Mateo Salvatore
Exausto era pouco para como eu estava me sentindo. Suspirei e tirei o terno, desabotoei alguns botões da camisa branca e folguei a gravata do pescoço. As luzes do meu escritório estavam baixas, e vi quando as últimas luzes da casa de costura começaram a se apagar.
Me servi de uma dose de Campari e peguei meu celular, que estava intocado desde o horário de almoço. Em uma das mensagens passadas, uma chamou a atenção. Lorenzo havia mandado dezenas de mensagens perguntando se o compromisso para o clube Éter ainda estava de pé.
Ponderei por alguns segundos antes de responder com um “sim”. Me levantei e terminei a dose que havia começado. Peguei o blazer e segui para o carro.
Não era uma má ideia tomar algumas doses, observar as pessoas e relaxar um pouco. Fazia anos que eu não saía apenas com o meu amigo; sempre estava envolvido em grandes eventos e desfiles de moda. A SALV Maison era a minha vida desde que minha mãe me colocou para trabalhar junto com ela na gestão. A questão é que eu precisava descansar a minha mente pelo menos um pouco.
Deixei a gravata e o blazer no banco e segui para onde a gente se encontraria. O caminho era perto e cheguei em pouco tempo. O clube Éter era um bar que eu e Lorenzo já tínhamos frequentado muito, mas, com as nossas demandas cada vez maiores, as nossas saídas se tornaram cada vez mais escassas.
O Bacceli já estava lá dentro e me esperava com um Negroni. Agradeci assim que me sentei com ele. O local estava mais cheio que o normal das vezes em que eu estive ali e, apesar do barulho da música, ainda era o silêncio que minha mente procurava.
— Achei que iria me dar um bolo.
— E eu realmente ia, mas esse era o descanso e o silêncio que eu precisava. — Girei o gelo no copo observando o movimento de pessoas.
Lorenzo soltou um bufo risonho antes de me responder.
— Silêncio? Acho que você se esqueceu que estamos em Milão e, aqui, isso custa caro.
— Então espero estar investindo bem — retruquei, mudando meu olhar para ele, que gargalhou.
A conversa entre nós foi fácil. Relembramos coisas do passado, comentamos sobre as facilidades da “fama” com as redes sociais e, apesar de evitarmos falar de trabalho, Lorenzo comentou comigo sobre como gostaria de um novo ensaio para a campanha que estamos desenvolvendo.
— Quando foi a última vez que você tomou um sol? Tá parecendo um fantasma — Lorenzo comentou, pegando um salame da pequena tábua de frios que pedimos. — Há quanto tempo você não tira férias ou dorme pelo menos oito horas completas?
— Não me dou ao luxo disso, e você sabe, Lorenzo. — Acenei para o garçom me trazer mais uma dose. — Tenho que cuidar da SALV, não existe a possibilidade de férias no momento.
— Mas te faria bem. Uma semana de sol, praia, um bom vinho e o principal: zero reuniões ou compromissos.
— E isso realmente existe? — Lorenzo riu e balançou a cabeça, desistindo, sabendo que eu não cederia.
A música mudou, as luzes baixaram, e uma batida sensual reverberou pelo local. A pista encheu rapidamente e, na multidão, meus olhos se focaram em um ponto vermelho.
Apesar de não ser um estabelecimento grande, eu estava longe e não consegui enxergar os detalhes, mas o vestido me prendeu. Era curto, colado ao corpo e sem alças. Um corset de renda translúcida marcava ainda mais o torso. Não era algo que chamaria a minha atenção, se eu não reconhecesse que aquilo não era feito por lojas de departamento ou em grande escala e que claramente era inspirado em uma linha de corset que lançamos há anos atrás.
Era um trabalho manual e parecia ser bem feito. Era sensual. Marcava presença e estilo.
Minha observação saiu do tecido para quem o vestia. Cabelos loiros longos, acessórios que pousavam no pescoço e nos braços e saltos de tiras finas douradas. O rosto fino, bochechas proeminentes e uma boca carnuda.
Porra, era como o pecado.
O vestido parecia ser moldado na pele dela, e o magnetismo que aquela mulher exalava era irreal. Havia centenas de mulheres bonitas ali, até modelos que eu conhecia de uma campanha ou outra. Mas aquela loira transmitia algo genuíno, cru. E não era sobre a beleza.
Observei como a renda se encaixava no busto, como parecia tudo cortado milimetricamente, como o corset tinha uma ótima sustentação — definitivamente, não era amador. Tinha estudo ali, instinto e, principalmente, ousadia.
— Alguém prendeu sua atenção? — Lorenzo perguntou-me, olhando com deboche.
— O vestido vermelho. — Não hesitei em responder.
Os olhos de Lorenzo saíram de mim para vasculhar o ambiente.
— A loira? Aurora, se não me falha a memória. Ela estuda na Marangoni, dei um minicurso de fotografia para a turma dela. É promissora e esforçada.
Aurora. O nome ecoou na minha mente e pesou nos meus lábios.
— Tem personalidade e é ousada.
— Lembra o seu estilo. Vi algumas peças dela — seu olhar voltou para mim. — Deveria contratá-la.
— Talvez um dia.
Peguei meu copo e sorvi mais um pouco do álcool. Meus olhos não se desgrudaram dos quadris que balançavam a cada batida da música.
— Ela definitivamente te desestabilizou.
— Me chamou atenção. Nada mais que isso — disse e me levantei. — Preciso ir ao banheiro, já volto.
Virei o último gole do meu copo e segui até os sanitários. Na volta, passei pelo balcão e deixei paga uma bebida para a loira e pedi mais um Negroni para mim, voltando para a mesa logo depois.
Ao sentar na mesa já com minha bebida em mãos, vi a garota sentar no balcão e ser recebida pelo drink que eu paguei. Sua boca se abriu em um sorriso surpreso.
— Acabou de pagar um drink para uma estudante? — A fala saiu em um tom quase risonho.
— Devolvendo o impacto — disse e sorri para Aurora, levantando o copo em um brinde.
— Vai até ela?
— Por enquanto, não.
Lorenzo balançou a cabeça em estado de descrença. Ele não continuou na mesa e se levantou pouco depois, indo conversar com alguns conhecidos, a quem só acenei com a cabeça.
Ela sugou o canudo olhando diretamente para mim, e imediatamente imaginei meu pau no meio daqueles lábios. A provocação dançou na sua boca. Suas pernas fartas se cruzaram quase indecentemente; para outros aquilo poderia não ser nada, mas eu sabia a intenção.
Ela definitivamente sabia o que estava fazendo. Meus olhos não se desviaram da cena, era um convite descarado e eu estava tentado a ir até ela.
Tentei focar no álcool da minha dose e não no gosto que aquela tez sedosa deveria ter. Mas era inútil, óbvio que era. Eu já tinha sido envolvido pelos cabelos loiros e boca avermelhada.
Um cara se aproximou dela, aproveitando-se do convite que tinha sido feito para mim. Ela sorriu sedutora, expôs a linha do seu pescoço e eu apenas pude pensar em como queria mordê-la.
Aurora se virou para conversar melhor com o homem. Seu vestido subiu levemente, me dando ainda mais visão da curva de suas coxas. Algo em mim quase se quebrou, minha boca salivou e eu tive que me segurar para não chegar nela naquele momento.
A loira não prestava atenção na conversa que estava tendo, seu corpo se afastou um pouco e ela desviou o olhar para a cutícula e depois mexeu no cabelo.
O cara se aproximou e, quando eu estava próximo a levantar, ela o despachou gentilmente. Ele ainda tentou, mas ela foi enfática e depois desistiu.
Era mais que notório que a minha atenção era dela. Que aquele drink não era apenas uma gentileza. E agora nosso jogo estava mais que confirmado.
Me levantei com o restante do meu Negroni e segui até o balcão. Caminhei sem desviar o olhar dela e ela sustentou. Quando me aproximei, ela não recuou ou hesitou.
Um sorriso quase sacana cruzou os lábios dela assim que eu cheguei mais perto.
— Então… você sempre paga drinks por gentileza?
Meu sorriso foi quase instantâneo. Me recostei no balcão, me aproximando o máximo que podia antes de tocá-la.
— Só quando a presença de alguém parece tomar todo o ambiente em que estou.
— Isso foi uma cantada? — A sobrancelha grossa se levantou.
— Não, é apenas a verdade.
A loira girou o canudo entre os dedos, os olhos grudados em mim e os lábios entre os dentes brancos. Ela não desviou. E respondia no mesmo ritmo.
— Você fala como se não soubesse exatamente o que causa.
Me aproximei mais. Inspirei o cheiro gostoso que ela exalava e minha boca se encheu de água. Minha voz saiu baixa e grave.
— E você usa esse vestido como se não soubesse que todos vão olhar.
Ela sorriu.
— Talvez eu saiba — Os olhos dela brilharam em diversão. — Mas existe uma grande diferença entre saber e importar.
A provocação me atingiu em cheio e o sorriso se abriu facilmente no meu rosto.
— E você se importa?
Os ombros dela se levantaram e o canudo serpenteou na boca dela novamente.
— Só com quem nota os detalhes certos.
— E eu olhei para os errados? — Meus olhos estavam cravados em seu rosto, mas, propositalmente, eu abaixei os olhos, observando o corset e suas curvas.
— Ainda não me decidi — Suas pernas foram cruzadas e ela se virou um pouco. — Mas quero saber até onde você pode ir.
Me aproximei um pouco mais e nossos braços se grudaram. O corpo dela exalava um calor palpável. O perfume, algo frutado e com um doce de baunilha, me entorpeceu.
— Até onde você permitir.
O riso que ela soltou foi curto e íntimo.
— E se eu não deixar? — Virou-se um pouco mais para mim.
— Se você não deixar, a gente toma mais uns drinks e eu te levo para dançar.
A cabeça dela se inclinou e seu sorriso se alargou um pouco.
— E por acaso você dança?
— Só quando a companhia vale a pista inteira — Meus olhos não se desviaram do rosto bonito.
O riso dela ecoou livremente. Terminou o drink e pousou o copo sobre o balcão.
— Vamos ver se esse convite vale a pena.
Sorri e me afastei o suficiente para que saísse do banco. Os cabelos dela deslizaram pelos ombros, a pele reluziu e, mais uma vez, eu senti minha boca se encher de vontade de prová-la. Estendi a mão para ela, que prontamente a pegou. Sua mão pareceu se encaixar perfeitamente na minha. A pele macia e quente parecia transmitir eletricidade para o meu corpo.
A música vibrava. Nossos corpos se colaram, dançando em sintonia. Minha mão ficou firme na cintura marcada, seu corpo se grudou ainda mais no meu. Nossa respiração se misturava e nossos olhos não se desgrudaram.
Nossa diferença de altura era grande, mas o salto ajudava a ficar um pouco mais nivelado. Aproximei um pouco mais, nossas bocas se roçaram levemente e nós sorrimos.
— Isso ainda é só uma dança?
— Nunca foi — minha mão desceu contornando a curva do quadril e ficou mais firme. — Não quando você está vestida assim.
Ela soltou o ar entre os lábios como se minha resposta tivesse atravessado algo nela. Seus olhos escureceram. Sua língua contornou os lábios, os deixando brilhando.
Abaixei um pouco mais minha cabeça e rocei meu nariz no pescoço sedoso, deixei um selinho na pele quente e raspei meus dentes de leve.
O suspiro saiu audível, sua mão grudou nos meus bíceps e o sorriso que se formou nos meus lábios foi instantâneo. A loira não recuou. Ela se inclinou mais, dando espaço para a minha boca. Cada segundo da gente grudados parecia insuportavelmente íntimo.
— Você é sempre direto assim? — Sussurrou com os lábios próximos do meu ouvido.
— Não perco tempo com o óbvio — Minha boca roçou na linha da sua mandíbula.
Seu riso abafado chegou aos meus ouvidos e me estremeceu por dentro. Suas unhas deslizaram no meu pescoço, me arrepiando.
— E o que é óbvio? — A provocação escorreu dos seus lábios e eu me separei para olhá-la.
— Que nós vamos acabar essa noite juntos. — Minha voz não vacilou e meus olhos vasculharam seu rosto.