ENTRE GARFOS E FRAGILIDADES
A mesa é pequena, mas o silêncio ocupa mais espaço que qualquer cadeira. Julian mastiga seu arroz com feijão como se fosse o melhor prato do mundo.
Aria serve suco para ele, os olhos atentos a cada movimento, como se vigiasse uma fronteira entre o agora e o passado.
— O feijão tá mais gostoso hoje, mamãe. Foi o papai que ajudou? Julian pergunta, com os olhos brilhando de entusiasmo.
Aria sorri de leve.
— Ele lavou os grãos. Não queimou nada, então acho que foi uma boa ajuda.
Dou um sorriso discreto, como quem agradece um elogio mesmo que venha com provocação.
— Estou me especializando em lavar coisas. Pratos, roupas, feridas.
Aria me encara de soslaio. Não responde. Só mastiga devagar, como se a frase ainda ecoasse entre os dentes.
Julian, por outro lado, não percebe nada.
— A gente pode fazer brownie depois?
Igual aquele do café da vovó?
— Se você prometer que vai tomar banho sem reclamar. Ela responde, num tom maternal que me acerta como uma flecha no