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Faíscas nos corredores

As semanas seguintes ao primeiro e turbulento encontro com  Luigi  se desenrolaram numa rotina cuidadosamente orquestrada por Dona Matilde. Jessica  aprendeu rapidamente os meandros daquela mansão gigantesca, que mais parecia um palácio silencioso e frio. Sua eficiência e discrição logo lhe renderam um aceno de aprovação  da rígida governanta, o que, no universo daquela casa, equivalia a um grande elogio.

Jessica se esforçava ao máximo para seguir o conselho principal de Dona Matilde: ser invisível. Movia-se pelos corredores como uma sombra, focada em suas tarefas, evitando cruzar o caminho do patrão. Mas Luigi  era o sol em torno do qual aquele pequeno universo girava; evitar sua presença por completo era impossível.

Os encontros eram breves, fortuitos, mas carregados de uma tensão que deixava Jessica com o coração aos pulos e as mãos úmidas. Um cruzar de olhares no corredor principal – ele a caminho de seu escritório, o rosto fechado em preocupações que pareciam pesar toneladas, ela com um esfregão na mão, tentando se encolher contra a parede. Às vezes, ele passava como se ela fosse parte da mobília cara e impessoal. Em outras, seus olhos castanhos e penetrantes pareciam fixá-la por um microssegundo a mais, um brilho indecifrável passando por eles antes que a máscara de indiferença voltasse ao lugar.

Numa manhã, enquanto servia café no escritório – tarefa que Dona Matilde lhe delegara por confiar em sua discrição –, Luigi estava ao telefone, a voz baixa, mas cortante. Jessica não pôde evitar ouvir fragmentos da conversa. Algo sobre prazos apertados, investidores impacientes, "o nome da família Calegari em jogo". Ele gesticulava, a testa franzida, a mandíbula tensa. Quando ela depositou a xícara fumegante sobre a mesa de mogno, ele ergueu os olhos, a irritação pela interrupção estampada no rosto. Mas então, seu olhar desceu para as mãos dela, firmes ao segurar a bandeja, e subiu de volta para seus olhos. Por um instante, a fúria pareceu diminuir, substituída por... cansaço? Vulnerabilidade? Durou menos que um piscar de olhos. Ele apenas fez um gesto brusco dispensando-a, voltando sua atenção total para a ligação e para os milhões que pareciam estar em risco.

Jessica recuou, o coração palpitando. "Ele carrega o mundo nos ombros", pensou, sentindo uma pontada inesperada de empatia. Sacudiu a cabeça. “Não se meta, Jessica. Ele é o patrão, você, a empregada. Mundos diferentes. Não se esqueça disso.”

Mas era difícil esquecer. Era difícil ignorar a maneira como ele parecia preencher qualquer cômodo em que entrava, a aura de poder que o cercava, o contraste entre sua postura de CEO implacável e os raros vislumbres de humanidade que ela, e talvez apenas ela, percebia. Como na vez em que o viu parado por um instante mais longo diante de um porta-retrato na sala de estar – uma foto antiga, de uma mulher sorridente que não era sua mãe, Jessica sabia. Um resquício de sorriso quase tocou os lábios de Luigi antes que ele suspirasse e retomasse sua marcha apressada.

Jessica tentava focar no trabalho, na necessidade de manter aquele emprego. Pensava na mãe, na casa simples que precisava de reparos, nas contas que não esperavam. Mas a imagem de Luigi Calegari teimava em invadir seus pensamentos. O jeito como o cabelo escuro caía sobre a testa quando ele estava concentrado, o som grave de sua voz dando ordens pelo telefone, o perfume amadeirado e caro que ficava no ar depois que ele passava. Ela se repreendia por notar tais detalhes. Era perigoso. Era tolice.

Dona Matilde, com seus olhos de lince, parecia farejar qualquer desvio da normalidade. "O Sr. Luigi anda mais tenso que o normal", comentou certo dia com Jessica, enquanto inspecionava a prataria. "Pressão da família, sabe? Querem vê-lo casado, um bom partido, alguém do nosso nível, para fortalecer os negócios. Esses jovens ricos..." Ela suspirou, polindo uma colher com vigor. "Ele precisa de alguém que entenda o mundo dele. Não há espaço para distrações." A mensagem, embora não direta, foi clara para Jessica: fique no seu lugar.

E Jessica tentava. Jurava a si mesma que tentaria.

Até aquela tarde chuvosa.

A chuva caía forte lá fora, tamborilando contra as vidraças imensas da sala de música, um cômodo raramente usado, mas que precisava ser mantido impecável como o resto da mansão. Dona Matilde havia pedido uma atenção especial à limpeza do grande lustre de cristal que pendia do teto alto.

Jessica arrastou a pequena escada de mão até o centro da sala. Subiu os degraus com cuidado, segurando o pano macio e o borrifador com o produto específico para cristais. O lustre era magnífico, uma cascata de luz e brilho, mas também era alto. Mesmo no último degrau, precisava se esticar na ponta dos pés para alcançar as peças mais altas.

Concentrada na tarefa, limpando cada pingente com delicadeza, não ouviu os passos abafados pelo tapete espesso. Esticou-se um pouco mais para alcançar um ponto mais difícil, o corpo ligeiramente desequilibrado. O pé escorregou um centímetro na madeira do degrau molhado pelo produto de limpeza. Um pequeno solavanco, suficiente para fazê-la perder o equilíbrio.

Um grito baixo escapou de seus lábios enquanto sentia o corpo tombar para trás. Fechou os olhos, esperando o impacto doloroso contra o chão de mármore.

Mas o impacto não veio.

Em vez disso, sentiu mãos grandes e fortes envolvendo sua cintura, firmes, detendo sua queda no último instante. O choque percorreu seu corpo, não pelo quase-acidente, mas pelo contato inesperado. Abriu os olhos, o coração disparado, a respiração presa na garganta.

Estava amparada nos braços de Luigi .

Ele a segurava com firmeza, o rosto a centímetros do dela. Os olhos castanhos, normalmente frios e distantes, agora estavam arregalados, refletindo a surpresa e talvez o susto do momento. O hálito quente dele tocou o rosto dela. Jessica podia ver cada detalhe de seu rosto – uma pequena cicatriz quase invisível perto da sobrancelha, a sombra da barba por fazer, a intensidade crua em seu olhar.

O mundo parou naquele momento. O único som era o da chuva lá fora e o tamborilar frenético do coração de Jessica contra suas costelas, ecoando o que ela imaginava ser o coração igualmente acelerado dele. O perfume dele a envolveu, mais forte, mais inebriante do que nunca.

Ele a segurava ali, suspensa entre o perigo e a segurança inesperada de seus braços. Ela sentiu o calor das mãos dele através do tecido fino de sua blusa, um calor que parecia se espalhar por todo o seu corpo, acendendo faíscas em lugares que ela nem sabia que existiam. O olhar dele desceu por um instante para os lábios dela, entreabertos pela surpresa, e voltou a encontrar seus olhos. Havia algo ali, algo além da surpresa. Uma faísca. Uma conexão elétrica e inegável que vibrava no ar entre eles.

Foram segundos que pareceram uma eternidade.

Então, como se despertasse de um transe, Luigi a colocou firmemente de pé no chão. Ele deu um passo para trás, recompondo a postura, ajeitando o paletó do terno impecável como se tentasse restabelecer a barreira invisível entre eles. A expressão em seu rosto era uma mistura indecifrável de irritação e... algo mais. Algo que ele parecia lutar para esconder.

"Tenha mais cuidado, Jessica!" A voz dele saiu mais rouca do que o normal, a aspereza habitual ligeiramente atenuada. "Essa escada não é segura para alcançar o lustre. Deveria ter pedido ajuda."

Jessica apenas assentiu, incapaz de formular uma palavra. Sentia o rosto queimar e as pernas tremerem. O lugar onde as mãos dele a tocaram ainda formigava intensamente.

Luigi passou a mão pelos cabelos, um gesto de impaciência que parecia mais direcionado a si mesmo do que a ela. Deu-lhe as costas abruptamente. "Deixe isso por agora. Mande alguém da manutenção verificar essa escada. Preste mais atenção no que faz."

E então, ele saiu da sala de música, deixando para trás apenas o eco de suas palavras e a sensação eletrizante de seu toque.

Jessica encostou-se à parede fria, tentando acalmar a respiração e as batidas do coração. O que tinha sido aquilo? Aquele olhar? Aquele toque? Foi apenas o susto do momento? Ou havia algo mais?

Uma parte dela, a parte sensata, gritava perigo. Ele era o patrão bilionário, inatingível, comprometido com um mundo que jamais seria o dela. Envolver-se, mesmo que apenas em pensamento, era loucura, um caminho certo para o sofrimento e a demissão.

Mas outra parte, uma parte que ela mal reconhecia, sentiu a faísca. Sentiu a conexão proibida, a atração perigosa que faiscava entre eles naquele corredor silencioso, naquele instante em que ele a salvou.

Terminou seu trabalho naquele dia sentindo-se completamente desestabilizada. Mais tarde, ao cruzar com ele novamente no hall de entrada – ele voltando de algum compromisso, ela terminando de limpar um vaso –, seus olhos se encontraram novamente. Desta vez, não houve palavras, nem toques. Apenas um longo olhar silencioso, carregado de todas as perguntas não feitas e das sensações inconfessáveis daquele encontro na sala de música.

A faísca havia sido acesa. E Jessica tinha a terrível sensação de que, por mais que tentasse, seria impossível apagá-la. O jogo perigoso estava apenas começando.

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