O início da ruína

O sol da manhã se infiltrava pelas cortinas da sala de estar, criando sombras suaves no chão. Gabi se sentou no sofá, abraçando as pernas contra o peito. O silêncio da casa parecia mais pesado do que nunca. Laura estava na cozinha, preparando o café da manhã como sempre fazia quando os pais estavam fora. O aroma do café recém-feito preenchia o ar, mas Gabi mal conseguia sentir o cheiro. O que ela sentia, na verdade, era uma espécie de vazio dentro de si mesma, como se uma parte dela estivesse se perdendo.

Ela tentou ignorar o tumulto que a consumia. Olhou para o celular, tentando se distrair, mas nada parecia funcionar. As mensagens não tinham mais o mesmo brilho. As conversas com Laura, que antes eram uma fonte de conforto, agora a deixavam inquieta. Cada palavra dita entre elas parecia pesada, como se o destino delas já estivesse escrito, e o que fosse acontecer não tivesse mais jeito.

Miguel não a havia procurado desde a noite no bar, mas Gabi sabia que ele pensava nela. Ele também sentia. O modo como ele a olhou, o jeito como se afastou rapidamente depois daquele olhar… Tudo aquilo não foi apenas um engano. Ela sabia que ele sentia algo. E, pior, sentia uma vergonha quase indizível por admitir isso para si mesma. Como pôde se deixar levar? Como pôde ser tão fraca?

Laura apareceu na sala, interrompendo seus pensamentos.

— Ei, Gabi, você não vai tomar café? — perguntou, sorrindo. Mas Gabi percebeu algo no olhar da amiga. Era uma tentativa de disfarçar a preocupação, mas a tensão estava ali, palpável.

Ela forçou um sorriso.

— Claro, vou tomar. Só estava pensando em algumas coisas.

Laura se sentou ao seu lado, observando-a atentamente. O sorriso de Gabi desapareceu um pouco. Ela sentiu um peso no peito, como se, a qualquer momento, Laura fosse descobrir a verdade. Mas o que poderia fazer? Dizer a Laura o que estava sentindo? A verdade brutal que ela temia mais do que qualquer outra coisa?

— Você não parece bem. O que está acontecendo, Gabi? — Laura insistiu.

O som da voz de Laura a fez sentir uma ponta de dor. Como poderia dizer a ela que estava apaixonada pelo noivo dela? Como dizer algo tão destrutivo e ainda conseguir olhar nos olhos dela sem se sentir a pior pessoa do mundo?

— Eu só… estou cansada. Sabe, com a faculdade, o trabalho, tudo. Só estou um pouco sobrecarregada. — Gabi falou, tentando manter a voz firme. Mas, dentro de si, sabia que estava mentindo. Ela não estava cansada por causa disso. Estava cansada de carregar esse peso no coração, cansada de viver com o segredo que estava corroendo ela por dentro.

Laura olhou para ela por um momento, estudando seu rosto, como se tentasse ler algo que Gabi não estava dizendo. Mas então, sem fazer mais perguntas, ela simplesmente sorriu.

— Tudo bem, você sabe que pode contar comigo para qualquer coisa. Sempre estarei ao seu lado, não importa o que aconteça.

As palavras de Laura foram como uma lâmina afiada, cortando mais fundo do que Gabi gostaria de admitir. Ela não sabia o que fazer com isso. Ela não sabia como continuar sendo a amiga leal, a pessoa em quem Laura sempre confiou, quando, na verdade, o que ela mais queria era a vida que Laura tinha. E isso a consumia, a corroía por dentro.

Miguel apareceu na porta da sala naquele momento, com um sorriso fácil no rosto, como sempre. Gabi sentiu o coração acelerar. Ele estava tão perto, tão perto que ela quase podia tocá-lo. O olhar dele encontrou o dela por um instante, e foi o suficiente para Gabi sentir o mundo parar por um segundo. Ele parecia estar em paz, enquanto ela, por dentro, estava em pedaços.

— Bom dia, Gabi. Como está? — perguntou ele, com a voz suave e acolhedora, mas sem perceber o turbilhão que estava prestes a desencadear dentro dela.

Ela abriu a boca para responder, mas as palavras pareciam não vir. Tudo o que conseguia pensar era em como seria fácil se ele a olhasse de uma maneira diferente, se ele visse nela a mesma pessoa que ele via em Laura.

— Eu… estou bem — respondeu, com um sorriso forçado, evitando os olhos dele. A última coisa que queria era revelar sua confusão.

Miguel parecia não perceber o impacto que suas palavras tinham sobre ela. Ele estava ali, tão tranquilo, tão alheio à tempestade que se formava no coração de Gabi. E isso só tornava tudo ainda mais insuportável. Porque ele não sabia. Ele não sabia o que ela estava sentindo. E talvez nunca soubesse.

Ela levantou-se rapidamente, tentando sair da sala, mas, no fundo, sabia que não poderia fugir desse sentimento. Não mais. Algo dentro dela já estava quebrado. Algo dentro dela já havia sido perdido, e agora, tudo o que ela tinha que fazer era esperar o inevitável.

Porque, no fundo, ela sabia que a linha que separava a amizade do amor, a lealdade da traição, estava mais fina do que nunca. E, a cada dia, ela se via mais perto de cruzá-la.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP