Max FoxO Liam, mesmo relutante, subiu e voltou com a Belinha no colo. Aquilo me pegou de surpresa.— Tio Max, você vai sair com a gente também? — ela perguntou com um sorriso tão doce que quase fez meu peito apertar.— Vai sim, filha. A gente vai numa clínica rapidinho com o tio Max e depois tomar sorvete — ele respondeu como se aquilo fosse só um passeio comum de domingo.Esperei ela correr animada até o carro e puxei o Liam de lado, ali mesmo, perto da vaga onde o carro estava estacionado.— Cara, não precisava trazer ela... Era só uma amostra.— Se ela fizer a coleta na hora, o teste pode sair mais rápido — ele respondeu sem rodeios. — E a Priscila deixou com a condição de que eu voltasse com sorvete pra todo mundo. Mas, Max… eu preciso te dizer uma coisa.Ele me encarou com seriedade, como se tivesse guardando aquilo há um tempo.— Eu acredito que a Mavie possa estar viva. Mas não acho que seja a Belinha. E, sinceramente? Acho que você também não sente que ela é sua filha.As pal
Max FosQuando voltei pra casa com um pote de sorvete, o Marcelo ficou todo animado, pulando no sofá, rindo como se o mundo fosse leve. Mas a Rafaela… ela percebeu de cara que algo estava errado.— Que cara é essa, amor? — perguntou com aquela voz doce que sempre me acalma, enquanto a Marli levava as crianças pra cozinha.— A Belinha… ela não é minha filha — soltei de uma vez, sem rodeios, com a garganta apertada.Ela não hesitou nem por um segundo. Me abraçou forte, como se quisesse costurar com o corpo a dor que estava me rasgando por dentro. Como se dissesse, sem palavras, que estava comigo... até o fim.— Eu tenho uma coisa pra te mostrar — disse com firmeza, me puxando pela mão até o escritório.— Amor, se for trabalho, agora não dá...— A sua mãe está no Brasil — ela me cortou, a voz firme, já ligando o notebook e abrindo a fatura do cartão de crédito. — Assim que teve o acesso liberado, pagou um hotel em Aracaju. Cinco dias. Olha isso aqui — apontou para a tela — uma compra rec
Priscila BarcellaO Liam está esquisito. Muito esquisito. E por mais que eu tente não pensar no pior, meu coração aperta só de imaginar que ele possa estar me julgando… julgando por causa do que aquele desgraçado disse.Ele saiu com a Belinha pra comprar um sorvete — algo tão simples, tão doce — mas demoraram mais de três horas. Três horas! E ninguém me deu uma explicação decente. Quando voltaram, ele parecia distante. E não era só cansaço. Era como se algo dentro dele tivesse mudado.Logo depois, o Max apareceu dizendo que ia fazer uma viagem a trabalho. Também estava estranho. Os dois... estavam diferentes. Como se tivessem voltado de outro mundo, carregando segredos demais pra caber no peito.A angústia me corroía por dentro.— Está tudo bem, Liam? — perguntei, tentando esconder o tremor na voz.Ele veio até mim e me beijou devagar. Um beijo que, em outros dias, teria me aquecido por dentro. Mas hoje... teve gosto de silêncio. Gosto de quem tenta acalmar sem explicar. De quem beija
Max FosChegamos a Aracaju à noite e fomos direto para o hotel onde minha mãe estava hospedada. A ideia era simples: manter distância até descobrirmos o que, afinal, ela estava escondendo. E por mais que a Rafaela tentasse disfarçar, eu conhecia cada olhar dela como conheço as minhas próprias mãos — e aquele não era um olhar tranquilo. Era o tipo de preocupação que a gente sente quando o instinto avisa: vem bomba por aí.— Aqui é bem bonito… e quente — Rafaela comentou, ajeitando o notebook perto da janela. O tom era casual, mas o suor na testa entregava o resto. — Isso aqui é o verão ou o inferno fazendo hora extra?Sorri de lado. Mesmo nervosa, ela ainda fazia piada. Era a forma dela de manter o controle. E, sinceramente, funcionava comigo.— Eu nunca vim aqui — continuou, mexendo no cabelo, como quem tentava puxar assunto com o próprio destino.— Mas você consegue acessar o aplicativo de transporte da minha mãe? Ela não costuma dirigir por aqui…— Amor, eu não sou hacker, tá? — res
Max FosA gente não dormiu naquela noite.Café, ansiedade e o brilho azul das câmeras de segurança no monitor foram nossos companheiros. Eu e Rafaela estávamos atentos a qualquer pista, revisando os mesmos minutos de vídeo como se, de repente, algo novo fosse surgir.— Essa senhora que entrou com a sua mãe... — Rafaela disse, apontando para a tela com um restinho de biscoito no canto da boca — ela entrou às 21h14 e... — deu uma pausa, avançando o vídeo com o olhar cada vez mais atento — não saiu mais.Me aproximei da tela, tentando decifrar melhor a imagem. Era ela. A mulher que parecia saída direto de um filme de época, com vestido floral, coque perfeito e um ar de bondade que só enganava quem não tinha vivido o suficiente com a minha mãe.— Essa é a Madalena — murmurei. — E ela ainda está no hotel.— Ou… — Rafaela virou-se pra mim com a sobrancelha arqueada — ou está escondida dentro do armário. Porque não tem registro de saída. E não tem como sair pela escada de emergência sem acio
Max FosDeixando as coisas no quarto, por sorte, ontem a Rafaela resolveu preparar uma pequena mala com roupas de emergência. Colocamos tudo rapidamente e, em seguida, pendurei o crachá no pescoço, sentindo o peso de tudo o que estávamos prestes a viver.— Só de haver a mínima possibilidade de minha filha estar lá, meu coração já dispara — falei para a Rafaela, com a voz tremendo mais do que eu gostaria.Ela me olhou com uma expressão suave, como se tentasse me proteger de uma dor que sabia ser inevitável, mas necessária.— Imagino, Max. Mas... não tenha tanta esperança, está bem? Pode ser que ela não esteja lá — disse com cautela, como quem tenta preparar o outro para uma possível decepção.Fiquei em silêncio por alguns segundos, suas palavras ecoando em minha mente. Tentei afastar os pensamentos negativos, mas era difícil... tão difícil. O simples fato de imaginar que Nina pudesse estar ali, esperando por nós, fazia todo o resto parecer irrelevante.— Eu sei, Rafaela. Mas se existe
Max FosA cuidadora saiu da sala por um instante, e eu continuei ali, imóvel diante da grande janela de vidro que separava as duas alas dos menores. Era como se o tempo tivesse parado.A menininha estava sentada no tapete, de costas para mim, com um bebê deitado no colo. Seu corpo miúdo sustentava o pequenino com um cuidado surpreendente. A cada movimento, ela ajeitava o travesseirinho, conferia se a mamadeira estava firme e acariciava os cabelos finos com uma delicadeza que apertou meu coração.Foi então que percebi: ela tinha um aparelho na perna direita. Um suporte metálico que subia até a metade da panturrilha, parcialmente escondido pelo vestido surrado. Minha garganta se fechou. Era como se uma peça do quebra-cabeça finalmente se encaixasse.Ela se levantou com cuidado, apoiando-se em uma das cadeiras ao lado. O jeito como mancava levemente até o berço mais próximo era sutil, mas claro.Quando ela se virou — meu mundo parou.A luz fluorescente iluminou seu rosto com doçura, reve
Priscila Barcella Era mais um dia normal. Como sempre, acordo às 6:23 da manhã, levo aproximadamente 20 minutos para me arrumar e escolho roupas que transmitam o quanto sou poderosa.Saio do meu quarto preparada para enfrentar o mundo machista das torres de metal.Assim que chego no andar inferior, vejo a minha governanta terminando de organizar o meu café da manhã na mesa da sala de jantar, junto com duas funcionárias. Gosto das coisas sempre perfeitamente alinhadas, e ela me conhece muito bem.Antes de chegar à mesa, olho pela grande janela de vidro da minha cobertura, de onde posso ver a enorme cidade cinza. Assim como lá fora, dentro do meu apartamento a decoração é toda em tons frios, pois tenho um amor pelo tom cinza e não queria nada convidativo.Quem gosta e tem peso morto é a minha irmã. Eu nunca a entendi, a Barcella sempre se contentou com pouco. Diferente de mim, ela não foi para a faculdade e muito menos quis sair daquele lugar no meio do nada. Na primeira oportunidade q