Vitória Matarazzo
Cheguei esbaforida no abrigo, com o coração ainda aos pulos. Não era só pelo atraso — era por tudo. A manhã inteira parecia um surto coletivo. E agora, eu precisava parecer equilibrada. Centrada. Profissional. Mesmo com a alma desmoronando por dentro.
Assim que passei pela recepção, a Alice veio ao meu encontro com o olhar preocupado.
— Graças a Deus! — disse, entregando uma prancheta. — Você tá bem? A gente ficou preocupada. A visita com os pais da Tainá é hoje, lembra? Já chegaram.
— Ai, meu Deus — murmurei, olhando em volta, ainda tentando recuperar o fôlego. — Eu sei, eu sei... Desculpa, teve um... imprevisto. Um acidente, mas tá tudo bem agora.
— Acidente? — Ela arregalou os olhos. — Você tá machucada?
— Não, não… eu que meio que… atropelei um cara.
— O quê? — Alice quase deixou a prancheta cair.
— Foi leve, Alice. Ele escorregou. Tá bem. Tá no hospital agora. Eu levei. Longa história. — Respirei fundo e tentei sorrir. — E ele ainda conseguiu ser mais dra