Capítulo: O Homem Que Voltou do Silêncio
Narrado por Gustavo Henrique Oliveira Andrade
Escuro.
Foi a última coisa que lembro.
O céu escurecendo pela janela do avião, o som grave de algo se partindo, o cheiro de combustível. Depois disso, só o impacto. A pancada. O corpo voando sem saber onde ia cair.
E então… o nada.
Mas não um nada calmo.
Um nada com cheiro de hospital, com máquinas apitando longe, com vozes que vinham e iam como ondas. Às vezes eu ouvia meu nome. Às vezes só o som de passos. Outras… era silêncio demais pra suportar.
Teve uma época — se é que dá pra chamar assim — que eu achava que tava sonhando. Que ia acordar e contar tudo pra Bia, rindo. Que ia abraçar meu filho e dizer que foi só um pesadelo bobo do papai.
Mas o tempo passou. E o tempo, mesmo no escuro, pesa. Começa a doer no peito, nas costas, na alma. Até o sono vira prisão.
Eu escutava uma voz. Sempre a mesma.
Feminina. Firme. Cansada. Bonita.
— “Você tá vivo, Gustavo. Eu tô aqui.”
E eu me agarrava àquela voz