FLORES EM SOLO FERIDO.

Aria

O dia amanhece devagar, como se o céu hesitasse em abrir os olhos.

Eu, porém, já estou desperta há horas.

Ou talvez nem tenha dormido direito.

As palavras de Alexandro na roda de escuta ainda ecoam dentro de mim. Não foram apenas palavras, foram passos.

E cada um deles atingiu lugares que eu julgava soterrados.

Estou sentada no parapeito da janela, com uma xícara de chá de camomila entre as mãos.

Julian ainda dorme, embalado pela tranquilidade de um lar que, por tanto tempo, foi só meu.

Hoje, é como se ele tivesse dois pilares sustentando seus dias e isso deveria me bastar.

Mas não basta!

Porque o segundo pilar é aquele que também quase me destruiu.

Escuto passos leves atrás de mim. Viro devagar.

Julian, com seu pijama azul de estrelas, esfrega os olhos e sorri.

Abro os braços e ele se aninha no meu colo como fazia quando era menor embora ainda seja tão pequeno.

— Mamãe, sonhei com o parquinho do hotel.

—A gente tava junto. Eu, você e o papai.