3 - Um pacto silencioso

Vittoria sente o estômago revirar, como se cada palavra dele ecoasse por dentro com o peso de uma sentença inevitável.

As pernas fraquejam, o corpo cede, e por um instante ela quase desaba. Quase, porque, em uma ironia e impiedosa, são os braços do próprio homem que a ameaçam que a seguram.

Como se o próprio destino quisesse deixar claro, uma última vez, quem realmente estava no controle.

— Você foi feita para estar nos meus braços, diga sim, bella. — Vincenzo murmura, ajeitando-a no altar com a mesma calma de quem sabe que já venceu, cada gesto seu marcando território, como se selasse um destino que não pode mais ser evitado.

Vittoria busca o olhar do pai, como um grito mudo por socorro, um último apelo contra o destino que a cerca.

Mas, no fundo, mesmo antes que ele diga qualquer coisa, ela já sabe, só existe uma resposta para o que Vincenzo propôs. E não é liberdade.

— De jeito nenhum, irei permitir isso. — Alfonso brada, puxando Vittoria com força para junto de si, como se ainda pudesse protegê-la do inevitável. — Você só encosta nela passando por cima do meu cadáver e juro por Deus, vou fazer questão de levar você comigo.

— Que assim seja, então. — Vincenzo responde, sem alterar o tom, levando a mão ao coldre e puxando a arma com precisão. 

— Mande um abraço para o Rocco, no inferno! — Alfonso vocifera, com os olhos em chamas e o ódio transbordando, enquanto aponta a arma para o homem que ousou provocá-lo. 

— Papai, não! — Vittoria grita, avançando de súbito e se colocando entre Alfonso e Vincenzo, o corpo trêmulo erguido como um escudo humano. — Ele está com o Giuliano! — Sussurra, e suas palavras explodem no ar como um disparo mudo.

O olhar de Alfonso se arregala, o dedo vacila no gatilho e, por um instante, tudo ao redor parece congelar.

— Preciso fazer isso. — Declara, a voz embargada, quase engasgada, enquanto luta para conter as lágrimas e a própria queda. 

— Ah, seu maldito. — Alfonso rosna, empurrando Vittoria para trás com um gesto instintivo, os olhos cravados em Vincenzo como lâminas. — Pode transformar isso aqui em um inferno, em um mar de sangue, se quiser, mas uma coisa eu te garanto: você não sairá vivo daqui.

— Então, termine logo com isso. — Vincenzo provoca, o sorriso cínico marcando os lábios como uma cicatriz de arrogância. — Mas saiba de uma coisa, ainda restarão Lucchese suficientes para acabar o que comecei.

Mantendo a postura provocativa, Vincenzo guarda a arma no coldre com a mesma calma de quem encerra um jogo, como se toda aquela tensão não passasse de uma brincadeira para ele.

Um sorriso se desenha em seus lábios. Mesmo após anos afastado, bastaram poucos minutos para perceber que nada havia mudado.

Os Dons das famílias, agora rivais, traidores do sangue Lucchese, continuavam agindo como ratos, escondidos nas sombras do próprio medo.

Vincenzo sabia: não importa o que fizesse, eles não ousariam atacá-lo ali, não diante de todo o Conselho.

Não quando cada gesto impensado deles só lhe entrega mais poder, a justificativa perfeita para acender o estopim de uma guerra sem precedentes e reduzir a pó tudo o que passaram décadas construindo.

— Vittoria, volte para o altar. — Vincenzo ordena, a voz baixa e cortante, quase entediada, como se, no fundo, tivesse esperado mais, mais resistência, mais ação, mais espetáculo. 

Vittoria suspira, os olhos percorrendo o salão em busca de algo, qualquer coisa, que a fizesse recuar.

Por um breve instante, seu olhar encontra o de Enzo, o homem que namorou por seis meses, com quem estava prestes a se casar por dever, não por escolha. 

Mas agora, diante de tudo, aquela passividade a atinge como um golpe seco no peito. Porque, no fundo, talvez ela ainda guardasse a esperança de ver algo, qualquer coisa.

Um gesto. Um impulso. Um resgate. Mas tudo o que encontra é o mesmo silêncio vazio de sempre e o medo estampado nos olhos dele.

E naquele instante, não restam dúvidas: Enzo jamais será um homem de verdade, não diante do que o mundo exige, e muito menos diante dela.

— Tudo bem, papai. — Vittoria murmura, aproximando-se devagar e parando ao lado dele, com os olhos marejados e a alma em pedaços. — Posso fazer isso, só preciso da sua bênção. — Sussurra, inclinando a cabeça com lentidão, em um gesto de rendição que carrega mais dor do que qualquer lágrima.

— De jeito nenhum. Prefiro ver esse lugar em chamas a te entregar para ele. — Alfonso declara, erguendo o rosto da filha com delicadeza, como se tentasse protegê-la com o toque. — Você não irá fazer isso, filha. Não enquanto eu estiver de pé, não enquanto eu for seu pai.

— O senhor quer uma cadeira, Don Alfonso? — Vincenzo pergunta, com um sorriso debochado dançando nos lábios, claramente se divertindo com a própria provocação. — Isso irá acontecer. Quer o senhor aprove, ou não. Porque tudo o que tem são palavras e, se me permite a honestidade, eu preferia que fossem munições. — Acrescenta, puxando Vittoria de volta ao altar com a mesma naturalidade de quem recoloca algo no lugar a que pertence. — Vamos encerrar isso. — Completa, voltando-se para o padre com frieza. — Prossiga. 

— Tudo bem, papai. — Vittoria sussurra, a voz mal saindo, enquanto lentamente se posiciona no altar. — Pode começar. — Completa, com um leve movimento de cabeça em direção ao padre.

— Estamos aqui reunidos sob os olhos de Deus. — O padre começa, a voz trêmula, vacilando diante da atmosfera sufocante ao redor. — Para unir, em sagrado matrimônio, Vittoria De Angelis…  

— Essa parte já conhecemos, padre. — Vincenzo interrompe, a voz firme e impaciente, como quem conduz uma reunião e não uma cerimônia. — Poupe o teatro, vá direto ao “aceita ou não”. 

— Vittoria De Angelis, filha de Don Alfonso, você aceita este homem como seu legítimo esposo? Promete honrá-lo, protegê-lo, ser-lhe fiel, em nome de Deus e dos pactos que aqui se firmam diante dos homens?

Vittoria mais uma vez percorre o jardim com o olhar, como quem tenta encontrar algum vestígio de certeza, mas tudo o que encontra é o vazio.

Não há escolhas, somente um pacto silencioso com o homem que, agora, diante dela, já não parece humano, mas a própria encarnação do diabo. 

— Sim. — Vittoria responde, a voz embargada, carregada de tudo o que ela não pode expressar.

O peito aperta, as mãos tremem, mas ela permanece ereta, o olhar fixo.

Porque, diante dele, mesmo em ruínas por dentro, ela se recusa a ceder. Não importa o que aconteça, Vincenzo nunca verá sua fraqueza.

— Don Vincenzo Lucchese, filho de Don Rocco, você aceita esta mulher como sua legítima esposa? Promete honrá-la, protegê-la, ser-lhe fiel, diante de Deus e dos pactos que aqui se firmam diante dos homens?

— Sim. — Vincenzo responde, sem pestanejar. Um sorriso vitorioso se desenha nos lábios, frio e satisfeito, como se selasse, ali, não um casamento, mas uma conquista irrevogável.

— Pelo poder a mim concedido por Deus e pela Santa Igreja, eu vos declaro marido e mulher. — Declara o padre, a voz embargada, quase sufocada pela tensão que paira no ar. — Pode beijar a noiva. — Conclui, com um tremor discreto, como se soubesse que acabou de abençoar não uma união, mas um pacto selado à sombra do medo.

E, como se as palavras do padre fossem uma ordem incontestável, Vincenzo dá um passo à frente.

Suas mãos envolvem a cintura de Vittoria com firmeza, e no mesmo instante, o corpo dela reage, tentando recuar, se afastar, fugir.

Mas ele não permite. 

E, então, seus lábios tomam os dela com a força de quem não solicita, toma. O gesto é firme, calculado, indiscutível.

Não há ternura, somente controle absoluto. É um beijo de domínio, de posse declarada diante de todos.

Para ele, a assinatura final de uma vitória anunciada. Para ela, o beijo da morte, amargo, inevitável, como se naquele instante tudo o que era seu tivesse sido arrancado sem retorno.

— Bem-vinda ao inferno, signora Lucchese. — Vincenzo sussurra, ao ouvido de Vittoria, com um sorriso lento e perigoso, como se o altar fosse somente o prelúdio de algo muito mais sombrio.

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