Enya

Comi a sopa da Bruna como quem cumpre pena. O gosto? Nenhum. Só uma mistura morna que descia rasgando e voltava numa náusea teimosa.

Na cabeça, um looping de tudo que tinha acontecido nas últimas semanas. Grávida. Pedido de casamento. Sapatinho de bebê. Meu nome circulando nos grupos da faculdade como se eu fosse protagonista de reality show. A irmã? Sumida. O medo? Grudado na pele igual suor de febre.

Peguei o celular e, pela primeira vez em dias, resolvi ser eu a mandar mensagem pra Nádia. Doeu só de abrir a conversa.

"Oi, irmã… como você tá? Tô com saudade…"

Sem resposta.

Pensei, repensei… e, num impulso meio bobo, anexei a foto do sapatinho que o Érico tinha me dado.

Demorou tanto que eu já tinha até largado o celular de lado quando a notificação chegou.

"Eu vou indo. E você?"

Seca. Rasa. A cara dela.

Respirei fundo, engoli o orgulho e respondi:

"Peguei uma virose… passei o dia com febre. Mas já tô melhorando."

A resposta dela veio quase automática:

"Se cuida."

Ponto. E nada