Inspiro devagar, lembrando do que dizia a obstetra: “Re