A ambiciosa Soraya só queria uma coisa: fugir com seu amante milionário e não voltar a pisar no México, sobretudo a fazenda de São João de Agar. A pobreza e a miséria seriam esquecidas, não teria que contar dinheiro nem cozinhar algo barato para comer. Finalmente tinha encontrado o homem dos seus sonhos, capaz de lhe dar o mundo e cumprir todas as suas ordens. O que ela não sabia era que as memórias do abandono dos filhos recém-nascidos e do ex-marido o fariam arrepender-se. Decidida, volta para levar o que nunca deveria ter deixado: sua família. Eles a aceitarão de volta?
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Limpo as lágrimas que insistem em cair. As mãos trêmulas são o reflexo do meu corpo por completo. Fecho a tampa do vaso, sento e permaneço ali paralisada olhando o teste de gravidez, o qual deu positivo.
— Droga! Jogo o aparelho longe. Eu não queria ter filhos. Espremo os olhos. O choro está entalado na garganta, a mente vagueia em qual ponto deixei minha vida declinar. Limpo o nariz com dorso da mão. — Que merda!
— Soraya! B**e exasperado. — Soraya, abre essa porta!
Reviro os olhos. Sebástian me viu correr ao banheiro logo assim que chegou. Balanço a cabeça ao me recordar como estava. Patético. Patético. Um nítido caipira como nas novelas da TV, chegando com as compras do dia dizendo: querida! Eu cheguei! Ninguém merece esse traste.
Subo as pernas as deixando juntas, coloco a cabeça dentre elas tentando tapar o som que sai ao lado de fora.
— Soraya!
— Me deixe em paz!
Após alguns segundos, a porta é aberta abruptamente. Com seu traje típico, chapéu e calça jeans, ofegante, ele mira profundamente meus olhos.
— O que houve meu amor?
O analiso da cabeça aos pés. Deus me livre permanecer mais um minuto ao seu lado. Realmente é como minha mãe diz. Um maltrapilho, pobre, condenado a viver na miséria. Nunca poderá me dar o que eu mereço. Sebástian não é homem para mim.
— Eu lhe vi correndo ao banheiro. Conheço você desde quando era uma criancinha. Sei que quando está com medo se protege e não deixa ninguém penetrar. Agacha ficando a minha altura. — Minha linda. Encaixa dois dedos ao meu queixo o erguendo. — Me diga o que houve.
— Houve nada, me solta! Bato em sua mão. Me afasto ao mesmo tempo que escondo o teste atrás das costas. — Não temos nada para falar. Eu só passei mal e vim ao banheiro. Para de querer me controlar, eu odeio isso! Tem como esquecer um pouco que eu existo e me deixar viver em paz!
— Não, não tem! Você é minha mulher. Irá me dever satisfações até eu morrer. Junta as sobrancelhas. — Soraya, eu te amo, vamos tentar nos acertar. Não é possível que queira viver nesse pé de guerra para sempre. Somos casados, marido e mulher, temos que viver em união, como Deus manda. Tenta chegar perto. Recuo novamente.
— Eu não quero me acertar com você. Eu não quero mais morar nessa fazenda. Quantas vezes eu te pedi para arrumar uma casa melhor, um emprego decente, que te pagasse o suficiente para vivermos bem? Mas não. Você se contenta com migalhas.
— Temos um teto sobre a cabeça, alimento a vontade a nossa disposição. Olhe a nossa plantação, é vasta! Podemos comer do nosso fruto. Em relação ao dinheiro, eu te peço somente um ano, somente um ano para prosperar. Eu lhe prometo meu amor, eu serei o homem mais rico de toda essa região, lhe darei tudo o que quiser, nunca mais irá se preocupar com dinheiro.
Rio não entendendo como ele pode acreditar nas próprias piadas.
Lembro que o meu sutiã tem uma nota de 20 reais, pego e lhe ofereço. Junta as sobrancelhas intrigado.
— Para que isso?
— Para recarregar o celular e ligar para alguém que esteja interessado nas suas mentiras. Eu não tenho tempo para besteiras. Você nunca vai conseguir sair desse lugar. Vai morrer aqui com esses bichos, e eu não quero estar aqui para ver isso.
Dou as costas.
— Não pode agir assim, você é minha mulher e me deve respeito! Sinto meu corpo sendo puxado. Abro a boca a fim de reclamar, porém, constato que o teste de gravidez estava em minhas mãos.
— Isso não é o que você está pensando.
— Grávida. Surpreso, pisca algumas vezes. Logo, deixa as lágrimas rolarem e um grande sorriso surgir. — Grávida, meu amor. Eu vou ser pai! Coloca as mãos em meu rosto e o beija por completo. — Eu vou ser pai.
Meu corpo é rodado ao ar, o que me causa enjoo, ele percebe e para de imediato.
— Desculpe, meu amor. Agacha ficando a altura da minha barriga. De um jeito estranho, cochicha algo que não compreendo. Rolo os olhos e em pensamento peço para que esses meses passem o mais rápido possível. Não posso aguentar nem mais um minuto com esse homem, com essas crianças, com essa vida. Meu amante e eu tínhamos um plano, eu espero que ainda se cumpra, que Leandro possa aguardar esse tempo. Eu fugirei com ele.
9 meses depois
— Essas crianças não saem! Reviro os olhos com a dor dilacerando minha alma. Quando descobri que seriam gêmeos, o pânico me dominou. Estava com receio de uma cabeça sair de dentro de mim, ainda mais duas. — Tira logo!
— Respira fundo Soraya. O primeiro já está vindo. Minha sogra fazendo o meu parto era tudo que eu menos queria, infelizmente Geane é a única parteira da região. — É um menino. O choro ecoa pelo quarto. Jogo a cabeça para trás, parece que a dor vem de todos os cantos. Geane oferece a criança para que eu possa segurar, mas viro o rosto, não consigo pensar muito e a dor volta novamente.
— Oh, céus! Grito com toda força, sinto meu corpo rasgando por completo. Por alguns instantes penso que vou morrer. Com toda a certeza, isso não é de Deus. Aperto os olhos deixando cair algumas lágrimas. Com o resto de forças que tenho, uso para empurrar de uma vez a outra criança.
— Uma menina. Parabéns, Soraya. Um casal.
A porta é aberta em um estrondo. Com o chapéu pousado ao peito, Sebástian me olha, estende um mínimo sorriso, o suficiente para lhe fazer chorar. Impassível, acompanho seus passos. Dessa vez, abre um enorme sorriso quando vislumbra os gêmeos, com suas devidas mantas, os cobrindo. Com delicadeza, pega um em cada braço. Engulo a seco. Não sei o que sentir, não consigo olhar para eles.
Alguns segundos depois, Sebástian se aproxima da cama, rapidamente giro o rosto no sentido oposto. Prendo o lábio inferior, fecho os olhos, sentindo as mãos gelarem.
— Os gêmeos são lindos, meu amor. Segure-os, um pouco apenas.
— Não consigo.
— Só um pouco. Nada respondo. — Somente olhe então. São seus filhos, Soraya.
— Não insista.
Poucos segundos depois, percebo que ele se afasta e fecha a porta. Me permito recolher o corpo e chorar. Sinto como se meu corpo fosse usado e agora largado na cama. Como um descartável qualquer. Solto um suspiro pesado. Não se preocupe, Soraya. Logo esse pesadelo acabará.
Um mês depois
— Você vai deixar os gêmeos?
— Eu não quero eles.
— Soraya, não faça isso, por favor.
Olho por cima do ombro. Em cada braço estão seus filhos. A única coisa que posso sentir é como pude me envolver com esse homem, é digno de pena, chorando desesperado com duas crianças no colo. Ajoelha-se à minha frente, pedindo pelo amor de Deus para que eu não vá embora. A que ponto ele chegou? Endireito meus óculos escuros e solto a última frase antes de ir para sempre daquele lugarzinho de merda.
— Isso não é mais problema meu.
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SorayaO meu corpo se arrepia ao sentir o cheiro de gasolina. Aos poucos, meus olhos se abrem, e a luz solar me atinge. Coloco o antebraço em cima dos olhos impedindo os raios solares. Assim que eu consigo erguer o meu tronco, percebo que estou em cima de uma cama de solteiro, com um lençol branco em cima.Ninguém está em volta. É como se o galpão estivesse solitário, como se estivessem me abandonado a minha própria sorte. Quando tento me levantar sou forçada a recuar, pois algo havia me puxado de volta. Quando olho para baixo, percebo que as minhas mãos e meus pés estão amarrados por algemas de couro, ligadas em correntes grossas.Um cheiro forte predomina. Gasolina! Ele fica cada vez mais potente, como se fosse me sufocar. Eu preciso sair daqui!— Alguém me ajuda! Tento puxar as correntes, mas elas não se movem um centímetro. — Por favor, me soltem! Eu imploro.— Por que está gritando?Ao meio das sombras escuras do corredor, Diana aparece. Olho para sua silhueta. Ela utiliza um vest
A minha garganta está seca. Eu passei a minha língua suavemente entre os meus lábios. O que estava acontecendo? Quando tentei me movimentar, uma dor de cabeça invadiu o meu ser. Ao sentir as dores por volta do meu pescoço, eu pude lembrar o que aconteceu. O carro bateu em cheio em uma árvore protuberante nos fazendo sofrer o impacto.— Meu Deus!Com desespero pressionei o meu corpo na porta lateral, quando percebi que policial que estava dirigindo, havia sido morto. Com um pouco de esforço, encostei em seu corpo ainda quente, pude verificar os dois disparos em sua cabeça. Não havia sido pelo acidente, mas sim um assassinato.Olhei para todos os lados verificando se não tinha ninguém a me esperar para cometer o mesmo ato. Eu saí do veículo, e olhei em volta. Diogo Valadares freou bruscamente.— Que merda, aconteceu aqui? Você se machucou?Neguei.Em poucos segundos, estávamos rodeados dos carros dos policiais. Eu estava bem para continuar, e mesmo sobre os protestos deles eu entrei em
Sebástian— Analisando essa imagem, eu posso afirmar que esse papel foi assinado recentemente. O perito fala levantando as nossas suspeitas de que Leandro de Agar realmente voltou ao México.— Isso não significa nada. Mesmo que ele tenha assinado esse papel, quem me garante que eles têm alguma sociedade? A meu ver, vocês estão querendo me colocar contra minha ex mulher.Eu não aceitava o que os policiais haviam alegado. Eles disseram que Diana estava envolvida no sequestro relâmpago de Soraya.— Impossível! Ela sempre foi uma mulher decente, honesta, amorosa comigo e com as crianças. Ela jamais teria uma atitude ruim!— Você é muito inocente, ou está somente se fazendo de burro. Diogo me olha. Meu semblante se modifica. — Como a assinatura de Leandro iria parar em um exame de gravidez de Diana? Qual a ligação você acha que eles possuem?Junto as sobrancelhas. Aparentemente ele quer levar outra surra como da outra vez.— Você está insinuando que eles são amantes?— Eu não sei. O único
SorayaEu continuo olhando espantada para eles. Dentre todas as pessoas que poderiam trabalhar unidas para me sequestrar, eu jamais imaginei que Diana faria parte disso. Ela sorri como se comemorasse a minha desgraça. A única coisa que eu consigo perguntar é o porquê.—Diana... Por que você está aqui?— Porque eu não poderia perder a diversão. Quando Leandro disse que estava pronto para retornar para a fazenda, foi nesse instante que colocamos o nosso plano em prática.— Qual plano? Perguntei enquanto ainda sentia a ardência dos socos e bofetadas que desferiram em meu rosto. — Planos de me matar? É isso que vocês irão fazer?— Nossa, Soraya, você pensa tão mal de mim. Ela sorriu com ironia. — Como adivinhou que era isso mesmo que eu estava pensando?As lágrimas que criaram em meus olhos, foram escorrendo gradativamente. Eu só conseguia pensar em quem sofreria com essa história. Meus filhos! A sensação de morte iminente, fazia o meu peito se apertar, e o meu coração bater mais forte ao
SebástianTudo estava muito confuso. Eu havia levado as crianças para um passeio de cavalo, passeio esse em que Soraya não queria vir. Mesmo estranhando, preferi não importunar. Assim que retornei senti a sua ausência. A casa estava vazia, nem mesmo minha mãe estava nela.Liguei e mandei diversas mensagens, nenhuma delas foi respondida. As horas se passavam, e a preocupação se fez presente. Cheguei a ligar até mesmo para Diogo Valadares que negou veementemente estar com ela. Eu não acreditei. As únicas pessoas com quem Soraya tinha convívio era com a sua família, formada por mim e as crianças, e seu amigo Diogo Valadares.Para solucionar essa história, achei melhor levar os meus filhos para a casa de uma amiga da escola. Ashley, era uma mulher de 30 anos que não se importou em ficar com os meus filhos por algumas horas. Após isso, eu me despedi deles e fui em direção à casa do advogado Valadares. Muitos pensamentos rodeavam a minha cabeça, e um deles, era o temor de encontrar Soraya n
Atenção! Poderá haver cenas fortes de violência. Caso não consiga ler, pule de capítulo!Estava amedrontada. O choro, antes calmo, descia pela minha face como uma represa recém-rompida. Eu não conseguia limpar o rosto, pois as minhas mãos estavam amarradas em uma corda com um laço extremamente forte e apertado. Em todo o momento se passava em minha cabeça a curiosidade de saber quem eram aqueles dois homens encapuzados e o porquê de terem me sequestrado.Há alguns dias, Sebástian havia insistindo para que eu fosse até a delegacia e desse continuidade ao processo para saber quem foi o autor do disparo. Como ainda estava me recuperando, e com traumas relacionados à morte de Ingrid, eu decidi esperar um pouco. Bom, talvez eu tenha esperado demais.— Esse foi o trabalho mais fácil que fiz. Um dos homens estava conversando com o outro. — Recebi adiantado, e ainda consegui capturar a presa na primeira tentativa.— Sim. Confesso que ainda estou com raiva dele. Nós tínhamos combinado um valor
Último capítulo