Capítulo 04

Erick

A polícia localizou o número da minha casa porque é o trabalho da Elisa e por obra do destino, fui o encarregado de lhe dar a pio notícia que alguém poderia receber. E ao dizer essas palavras, vi uma Elisa que sempre foi cheia de energia, de brilho e felicidade desmoronar na minha frente.

— Não... Não é possível, ontem à noite, ele estava tão... Tão bem.

Pensei em questioná-la se ela o viu somente na noite anterior, mas não achei sensato. Será que eles não tinham um bom casamento?

— Eu... Eu não tenho como pagar um velório digno para ele...

— Não se preocupe com isso, Elisa. Irei bancar todos os custos.

— Obrigada, Sr. Toriccelli.

Saí da minha mesa e lhe abracei com cuidado, apenas sentindo seu doce aroma. Quem diria que eu sentiria compaixão por uma louca que atropelou meu filho, mas estava completamente errado sobre a Elisa. Ela é doce e meiga, não merecia estar passando por isso.

Ela se afastou de mim e ficamos nos olhando por alguns instantes, até que Paulo, meu melhor amigo entrou em meu escritório. Elisa saiu e ficamos conversando.

— Então, ela é a sua babá?

— Babá dos meus filhos, você quiser dizer.

— Já sei onde isso vai dar, dom Juan.

Revirei meus olhos.

— Ela acabou de perder o marido.

— Desculpa, Erick, mas qual é o nome dele?

— João Sérgio de Oliveira, por que?

— Nada. Devo ter visto algo no jornal.

Percebi meu amigo estranho, mas não quis dizer nada.

***

Após ter realizado tudo para que o falecido marido da Elisa tivesse uma cerimônia fúnebre respeitosa, participei mas fiquei no canto do cemitério. Não acharia de bom tom incomodá-la em um momento como esse.

No entardecer daquele dia, Elisa com seu vestido preto se aproximou de mim e me agradeceu com seu jeitinho doce.

— Muito obrigada por tudo, Erick! Sei que esse não é o momento e nem o local certo, mas vou voltar para Rezende.

Minha vontade era de me ajoelhar diante dela e implorar para que fique, mas não faria o mínimo de sentido e não seria adequado de acordo com as circunstâncias.

— Se quiser ficar, Elisa seu cargo estará te esperando.

Elisa sorriu docilmente e respondeu com um certo pesar em suas palavras:

— Obrigada, Erick!

***

Naquela noite, coloquei meus filhos para dormir em seu quarto que Caio dividia com a Carlinha, meu filho perguntou com inocência e alegria:

— Amanhã a tia Elisa volta?

Surpreendendo a mim mesmo, essa pergunta me pegou de um jeito meio inexplicável. A ideia de não ver mais aquela moça tão desastrada, mas ao mesmo tempo estava me deixando desnorteado e não sei porquê.

Sentei-me na cama do Caio e Carlinha ficou ao lado de seu irmão, foi o momento certo para contar:

— Meus amores, a Elisa foi embora.

Nós três nos abraçamos e choramos. Não poderia explicar, mas estava começando a sentir algo por aquela moça.

***

No dia seguinte, fui para a Aurora, minha editora e eu tinha uma reunião muito importante com alguns patrocinadores para podermos abrir a filial. Um deles era o senhor Oswald Smith, um excelente profissional e reconhecido empresário que no meio da reunião, anunciou com autoridade:

— Eu poderia fechar negócio com você, Erick, pois tem reconhecimento e ética, mas por ser viúvo tenho minhas ressalvas.

— Como assim? — perguntei com certa irritação.

— Eu costumo trabalhar com pessoas de famílias consolidadas.

Puta que pariu!

Neste momento, apareceu como se fosse um milagre, Elisa que quebrou o vaso de canto da sala da reunião. Eis que eu tive uma ideia muito errada, mas que se fez necessária, levantei-me da mesa e a peguei pela cintura.

— Pois bem, quero apresentar minha noiva, Elisa Santos.

— Oi?!

— Queríamos comunicar com uma festa, mas já que o senhor perguntou — na verdade, impôs, mas isso eu não falei — estou perdidamente apaixonado por Elisa.

— Estamos apaixonados? — perguntou, Elisa com desconfiança.

Não foi certo, mas para calar todos ali da sala, inclusive Elisa lhe beijei. E foi um beijo muito bom, para o meu desespero. Nossas línguas se envolveram em uma dança provocante e não consegui controlar meu desejo, mas Elisa sim.

— Sim, estamos apaixonados — Elisa confessou com um sorriso maroto.

***

Depois que Oswald Smith foi embora, percebi Elisa meio hesitante após nosso beijo. Obviamente porque não era algo combinado, foi uma surpresa e ouso dizer que foi algo inacreditável até para mim.

Elisa é... Doce, linda e minha babá, certamente.

— Posso perguntar o que foi isso, Sr. Erick Toriccelli?

Segurei seus ombros com gentileza e fui totalmente sincero com Elisa:

— Oswald Smith é um mega empresário que sua sociedade pode impulsionar os negócios da minha editora. Ele e Megan Smith, sua esposa são excelentes pessoas, mas extremamente conservadores. Não fazem negócios com pessoas que não tenham famílias consolidadas ou que estejam se encaminhando para isso, como eu sugeri que estava acontecendo com a gente.

Elisa ficou em silêncio por um tempo e perguntou com um pouco de incredulidade:

— E o senhor quer que.... a gente....?

— Apenas por um tempo. Será uma farsa para agradar os americanos, apenas isso. Não nos envolveremos e não vou te obrigar a nada.

Elisa sentou-se na minha frente, usando seu vestido preto de luto e talvez não seria seu melhor traje, mas de alguma forma, ela fica linda vestindo qualquer roupa.

Digo...

— Sr. Toriccelli, desculpa, mas não posso aceitar.

— Não? Por quê?

— Sr. Toriccelli, estou de luto pelo meu marido e essa situação só beneficiaria só o senhor. O que eu ganharia com isso?

— Ora essa, minha eterna gratidão.

Elisa riu escandalosamente e falou sem tanta ingenuidade assim:

— Gratidão não paga contas, Sr. Toriccelli.

— Certo. O que você gostaria?

— Um apartamento, um carro. Ah, e um salário maior.

— Justo, Elisa.

Ela levantou-se e saiu do meu escritório.

Me permiti afundar em minha poltrona.

Elisa, Elisa. Como vou me manter imune ao seu efeito?

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