A caixa apareceu quando Amanda começou a esvaziar o armário de cima. Estava empurrada para o fundo, coberta de poeira, como se tivesse sido esquecida de propósito. Era de papelão comum, mas Ryan tinha escrito com caneta azul na tampa: “meus guardados”
Ela não procurava nada em específico, só queria livrar-se das sobras dele. Já fazia um mês da morte, e cada detalhe da casa parecia uma pegadinha cruel: o boné jogado no sofá, a escova de dentes ainda úmida de lembrança, a carteira que ela mantinha na gaveta, como se algum documento fosse trazê-lo de volta.
Mas a caixa não era só sobra. Era um buraco.
Amanda a puxou, tossindo com a poeira que se ergueu no ar. Levou para a mesa da cozinha. A luz da tarde entrava pela janela mal lavada e iluminava as marcas de café seco no tampo.
Abriu devagar.
Dentro havia fotos antigas, recortes de jornal, bilhetes. E, no meio deles, um maço de cartas dobradas com cuidado, amarradas com uma fita vermelha já desbotada. O coração dela gelou antes mesmo de