Capítulo dois

Aurora Fontana

As aulas tinham voltado. Eu submeti meu currículo a algumas casas de costura e já tinha até passado por alguns processos seletivos, mas ainda não tinha sido chamada por nenhuma delas.

Minhas expectativas estavam altas. E ainda estava esperando ser chamada por mais uma casa. Era uma casa de alta costura, sim. Mas eu acreditava no meu potencial. E, modéstia à parte, meu estilo combinava com o da casa. As criações da SALV eram sensuais e elegantes. Eu gostava muito de criações assim.

Desviei o olhar para o slide que a professora passava e, de novo, para o meu celular, aberto na conversa com Chiara. Comentei com ela sobre a minha última saída com Marco e sobre como ele estava estranho. E estava esperando uma resposta dela.

Desde o nosso último encontro, eu e Marco não estávamos nos vendo. E nosso relacionamento estava de mal a pior. Eram poucas as vezes em que conversávamos, e a maioria era quando nos encontrávamos pelos corredores da universidade.

Eu não queria dar uma de maluca, mas a verdade é que eu tinha certeza de que ele estava me traindo. A segunda vez que desconfiei foi quando ele republicou uma foto do estágio. Tinha uma loira grudada nele, sorriso grande, olhos que praticamente brilhavam, e Marco olhava para ela com o sorriso de um bobo apaixonado.

Não questionei. Não precisava. Senti que aquela era a mulher que ele me traía. Não queria admitir. Mas era ela, não tinha dúvidas.

Voltei a atenção para a aula, determinada a não perder mais conteúdo com Marco e sua — possível — amante.

...

Assim que a aula acabou, fui direto para o meu apartamento, e Chiara chegou logo depois.

Ela tinha stalkeado a menina quando comentei com ela minha desconfiança. Giulia Morelli. Foi pelo perfil dela que eu tive a certeza. Ele tinha levado ela ao mesmo restaurante que me levou semanas atrás. Dado um buquê de flores igual ao que me deu. A foto que ela postou me deu total certeza. Era ele de perfil, a mão direita sobre a dela. A aliança que usávamos reluzia, e a pulseira de prata que eu havia dado no último aniversário também.

Por mais que eu jurasse que não doeria, doeu como o inferno descobrir que o meu achismo era a mais pura realidade. Aquela foto mostrava o carinho, a dedicação, o tempo, a história e o amor que eu senti por Marco. Minhas orbes se inundaram de lágrimas que eu segurei. Funguei baixinho e levantei os olhos para o teto, tentando afugentar a umidade da minha linha d’água.

— Cretino! — foi a primeira coisa que saiu da boca de Chiara.

Assim que me recuperei, uma risada incrédula escapou da minha boca. Bloqueei o celular e o devolvi para Chiara.

— O que você vai fazer?

— Não se preocupe. Só se arruma.

— Depois nós vamos sair pra beber.

Chiara abriu um sorriso quase psicopata, e eu retribuí, confirmando com a cabeça e pegando o meu celular que estava na mesinha de cabeceira.

Mandei uma mensagem para Marco o chamando para sair, já sabendo que ele recusaria.

Nossa saída após meu plano não era só beber por beber. Era pra afogar as mágoas, era pra esquecer de Marco. E, principalmente, mostrar que eu estava inteira. Apesar das feridas, estava inteira.

...

Eu e Chiara ficamos prontas bem rápido. A ruiva tinha os cabelos curtos, sem nenhum cacho. Usava um vestido branco curto, com saia rodada, e as alças formavam laços nos ombros. Suas sardas contrastavam com os saltos altos prateados nos pés. A maquiagem estava marcada: olhos bem delineados, boca com um batom vermelho-sangue e as bochechas avermelhadas.

Já eu estava com os cabelos longos, ondulados e soltos. Meu vestido era vermelho, com um corset tomara que caia, de leve transparência, e colado ao corpo. Saltos dourados adornavam meus pés. Minha maquiagem era básica: blush, rímel, corretivo e gloss. Descemos do meu apartamento para a garagem, carregando bolsas pequenas, e entramos no meu carro.

Meus saltos foram para o banco de trás, a minha adrenalina subiu, minhas mãos suaram e meu corpo arrepiou. Liguei o carro e o ronco do motor me estremeceu. Dirigi até a porta de onde Marco trabalhava. Estacionei discretamente e ficamos observando. Não foi surpresa encontrar os dois juntos, abraçados enquanto conversavam em grupo.

Liguei para ele pelo FaceTime e ele se afastou para atender.

— Já está em casa?

— Sim, acabei de descer do carro! — ele olhou para os lados — Vai sair?

— Sim, Chiara me chamou para jantar. — Mostrei minha amiga no banco do carro, que deu um tchauzinho.

— Tudo bem! Tenho que ir, tô cansado e ainda quero tomar um banho.

— Ah, claro, entrar e tomar banho — não consegui segurar a ironia na minha voz.

— Por que esse tom agora?

Giulia se aproximou, pegando-o pela mão sem entrar na visão da câmera, dando pressa para que ele desligasse e voltasse para a rodinha de conversa. Foi nessa hora que virei a câmera para ele. A surpresa na cara dele foi instantânea. Seus olhos se arregalaram, a boca se abriu levemente e ele gaguejou meu nome.

Sua cabeça se virou procurando o carro e, quando ele achou, eu desliguei. O pneu cantou quando dei a volta passando na frente deles. Foi automático quando meu dedo e o de Chiara se levantaram para o casal na calçada. O gesto não apagaria a dor, mas era satisfatório.

O silêncio desconfortável foi deixado para trás quando Chiara ligou o som e uma música animada tocou. Respirei fundo e sorri, olhando para Chiara de relance antes de voltar a prestar atenção na estrada. É, eu precisava de um drink. Ou vários.

...

Falar que eu não estava triste era mentira. Mas, além disso, eu estava puta. Ser corna aos vinte e dois anos definitivamente não estava nos meus planos. E eu tinha muitos.

Eu e Chiara paramos no primeiro bar que achamos e que não tinha tanta cara duvidosa. Sentamos próximo ao balcão e pedimos dois drinks. A D’Amico logo se engraçou com um loiro bonito.

Um pequeno sorriso se formou nos cantos dos meus lábios, e eu me levantei, indo para a pista de dança estreita. A música era envolvente e meus quadris balançavam no ritmo dela. Alguns caras até chegaram em mim, mas fiz questão de os mandar embora.

A pista pareceu ficar pequena e calorenta, minhas pernas doeram, e eu decidi que era o momento de dar uma pausa. Procurei minha amiga e a vi quase engolindo o garoto em um canto do bar. Ri sozinha e voltei para o balcão, cansada, dolorida e decidida a tomar mais alguns drinks para matar minha sede.

— Um Aperol Spritz, por favor!

O barman não demorou a me entregar o coquetel refrescante. Agradeci e peguei de volta a comanda que ele me entregava. Tirei os cabelos grudados da minha nuca e me abanei de leve, sugando o líquido do meu copo. Meus olhos vasculharam o bar e sorri ao ver minha amiga sendo arrastada para a pista de dança.

Peguei meu celular da bolsa, que vibrava desde o momento em que terminei com Marco, e recusei mais uma ligação. Bloqueei as chamadas dele. Abri meu I*******m e dei graças a Deus que eu mal postava foto com o babaca do meu ex no feed. Apaguei as fotos e também o destaque que tínhamos juntos. Uma lágrima se formou nos meus olhos, mas eu fiz questão de enxugá-la antes que caísse. Marco não receberia uma lágrima sequer minha.

Meu drink acabou novamente e, dessa vez, me levantei e segui até o banheiro da balada. Fui rápida em fazer tudo o que precisava. Retoquei meu gloss, limpei alguns borradinhos e arrumei meu cabelo. Ajeitei meu vestido e voltei para o balcão, pedindo mais um drink. Se era para recomeçar, que fosse em grande estilo.

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