O preço da ambição
O preço da ambição
Por: Maná Alves
Capítulo 1

Soraya

Limpo as lágrimas que insistem em cair. As mãos trêmulas são o reflexo do meu corpo por completo. Fecho a tampa do vaso, sento e permaneço ali paralisada olhando o teste de gravidez, o qual deu positivo.

— Droga! Jogo o aparelho longe. Eu não queria ter filhos. Espremo os olhos. O choro está entalado na garganta, a mente vagueia em qual ponto deixei minha vida declinar. Limpo o nariz com dorso da mão. — Que merda!

— Soraya! B**e exasperado. — Soraya, abre essa porta!

Reviro os olhos. Sebástian me viu correr ao banheiro logo assim que chegou. Balanço a cabeça ao me recordar como estava. Patético. Patético. Um nítido caipira como nas novelas da TV, chegando com as compras do dia dizendo: querida! Eu cheguei! Ninguém merece esse traste.

Subo as pernas as deixando juntas, coloco a cabeça dentre elas tentando tapar o som que sai ao lado de fora.

— Soraya!

— Me deixe em paz!

Após alguns segundos, a porta é aberta abruptamente. Com seu traje típico, chapéu e calça jeans, ofegante, ele mira profundamente meus olhos.

— O que houve meu amor?

O analiso da cabeça aos pés. Deus me livre permanecer mais um minuto ao seu lado. Realmente é como minha mãe diz. Um maltrapilho, pobre, condenado a viver na miséria. Nunca poderá me dar o que eu mereço. Sebástian não é homem para mim.

— Eu lhe vi correndo ao banheiro. Conheço você desde quando era uma criancinha. Sei que quando está com medo se protege e não deixa ninguém penetrar. Agacha ficando a minha altura. — Minha linda. Encaixa dois dedos ao meu queixo o erguendo. — Me diga o que houve.

— Houve nada, me solta! Bato em sua mão. Me afasto ao mesmo tempo que escondo o teste atrás das costas. — Não temos nada para falar. Eu só passei mal e vim ao banheiro. Para de querer me controlar, eu odeio isso! Tem como esquecer um pouco que eu existo e me deixar viver em paz!

— Não, não tem! Você é minha mulher. Irá me dever satisfações até eu morrer. Junta as sobrancelhas. — Soraya, eu te amo, vamos tentar nos acertar. Não é possível que queira viver nesse pé de guerra para sempre. Somos casados, marido e mulher, temos que viver em união, como Deus manda. Tenta chegar perto. Recuo novamente.

— Eu não quero me acertar com você. Eu não quero mais morar nessa fazenda. Quantas vezes eu te pedi para arrumar uma casa melhor, um emprego decente, que te pagasse o suficiente para vivermos bem? Mas não. Você se contenta com migalhas.

— Temos um teto sobre a cabeça, alimento a vontade a nossa disposição. Olhe a nossa plantação, é vasta! Podemos comer do nosso fruto. Em relação ao dinheiro, eu te peço somente um ano, somente um ano para prosperar. Eu lhe prometo meu amor, eu serei o homem mais rico de toda essa região, lhe darei tudo o que quiser, nunca mais irá se preocupar com dinheiro.

Rio não entendendo como ele pode acreditar nas próprias piadas.

Lembro que o meu sutiã tem uma nota de 20 reais, pego e lhe ofereço. Junta as sobrancelhas intrigado.

— Para que isso?

— Para recarregar o celular e ligar para alguém que esteja interessado nas suas mentiras. Eu não tenho tempo para besteiras. Você nunca vai conseguir sair desse lugar. Vai morrer aqui com esses bichos, e eu não quero estar aqui para ver isso.

Dou as costas.

— Não pode agir assim, você é minha mulher e me deve respeito! Sinto meu corpo sendo puxado. Abro a boca a fim de reclamar, porém, constato que o teste de gravidez estava em minhas mãos.

— Isso não é o que você está pensando.

— Grávida. Surpreso, pisca algumas vezes. Logo, deixa as lágrimas rolarem e um grande sorriso surgir. — Grávida, meu amor. Eu vou ser pai! Coloca as mãos em meu rosto e o beija por completo. — Eu vou ser pai.

Meu corpo é rodado ao ar, o que me causa enjoo, ele percebe e para de imediato.

— Desculpe, meu amor. Agacha ficando a altura da minha barriga. De um jeito estranho, cochicha algo que não compreendo. Rolo os olhos e em pensamento peço para que esses meses passem o mais rápido possível. Não posso aguentar nem mais um minuto com esse homem, com essas crianças, com essa vida. Meu amante e eu tínhamos um plano, eu espero que ainda se cumpra, que Leandro possa aguardar esse tempo. Eu fugirei com ele.

9 meses depois

— Essas crianças não saem! Reviro os olhos com a dor dilacerando minha alma. Quando descobri que seriam gêmeos, o pânico me dominou. Estava com receio de uma cabeça sair de dentro de mim, ainda mais duas. — Tira logo!

— Respira fundo Soraya. O primeiro já está vindo. Minha sogra fazendo o meu parto era tudo que eu menos queria, infelizmente Geane é a única parteira da região. — É um menino. O choro ecoa pelo quarto. Jogo a cabeça para trás, parece que a dor vem de todos os cantos. Geane oferece a criança para que eu possa segurar, mas viro o rosto, não consigo pensar muito e a dor volta novamente.

— Oh, céus! Grito com toda força, sinto meu corpo rasgando por completo. Por alguns instantes penso que vou morrer. Com toda a certeza, isso não é de Deus. Aperto os olhos deixando cair algumas lágrimas. Com o resto de forças que tenho, uso para empurrar de uma vez a outra criança.

— Uma menina. Parabéns, Soraya. Um casal.

A porta é aberta em um estrondo. Com o chapéu pousado ao peito, Sebástian me olha, estende um mínimo sorriso, o suficiente para lhe fazer chorar. Impassível, acompanho seus passos. Dessa vez, abre um enorme sorriso quando vislumbra os gêmeos, com suas devidas mantas, os cobrindo. Com delicadeza, pega um em cada braço. Engulo a seco. Não sei o que sentir, não consigo olhar para eles.

Alguns segundos depois, Sebástian se aproxima da cama, rapidamente giro o rosto no sentido oposto. Prendo o lábio inferior, fecho os olhos, sentindo as mãos gelarem.

— Os gêmeos são lindos, meu amor. Segure-os, um pouco apenas.

— Não consigo.

— Só um pouco. Nada respondo. — Somente olhe então. São seus filhos, Soraya.

— Não insista.

Poucos segundos depois, percebo que ele se afasta e fecha a porta. Me permito recolher o corpo e chorar. Sinto como se meu corpo fosse usado e agora largado na cama. Como um descartável qualquer. Solto um suspiro pesado. Não se preocupe, Soraya. Logo esse pesadelo acabará.

Um mês depois

— Você vai deixar os gêmeos?

— Eu não quero eles.

— Soraya, não faça isso, por favor.

Olho por cima do ombro. Em cada braço estão seus filhos. A única coisa que posso sentir é como pude me envolver com esse homem, é digno de pena, chorando desesperado com duas crianças no colo. Ajoelha-se à minha frente, pedindo pelo amor de Deus para que eu não vá embora. A que ponto ele chegou? Endireito meus óculos escuros e solto a última frase antes de ir para sempre daquele lugarzinho de merda.

— Isso não é mais problema meu.

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