Rahmi Não consigo tirá-la da cabeça. Desde aquela noite, cada pensamento meu converge para ela, como se minha mente tivesse sido sequestrada pela lembrança do seu corpo colado ao meu, dos seus lábios me provocando, do olhar misterioso que me desmontou sem esforço. Já estive com outras mulheres desde então, buscando alguma fagulha que pudesse apagar o fogo que ela acendeu em mim, mas foi inútil. Nada se compara àquela noite. E isso me irrita. Eu, Rahmi, o homem que nunca se apega, que sempre soube separar prazer de sentimento, agora estou preso em uma obsessão que não sei como conter. Nunca pensei tanto em uma mulher antes. Nunca desejei tanto alguém ao ponto de perder o controle sobre mim mesmo. Minha Pérola Negra. Só de pensar nela, meu corpo reage, e isso é um problema. Estou me metendo numa enrascada da qual não posso sair ileso. Porque, por mais que a deseje, eu não posso tê-la. Não devo. Meus pais jamais aceitariam. Não apenas por ela ser negra, mas por ser brasileira. Eles
Rebeca Meses se passaram desde que conheci Rahmi, e, por mais que tente, não consigo arrancá-lo da minha mente ou do meu corpo. É um tormento. Um homem que esteve comigo por uma única noite não deveria ter esse poder sobre mim. Mas tem. O pior de tudo? Sinto falta dele. Não apenas do prazer que me proporcionou, mas da maneira como me olhava, como se me enxergasse de um jeito que nenhum outro homem fez antes. Como se, naquele instante, eu fosse a única mulher no mundo. E talvez seja essa a verdadeira maldição: saber que, por uma noite, experimentei algo que não consigo encontrar em mais ninguém. Tentei seguir em frente. Conheci outros homens, tive outros encontros, mas todos foram decepcionantes. Parece que, depois dele, nada mais me satisfaz. Me pergunto se foi apenas o desejo momentâneo, ou se existe algo mais profundo nesse vínculo que eu me recuso a aceitar. Eu nunca fui do tipo que se apega. Sempre fui dona do meu próprio destino, livre para viver como quiser, sem dar satisf
Rebeca Camila e eu temos a mesma idade, mas só conhecemos nossa amiga caçula, Letícia, algum tempo depois. Ela estava sozinha em um bar, visivelmente triste. Convidamos ela para se juntar a nós e, aos poucos, ela nos contou um pouco sobre sua vida, inclusive sobre o chefe que havia acabado de conhecer. Não precisou dizer que estava apaixonada por ele estava estampado em cada suspiro, no brilho inquieto dos olhos e na forma como falava dele, como se fosse uma promessa feita ao destino. Desde aquele dia, nós três nos tornamos inseparáveis. Mas, ao contrário delas, eu sempre preservei minha independência. Mais tarde, aluguei um apartamento só para mim, apesar das reclamações da Camila. Ela vivia um conforto invejável em um belo apartamento na Vieira Souto, mas eu não queria uma vida que não fosse construída por mim. Ter um espaço que fosse inteiramente meu era essencial. Escolhi um lugar que amava, um bairro vibrante, onde o Bar da Laje se tornou um dos nossos refúgios preferidos.
Camila Liguei para Letícia para saber se Rebeca tinha dado alguma notícia. Desde que descobriu que Rahmi está noivo, ela sumiu. E, para piorar, agora acha que Letícia e eu escondemos essa informação dela de propósito. Mas não foi assim. Só soubemos porque Roberto comentou casualmente sobre o noivado do turco, e Rebeca estava por perto quando ouviu. Foi uma coincidência infeliz, mas ela não quis me escutar. Agora, por causa disso, minha melhor amiga não quer mais falar comigo. Diz que não sente nada por Rahmi, mas sua reação exagerada prova o contrário. Ela está completamente apaixonada por ele, mesmo que não queira admitir. O problema é que ela escolheu se apaixonar justamente por um homem que está a quilômetros de distância, pertencente a uma cultura com costumes rígidos. Sei que nem todos os turcos são preconceituosos, mas a verdade é que muitos ainda têm visões extremamente conservadoras, especialmente quando se trata de relacionamentos. Meu noivo já me contou que os pais de
Letícia A saudade aperta o peito como uma mão invisível, sufocante. Sinto falta da minha amiga, daquela que amo como se fosse uma irmã. Sei que ela está furiosa comigo e com a Camila. O motivo? Um turco maldito que conseguiu bagunçar completamente sua cabeça. Rebeca se apaixonou perdidamente por um homem que mal conhece. Mas quem sou eu para julgar? Estou presa no mesmo labirinto, sentindo um amor absurdo por alguém que, no fundo, nunca me pertenceu. Isso me destrói. O nó na garganta cresce e a vontade de chorar se torna inevitável. Sou chorona por natureza choro até com comerciais de margarina. Mas, dessa vez, não é qualquer lágrima. É dor. Frustração. Eu tinha avisado o Roberto. Ele deveria ter contado logo para Rebeca que o turco era noivo. Se ela soubesse desde o início, talvez tivesse conseguido esquecê-lo mais rápido. Diferente de mim, que estou há dois anos aprisionada nesse sentimento sem solução. Que droga! Ainda estou na empresa, diante do homem que me tira o sono.
Rebeca O som estridente da buzina do carro de aplicativo ecoava pela rua enquanto Camila e Letícia me apressavam. A ansiedade delas era compreensível; estávamos indo para a Lapa, nosso refúgio favorito. Praticamente todos os finais de semana nos encontrávamos ali, longe de qualquer problema e, principalmente, sem namorado ciumento para atrapalhar. Era a nossa zona de liberdade. Chegamos por volta das dez horas da noite, e a movimentação já estava intensa. Gente rindo alto, música pulsando das casas noturnas, cheiro de churrasquinho no ar. Como de costume, não ficamos presas a um único lugar. Nosso ritual envolvia explorar cada canto, absorver a energia do público, sentir a cidade pulsar ao nosso redor. A única exceção era quando íamos ao Rio Quarenta Graus ou ao Carioca da Gema. Nesses, o Roberto sempre fazia questão de se acomodar, tomando sua cerveja gelada e evitando qualquer tentativa de nos acompanhar na dança. Ele preferia observar, no canto, enquanto o resto da noite acon
Rebeca Quando acordei, o sol já começava a se despedir. Olhei o relógio: quase quatro da tarde. Suspirei e me levantei, sentindo o corpo um pouco pesado pelo excesso de sono. Fui até a sala e encontrei Letícia e Camila largadas no sofá, com expressões de puro cansaço. — Vocês estão bem? — perguntei, estranhando o silêncio delas. — Noites ruins — Letícia murmurou, cobrindo os olhos com o braço. — Pelo visto, eu dormi por nós três — comentei, tentando aliviar o clima. Letícia então se ajeitou e disse que estavam esperando por mim para comer. Meu estômago roncou na mesma hora, e seguimos para a mesa, onde Nana já havia deixado tudo pronto. O almoço transcorria em um silêncio incômodo. As meninas trocavam olhares discretos, claramente hesitantes em dizer algo. Minha paciência se esgotou. — Vocês vão me contar o que está acontecendo ou eu tenho que adivinhar? Camila suspirou e abaixou os talheres antes de me encarar. — Rebeca… O Turco ficou noivo. O garfo escorregou dos meus ded
Rebeca Subi as escadas e fui direto para o banho. A água quente deslizou pelo meu corpo, relaxando os músculos tensos após mais um dia lidando com minha família. Enxuguei-me rapidamente, vesti uma roupa confortável e desci para ajudar minha mãe na cozinha. — Prontinha para ajudar, dona Raíssa! — anunciei, tentando aliviar o peso do dia com um pouco de leveza. Lavei a louça, ajudei no preparo do almoço e, depois de comermos juntos, meus pais foram tirar a tradicional soneca de domingo. Eu gostava desse momento de calmaria na casa, mas a paz nunca durava muito tempo quando se tratava dos meus irmãos. Eles estavam se aprontando para sair, ignorando completamente o fato de que ainda havia louça na pia. — Para onde vocês vão? — perguntei, cruzando os braços. — Vocês sabem que é domingo, não fazem nada o dia todo e ainda querem sair sem ajudar? Lave a louça agora. Um de vocês seca. É sério, ainda não entenderam que precisam colaborar? Mamãe cuida de tudo sozinha! Eles trocaram olhares,